Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº119    Janeiro 2008

Motor

QUATRO RODAS

De Dakar ao Estoril

Falar de automobilismo nesta altura do ano sem comentar o grande logro do Lisboa-Dakar denotaria uma grande desatenção, ou seria talvez a resposta adequada à canalhice, que a ASO fez aos cidadãos e instituições portuguesas.

O que aconteceu, não tem desculpa, e também não “lhes” vou dar muito mais linhas porque não o merecem. Justificações pouco coincidentes, com patrocinadores a compreenderem o cancelamento, enquanto outros que reclamam fortes indemnizações. Um grande silêncio das marcas, como que a quererem não se comprometer e a revolta dos amadores, associado à desilusão dos carinhosos adeptos lusos, foram o cenário para o fim do Paris, Granada ou Lisboa-Dakar.

Vou aproveitar no entanto este acontecimento para efectuar uma reflexão sobre a morte anunciada de outra “instituição” do automobilismo português.

Quero referir-me à iminente venda do autódromo do Estoril, ou melhor, da transformação da “catedral” do automobilismo português em condomínios de luxo a partir de 2012.

Esta morte anunciada teve, para mim, o seu início quando uma prova de 24 Horas do campeonato FIA Sport, foi cancelada por razões ambientais. As razões indicadas, eram nem mais nem menos do que o ruído produzido pelos carros durante a noite, que iria perturbar os moradores próximos.

Realmente há moradores nas imediações, que certamente seriam incomodados com ruído dos carros durante 24 horas, mas uma coisa é certa em 1972 quando o autódromo foi inaugurado os únicos moradores conhecidos deviam ser os habitantes da quinta junto à curva da orelha.

Durante estes 35 anos sempre houve provas sendo algumas de 24 horas e não é segredo para ninguém, muito menos para os que foram comprando casas nas redondezas, que ficariam sujeitos a estas situações.

Os fundamentalismos ambientalistas levam a estas situações. É a mesma coisa que comprar um terreno debaixo de uma linha de alta tensão e depois “obrigar” a distribuidora a mudar a linha. Parece que a prioridade é sempre dos que chegam depois.

Como agora foram proibidas corridas de 24 horas, é de esperar que, pelo andar da carruagem, daqui a dois anos sejam proibidas as de 4 horas, daqui a três anos as de 2 horas e daqui a quatro anos as de 2 minutos. Antecipando esta situação o dono da pista (que por acaso é o estado que elabora e faz cumprir estas leis) decidiu vender o complexo. E é claro que o complexo só tem valor se puderem lá construir. Assim parece que está escrito no “caderno de encargos” que o novo dono só tem de garantir o funcionamento da pista até 2012. Leia-se então que pode construir depois dessa data.

Vejam só o emaranhado de interesses que para aqui vai, onde parece que os nossos “amigos” ambientalistas foram enredados.

Agora senhores ambientalistas digam-me lá se naquele local frondoso, e cheio de tradições, no mundo do desporto motorizado, não fica melhor um autódromo (com ruído incluído) do que avenidas cheias de “mamarrachos”, para ricalhaços.

E assim vai o nosso mundo.

Paulo Almeida

 


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