Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº124    Junho 2008

Cultura

GENTE & LIVROS

Al Berto

E ao Anoitecer

e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia.

 

O poeta português Alberto Raposo Pidwell Tavares – de pseudónimo Al Berto – nasceu a 11 de Janeiro de 1948, em Coimbra. A adolescência e a infância decorrem em Sines, de onde sai para ingressar na Escola Secundária Artística António Arroio em Lisboa. Em 1967 parte para Bruxelas, estudar pintura na École Nationale Supérieure d‘ Architecture et des Arts Visuels.

A grande mudança acontecia em 1971 ao dedicar-se exclusivamente à Literatura. Al Berto regressa a Portugal em 1974 – dando por terminado o exílio Belga - e 3 anos depois publicava a primeira obra poética À Procura do Vento no Jardim de Agosto (1977). Não mais deixará de escrever e publicar, vencendo em 1987 o Prémio de Poesia do Pen Clube com a obra O Medo/Trabalho Poético (1976-1986). As incursões na prosa resultaram em obras como Lunário (1988); e O Anjo Mudo (1993).

Morre a 13 de Janeiro de 1997, deixando incompletos textos para uma ópera e um livro de fotografia sobre Portugal. Também ficaria por concluir, o que o próprio poeta chamava, a sua falsa autobiografia.

Da sua bibliografia fazem parte: Trabalhos do Olhar (1982); O Último Habitante (1983); Salsugem (1984); O Livro dos Regressos (1989); A Secreta Vida das Imagens (1991); Luminoso Afogado (1995); e Horto de Incêndio (1997).

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

Dom Quixote. O Homem Lento, de J.M. Coetzee. Após sofrer um acidente, Paul Rayment muda a forma de ver a vida começando a preocupar-se com as questões universais que definem a raça humana. O que é que dá significado á vida? Ou como classificar o lugar a que chamamos casa? Prémio Nobel da Literatura em 2003, Coetzee oferece-nos uma história magnífica sobre o amor e a mortalidade.
 

 

Cavalo de Ferro. Jardins de Kensington, de Rodrigo Fresán. Ao longo de uma noite fantástica, o famoso autor de livros infantis, Peter Hook, conta a história da sua vida. Uma infância marcada pelos pais, entre personagens como Bob Dylan, John Lennon e Kubrick, e os acontecimentos trágicos que o levam a refugiar-se no mundo mágico de Peter Pan, e a desenvolver uma obsessão pelo seu criador, o escritor J.M. Barrie.
 

 

Europa-América. Galileu, de Michael White. Figura central da Revolução Científica, a vida e a obra de Galileu são profundamente investigadas e integrados no contexto de uma época em que os caminhos da ciência se cruzavam com os da religião, de forma perigosa. A Contra-Reforma e a Guerra dos Trinta Anos surgem como pano de fundo para os acontecimentos que conduziram à denúncia, como herético, de um homem genial.
 

 

Difel. O Homem, a Orquídea e o Polvo, de Jacques Cousteau e Susan Schiefelbein. O nome de Jacques Cousteau ficou para sempre ligado à vida dos oceanos como o seu mais famoso explorador. Aqui se relatam as suas aventuras e se divulga um apelo clarividente e apaixonado, em defesa dos mares, e das espécies que nele habitam. A mensagem deste livro faz hoje ainda mais sentido do que em 1996, ano em foi terminado.
 

 

Gradiva. Um Universo Diferente – reiventar a Física na era da emergência, de Robert B. Laughlin. O autor, Prémio Nobel da física, defende neste livro que a impossibilidade de experimentação das recentes teorias da Física nunca ira conduzir ao «fim da ciência». Apresenta razões pelas quais a actual forma de pensar a Física precisa ser reavaliada, defendendo que os seus maiores mistérios não estão nos confins do universo, mas bem próximo de nós.
 

 

Presença. A Arte Tibetana de Viver, de Christopher Hansard. A medicina tibetana convida-nos a percorrer o caminho do auto-conhecimento. Mas todo o caminho encerra dificuldades - sobretudo tratando-se de um percurso interior - e só o equilíbrio entre corpo, mente e alma são garante de saúde e bem-estar. Este livro procura ser um guia, na busca tão sagrada da felicidade.
 

 

Piaget. As Orientações Educacionais dos Professores de Educação Física e o Currículo Institucional, de Fernando Viera. O Estudo teve como objectivo analisar as orientações Vocacionais de 190 professores de Educação Física e entender como estas influenciam na interpretação e operacionalização dos Programas Nacionais de Educação Física.
 

 

Gatafunho. Um Livro Sobre Desenho – Complicar não Melhora Nada, de Mark Gonyea. Desenhar é ter a percepção do tamanho, da forma e da cor. Utilizando formas, traços, cores simples, muitos exemplos e sentido de humor percebemos porque fazer coisas complicadas não nos ajuda a conseguir o melhor desenho. Um livro imperdível para os mais novos, que o autor dedica à sua cor preferida: o azul.
 

 

Campo das Letras. Os Media em Portugal nos Primeiros Cinco anos do Século XXI, de Manuel Pinto e Sandra Marinho – org. Os Media são agentes de produção de informação, cultura e entretenimento mas o que é que eles dizem sobre eles mesmos? A que problemas dão visibilidade, e que aspectos silenciam? Um contributo importante para a compreensão crítica dos media, nos primeiros anos do novo século.
 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Sidney Pollak

O cinema perdeu mais um dos seus maiores. Desta feita a morte levou Sidney Pollack, actor, realizador e produtor com uma carreira de mais de 40 anos. Cheia.

