HÁ CADA VEZ MAIS
CRIANÇAS COM SOLIDÃO
Javier Urra alerta
para os afectos
As crianças são hoje mais solitárias do
há umas décadas atrás. Não jogam futebol na rua, deixaram de correr e já
não discutem com as outras crianças situações do seu dia a dia como as
próprias brincadeiras em conjunto. A constatação, simultaneamente um
alerta, chega do psicólogo clínico e forense espanhol Javier Urra que
participou este mês, no “XXI Encontro sobre a Criança, seu
desenvolvimento e integração no meio” que teve lugar em Castelo Branco.
Promovido pelo Centro Distrital de Desenvolvimento da Criança e pelo
Hospital Amato Lusitano, este encontro reuniu um conjunto de outros
especialistas que ao longo do dia se centraram em diferentes aspectos
dos “(Des)Afectos”, o tema central em debate na edição deste ano.
Javier Urra, por seu lado, destacou como mais importante em toda esta
problemática o facto de “para educar o essencial ser o vínculo, o
afecto, o carinho”. “Transmitir o afecto é fundamental”, insistiu. Isto
porque, como também destacou, “há hoje em dia uma distorção muito grande
sobre o que é a juventude”. E daí que tenha alertado para os cuidados a
ter “com as modas”, mesmo as modas clínicas de “ver problemas em tudo”.
Para este especialista, também escritor e responsável por um conjunto de
instituições do país vizinho ligadas às crianças e aos jovens, “uma
criança que corre muito não tem necessariamente um problema”, antes
devem, como defende, “as crianças andar pelo campo a correr, a olhar o
céu porque o espírito do esforço dispendido no campo é essencial para a
formação dum indivíduo”.
Falando para uma plateia “de entendidos”, como destacou o próprio, Urra
lamenta que “muitas vezes quem tem de ouvir estas coisas não o faça e a
mensagem não lhe chegue”. Mas, ainda assim, citando um recente estudo
europeu sobre a matéria, disse que “as crianças portuguesas e espanholas
normalmente são mais felizes que as do resto da Europa, sobretudo as do
Norte, porque vivem em família e ainda desfrutam da companhia e dos
afectos dos avós”, um aspecto de capital importância quer na formação
quer na segurança.
“Mais pastilhas e mais leis são as soluções encontradas pela sociedade
actual para tudo”, alertou, procurando chamar a atenção para a
necessidade de “ensinar as crianças a moverem-se na dúvida e no conflito
porque a vida é muitas vezes dúvida e conflito, a vida é um dilema”.
Outro dos temas que diz estar a “ser retirado” às crianças é a morte.
“As pessoas têm de ser o que são, não há super-homens nem
super-mulheres, por isso também não deve haver super-protecção”, deixou
claro.
Neste universo de questões, rir é também importante: “O sentido de humor
é essencial… hoje as pessoas vão pelo mundo como se fossem muito
importantes, o humor ajuda a sensibilizar a sociedade”. Tal como a auto
estima. “Há quem não saiba dizer nada de positivo dos seus filhos e isso
é terrível” e, por outro lado, “é muito mau que as crianças se habituem
a ter tudo”.
Habituado também a lidar com jovens criminosos e delinquentes, este
especialista opina que “primeiro a sanção e depois o trabalho” retiram a
quem passa para o outro lado “a sensação de impunidade que muitas vezes
campeia”. Neste capítulo, os critérios têm de ser claros, porque como
Javier Urra refere “para educar é preciso ter autoridade, mas sobretudo
o exemplo”. E, neste sentido, “a educação pode tudo, ou quase tudo”.
Também aqui a natureza assume um papel decisivo. Urra cita um filófoso
quando diz que “o grande risco do ser humano é perder o contacto com a
natureza” para se mostrar contra o facto de as crianças serem entregues
à Internet ou aos jogos de vídeo. “Isso é muito perigoso”, sublinha.
Alertando para os perigos daquilo a que designou como “a síndrome da
alienação parental” que considera em crescimento na sociedade actual,
concluiu uma extensa intervenção dizendo que “as crianças têm sempre de
saber onde estão os limites” e que “há pais que não são adultos… para se
ser pai tem de se assumir a responsabilidade e hoje toda a gente tem
mais a mania de querer parecer jovem”.
