QUATRO RODAS
De Dakar ao Estoril
Falar de automobilismo nesta altura do
ano sem comentar o grande logro do Lisboa-Dakar denotaria uma grande
desatenção, ou seria talvez a resposta adequada à canalhice, que a ASO
fez aos cidadãos e instituições portuguesas.
O que aconteceu, não tem desculpa, e também não “lhes” vou dar muito
mais linhas porque não o merecem. Justificações pouco coincidentes, com
patrocinadores a compreenderem o cancelamento, enquanto outros que
reclamam fortes indemnizações. Um grande silêncio das marcas, como que a
quererem não se comprometer e a revolta dos amadores, associado à
desilusão dos carinhosos adeptos lusos, foram o cenário para o fim do
Paris, Granada ou Lisboa-Dakar.
Vou aproveitar no entanto este acontecimento para efectuar uma reflexão
sobre a morte anunciada de outra “instituição” do automobilismo
português.
Quero referir-me à iminente venda do autódromo do Estoril, ou melhor, da
transformação da “catedral” do automobilismo português em condomínios de
luxo a partir de 2012.
Esta morte anunciada teve, para mim, o seu início quando uma prova de 24
Horas do campeonato FIA Sport, foi cancelada por razões ambientais. As
razões indicadas, eram nem mais nem menos do que o ruído produzido pelos
carros durante a noite, que iria perturbar os moradores próximos.
Realmente há moradores nas imediações, que certamente seriam incomodados
com ruído dos carros durante 24 horas, mas uma coisa é certa em 1972
quando o autódromo foi inaugurado os únicos moradores conhecidos deviam
ser os habitantes da quinta junto à curva da orelha.
Durante estes 35 anos sempre houve provas sendo algumas de 24 horas e
não é segredo para ninguém, muito menos para os que foram comprando
casas nas redondezas, que ficariam sujeitos a estas situações.
Os fundamentalismos ambientalistas levam a estas situações. É a mesma
coisa que comprar um terreno debaixo de uma linha de alta tensão e
depois “obrigar” a distribuidora a mudar a linha. Parece que a
prioridade é sempre dos que chegam depois.
Como agora foram proibidas corridas de 24 horas, é de esperar que, pelo
andar da carruagem, daqui a dois anos sejam proibidas as de 4 horas,
daqui a três anos as de 2 horas e daqui a quatro anos as de 2 minutos.
Antecipando esta situação o dono da pista (que por acaso é o estado que
elabora e faz cumprir estas leis) decidiu vender o complexo. E é claro
que o complexo só tem valor se puderem lá construir. Assim parece que
está escrito no “caderno de encargos” que o novo dono só tem de garantir
o funcionamento da pista até 2012. Leia-se então que pode construir
depois dessa data.
Vejam só o emaranhado de interesses que para aqui vai, onde parece que
os nossos “amigos” ambientalistas foram enredados.
Agora senhores ambientalistas digam-me lá se naquele local frondoso, e
cheio de tradições, no mundo do desporto motorizado, não fica melhor um
autódromo (com ruído incluído) do que avenidas cheias de “mamarrachos”,
para ricalhaços.
E assim vai o nosso mundo.
Paulo Almeida
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