Nascido em Lafayette, Indiana, a 1 de Julho de 1934, este americano descendente de uma família de judeus russos, cedo se interessou pela arte de representar tendo ingressado em 1952 no “The Neighborhood Playhouse School of the Theatre” em Nova Iorque, onde foi aluno e depois assistente, de Sanford Meisner, um dos mais respeitados professores de representação, ao nível de Stella Asler e Lee Strasberg, e, tal como estes, inspirado nos ensinamentos de Stanislavsky.

Como actor começou pela televisão onde entra em várias séries, de “Hitchcock Apresenta”, a “The Twilight Zone” passando por “Playhouse 90”, onde actuou nos dois episódios de “For Whom the Bell Tolls”, onde foi dirigido por John Frankenheimer. Ainda para o pequeno écran realiza vários episódios de diversas séries entre 1961 e 1965. No cinema estreia-se em 1962 no filme de Denis Sanders “War Hunt”, onde tem como colega Robert Redford, com o qual irá fazer uma mão cheia de filmes. Mais recentemente pudemos vê-lo em “The Players” (1992), de Robert Altman, “Husbands and Wives” (1992) de Woody Allen, “Eyes Wide Shut” (1999) de Stanley Kubrick e mais recentemente em “Michael Clayton” (2007), de Tony Gilroy.

Porém é sobretudo como realizador que Sidney Pollack será recordado. A começar por “Àfrica Minha”, de 1985. Nomeado na altura para 11 Oscares da Academia, arrebatou 7, entre os quais os de melhor filme e melhor realizador, o único de Pollack. Falar de “África Minha” seria um enfado, tantas as loas tecidas ao filme ao longo dos tempos que, a par de “Tootsie”, de 1982,constituem os dois maiores êxitos do realizador. Este último, apesar das 10 nomeações, só Jessica Lange ficou com a estatueta de melhor actriz secundária, curiosamente numa nomeação em que outras das candidatas era Teri Garr, no mesmo filme. Recordar aqui uma imensa interpretação de Dustin Hoffman como Tootsie, apeado da estatueta por Ben Kingsley em “Gandhi”, de Richard Attenborough o grande vencedor desse ano. Para que conste Pollack afirmou que se fosse ele a atribuir o Óscar ele iria para Tootsie. Elementar.

Para além da sua óbvia qualidade e mérito, “Africa Minha” é também uma das várias parcerias de Pollack com Robert Redford iniciada quando ambos eram actores. Com “A Flor à Beira do Pântano” (This Property is Condemned), de 1966, o realizador chama pela primeira vez para dirigir o actor sob as suas ordens numa menos conseguida adaptação da peça de Tennessee Williams, com Natalie Wood a contracenar com Redford. “As Brancas Montanhas da Morte” (Jeremiah Johnson), de 1973 e “O Cowboy Eléctrico”, incursões de Pollack pelo Oeste, o dos espaços amplos, um pouco como África, lugares onde os seus heróis não vergam à primeira contrariedade, nem temem desafios. Serão estes alguns dos pontos chave do cinema de Pollack, intimista, mas interventivo, que são observáveis em “Os Três Dias do Condor”, de 1976, ainda com Redford, nos meandros da CIA ou em “A Firma”, de 1993, com Tom Cruise a ter que lidar com as ligações à máfia da firma de advogados que o convidou para os seus quadros.

A carreira do Pollack na realização inicia-se em 1965 com “The Slender Thread” (Chamada para a Vida). Mas é em 1969 com “Os Cavalos Também se Abatem” (They Shoot Horses, Don’t They?), um retrato da América através de uma visão crua das maratonas de dança, os reality shows dos anos da grande depressão, onde hostes de desesperados e falhados procuram o seu momento de glória ou simplesmente qualquer coisa para comer. Numa filmografia onde abarcou vários géneros, Pollack também teve momentos menos felizes como aquele do remake de “Sabrina”, de Billy Wilder, um nebuloso “Bobby Deerfield”, um biopic de um corredor de automóveis interpretado por Al Pacino ou mesmo o “Cowboy Eléctrico” ou “Havana”, a sua última parceria com Redford. Apesar de tudo grãos de areia na engrenagem de um criador que em 1999 nos dera mais uma obra intimista, “Encontro Acidental” (Random Hearts), segunda colaboração com Harrison Ford. Depois mais uma alfinetada institucional na secreta com “A Intérprete”, com Nicole Kidman e Sean Penn, este de 2005, ano de que data o seu último trabalho, “Sketches of Frank Gehry”, sobre esse mesmo, o arquitecto do Parque Mayer, um documentário. Quando o cancro o surpreendeu produzia alguns filmes, faceta em que também foi grande.

Quando escrevíamos estas linhas soubemos da morte de outro grande mestre, este italiano, Dino Risi. Razão tinham os latinos quando sentenciaram “Ars Longa Vita Brevis”.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

Uma mão contra a exclusão

Porque o trabalho das crianças é aprender, nos próximos dias 2 e 3 de Julho o PETI (Programa para a Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil) celebra, em Santa Maria da Feira, 10 anos de combate à exploração do Trabalho Infantil, um esforço conjunto do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e do Ministério da Educação. Paralelamente, e envolvendo todas as 138 turmas PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação), de norte a sul do país, o PETI lançou um desafio de discussão, a nível nacional, sobre o tema da exclusão.


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