José Júlio Cruz
JORNADAS PEDAGÓGICAS
Avaliação de
professores é burocrática
"A avaliação de desempenho dos
professores não deve ser vista como uma ameaça, mas como uma
oportunidade". As palavras são de João Ruivo, um dos prelectores nas
XVII jornadas pedagógicas organizadas pela secção de Castelo Branco da
Associação Nacional de Professores, nos passados dias 18 e 19 de Abril,
com o apoio do Ensino Magazine.
No entender daquele investigador, vice-presidente do Instituto
Politécnico de Castelo Branco, "infelizmente a avaliação de desempenho
de professores é muito semelhante ao Siadap - Sistema Integrado de
Avaliação da Administração Pública". João Ruivo considera mesmo que "o
sistema além de muito burocrático, integra um regime de quotas para os
patamares mais elevados, o que pode vir a encher os Tribunais com
recursos administrativos". Aquele responsável adiantou ainda que "as
fichas de avaliação contêm erros científicos em alguns itens".
João Ruivo apresentou ainda os diferentes modelos teóricos de avaliação
de professores que têm sido desenvolvidos na Europa e nos Estados
Unidos, tentando explicar qual o modelo que melhor se aproximaria com a
realidade dos professores e das escolas portuguesas.
Parte das críticas apontadas por João Ruivo foram também referidas por
José Manuel Silva, director da Escola Superior de Educação de Leiria.
"Estamos perante um sistema burocrático, que não responde àquilo que
deve ser a avaliação", assegurou. O investigador questionou ainda o
facto da comunidade académica "não se pronunciar sobre esta matéria.
Frequentemente ouvimos dizer que os professores nunca foram avaliados,
quando a avaliação sempre existiu". De resto, Ideias Mendes, da direcção
nacional da ANP, sublinhou isso mesmo na primeira intervenção das
jornadas. "Os professores têm sido avaliados desde a monarquia". O
dirigente da Associação nacional de Professores explicou o modelo de
avaliação preconizado pelo Ministério, acusando-o de "muito burocrático.
São muitos os papéis e muitas as reuniões que este processo obriga".
FESTIVAL DE MÚSICA DA
BEIRA INTERIOR
Scutvias dá cultura
A Academia de Música e Dança do Fundão
realizou, no passado dia 10 de Maio, no Teatro Municipal da Guarda, o
Quarto Concerto do III Festival de Música da Beira Interior, promovido
pela Scutvias, empresa concessionária da A23.
O espectáculo, com recurso às raízes culturais, pretendeu homenagear
aqueles que têm contribuído para o desenvolvimento cultural desta
região. Através da música dos "Pedra d' Hera" com "roupagem" orquestral,
criou-se um espectáculo em que na primeira parte, através da dança,
relembrou-se o trabalho da terra. Na segunda parte através do canto, da
música, da cor e do movimento apresentou-se um conjunto de dez canções
infantis originais em que, como diz Maria Antonieta Garcia: "a terra e o
chão da Beira, os bichos, os frutos, as cores, os sentires são o
sustento primário deste canto".
CASTELO BRANCO
Galeria de Arte na
cidade
102-100 Galeria de Arte é um novo
espaço dedicado à arte, que inaugurou este mês em Castelo Branco. A
galeria situada no núcleo histórico da cidade, pretende afirmar-se como
espaço de produção e divulgação da arte contemporânea e da cultura, sem
esconder o objectivo comercial.
Entre as acções que a 102-100 pretende desenvolver, destacam-se a
apresentação de exposições dos mais significativos artistas portugueses,
integrando nomes estrangeiros; contribuir para dinamizar actividades e
expressões culturais associadas às artes plásticas, com alargamento a
novos públicos; colaborar com as instituições públicas e privadas da
cidade e região na divulgação da arte ; promover o lançamento de
publicações e catálogos com textos de autor, mobilizando para o projecto
os principais agentes e protagonistas da arte contemporânea em Portugal.
A exposição que se encontra patente de momento enquadra nomes como o de
José Loureiro, João Louro, Daniel Malhão, Miguel Palma, Julião Sarmento,
Noé Sendas, Augusto Alves da Silva e Rui Toscano. Toda a informação
sobre a 102-100 Galeria de Arte, está disponível no site
www.102-100galeria.com .
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