MARCELLO GALBIATI,
PROFESSOR DO POLITÉCNICO DE MILÃO
Portugal deve saber
promover o design

Em Portugal faz-se bom design, o qual
alia a tradição cultural a um aspecto inovador, que é fundamental. Mas é
importante saber promover a importância do design junto do público, para
que este perceba a importância da área. Ao mesmo tempo, é fundamental
que universidades e empresas investiguem em conjunto, mas as
universidades devem ter liberdade para poderem encontrar soluções para
problemas ainda não resolvidos. As opiniões são de Marcello Galbiati,
professor do Politécnico de Milão, o qual vai estar no Fórum Esart.
De uma forma concisa, qual é a sua
definição de design favorita?
Design é o todo, o conjunto de condições (circunstâncias) e de objectos
(coisas), reproduzidas e reproduzíveis, que nos rodeiam. Esse todo é
culturalmente rico e goza de um determinado valor formal que pode e deve
ajudar-nos a viver melhor. Nem tudo é design mas, presentemente, é
importante olhar à nossa volta, pensar e descobrir o que é design.
Qual é a sua opinião acerca da
relação entre universidades e empresas na área do design? É crucial que
sejam desenvolvidos projectos reais em ambiente de aula?
O relacionamento entre universidade e empresas é básico para o design.
De qualquer modo, a universidade deve ter liberdade de acção em termos
de investigação. A indústria pode dar um impulso à universidade,
primeiro no sentido de uma investigação mais direccionada e depois na
testagem do resultado da investigação realizada. Mas a universidade deve
ter liberdade para se movimentar na área de investigação, uma liberdade
que lhe permita testar novas soluções para problemas ainda não
resolvidos.
A maioria dos italianos consegue
perceber a importância do design. Como é que conseguiram isso? É que, em
Portugal, é lugar comum afirmar-se que a sociedade ainda não reconhece a
importância do design.
Na Itália, as exposições de arquitectura e de design (como a Triennale
de Milão, que existe desde os primeiros anos do século XX), as escolas
politécnicas, a indústria, os laboratórios de arte e de artesanato,
difundiram uma cultura do design em todo o País, algo feito em conjunto
com as indústrias, a moda e as revistas de design e de arquitectura.
Portugal é um país desejado, rico em tradições e em cultura, desejado
porque as pessoas utilizam os objectos do design, mas não os idealizam.
As pessoas, provavelmente, conhecem-no, conhecem-nos, mas não os encaram
como se fossem ícones.
Considera que a relação com a Esart
pode ser decisivo para aumentar a importância do design em países como
Portugal?
Claro, porque em Portugal pode ser necessário divulgar o design através
de exposições, para que as pessoas lhe atribuam importância e percebam
que ele é necessário. É importante mostrar o que é que a investigação
universitária faz na área do design, designadamente na solução de
problemas. Esta cooperação é importante para aumentar a importância do
design, para comparar diferentes métodos de trabalho e para estabelecer
uma relação forte entre a indústria e as universidades. Num contexto
internacional, é importante mostrar que em Portugal existe design de
alta qualidade, rico em tradição histórica e, ao mesmo tempo, inovador.
Será por isso importante ter um lugar para mostrar o design (exposições,
design de interiores, design de comunicação, de moda, design de música)
às pessoas. Será ainda importante que as indústrias continuam a produzir
design de qualidade, como já acontece. 
FERNANDO RAPOSO E ANA
MARIA VAZ
Difundir as artes
“Esta revista corresponde ao desígnio de
procurarmos, dentro das nossas limitações e capacidades, contribuir para
a difusão do que se faz ao nível das artes”. É assim que Fernando
Raposo, director da ESART e da publicação que agora inicia a sua
actividade, se refere ao novo produto da escola. “É um projecto
suficientemente amadurecido e que se insere no projecto educativo da
escola”. Para já, contam-se as colaborações de alguns docentes da casa e
de outras instituições similares com os quais a ESART tem vindo a
trabalhar. No entanto, fica o alerta de que este será um espaço de
confluência das diversas formas de expressão, independentemente da sua
origem. “Não queremos que esta seja uma revista da escola. Queremos que
seja uma revista de todos aqueles que se dedicam às artes, e que aqui
podem partilhar as suas reflexões, experiências e investigações sobre
este universo”. A publicação terá duas edições semestrais na Internet, a
disponibilizar nos meses de Março e Novembro, e uma versão anual em
papel, que será lançada em Janeiro. “Hoje em dia, tudo o que está online
é de muito mais fácil acesso do que aquilo que está em suporte de
papel”, afirma Ana Maria Vaz, presidente do IPCB. “Esperemos que a
revista tenha sucesso ao nível das artes, mas que outras áreas também se
sintam motivadas a participar”. 
Jorge Costa/Beira TV
RICARDO DOURADO, DISIGNER
DE MODA
Indústria nacional
começa a apostar na moda

Ricardo Dourado é um dos designers de
moda portugueses da nova geração. O seu percurso profissional é
multifacetado destacando-se, para além de uma permanência no estúdio de
Osvaldo Martins (2004), o desenvolvimento de uma série de projectos
industriais para marcas como Notiz (Dinamarca), ou para as nacionais MTP,
Tucha, Intensive E Dafne. O seu currículo integra também a colaboração
que manteve com os estúdios de Lidija Kolovrat (2002-2003) e Helena De
Matos (2003).
Embora jovem, tem abraçado as mais diversas oportunidades, tendo
garantido a sua presença em exposições como “Showcase+” (ModaLisboa
2004), “Custom Eyes” (Fabrica Features, 2003), a participação em “ A
Cidade vestida” (Porto 2001), ou a exposição individual promovida pela
Casa Municipal da Cultura de Cabeceiras de Basto. Em paralelo com a sua
marca própria, que apresenta regularmente na plataforma LAB da
ModaLisboa, tem vindo a integrar projectos para a indústria têxtil e do
calçado, estando actualmente a desenvolver as colecções “Hydrogen”
(linha masculina para a empresa Noronhas) e a colecção feminina para a
Eical. Dá formação na área do Design de Moda no CITEX.
Apesar de jovem, tem um percurso
profissional significativo. De todos os projectos, quais aqueles que
mais o entusiasmaram?
Destacaria 3 projectos, por representarem áreas distintas do meu
percurso profissional, bem como pela qualidade do trabalho desenvolvido
pelas equipas dos projectos.
O estágio no atelier de lidija kolovrat, os projectos de fardamento no
atelier de Osvaldo Martins e actualmente a direcção criativa da empresa
EICAL. Não posso deixar de mencionar o meu projecto pessoal que de facto
será o mais entusiasmante pelas suas características de pesquisa em
novas soluções em conceitos, formas, materiais, etc.
Continua a ser difícil trabalhar no
mundo da moda em Portugal?
Sim, Tendo em conta a importância da indústria enquanto suporte da
criação de moda e dos designers, podemos constatar pelos indicadores
gerais que se tem tornado bastante difícil. Por outro lado, o mundo da
moda que vemos nos desfiles e capas de revistas só é possível pela
grande força de vontade das pessoas que circulam nesse meio, Portugal
tem um mercado de moda muito pequeno e pouco informado o que se espelha
nitidamente na dificuldade que é manter-se activo enquanto designer.
No nosso país as empresas ligadas ao
sector, começam a apostar naquilo que é criado em Portugal?
Sim, mas a minha experiência diz-me que essa aposta veio no seguimento
da tentativa de suportar o insuportável, ou seja, muitas das empresas
que hoje em dia contratam designers de moda só o fazem na tentativa de
jogarem as últimas cartas, mas após anos e anos de má gestão não é uma
peça desenhada que irá tornar a indústria novamente lucrativa. Contudo,
são de mencionar alguns projectos de criação 100% portuguesa que nos
fazem acreditar em Portugal, tais como a “SALSA”, que tem vindo a formar
largas equipas de designers a “Riopele” que desenvolve as várias
colecções desde os tecidos ao vestuário em equipas de designers de
várias nacionalidades e projectos como a “Moda Lisboa “ proporcionando o
desenvolvimento de projectos de autor como o meu, criando e educando
gostos e opiniões de moda.
Como é que avalia o aparecimento de
novos designers de moda em Portugal?
É fundamental que surjam cada vez mais e melhores para que possamos
elevar os critérios de moda nacionais aos internacionais.
A realização de concursos de design
de moda são importantes para a promoção dos designers jovens?
Sim, são muito importantes, pena é que existam tão poucos, penso que
também fazem falta concursos mais abrangentes ao mundo de moda , da
mesma forma que em todas as capitais de moda não só para alargar esse
mesmo mercado bem como para “agitar” todos os elementos, criadores,
indústria, imprensa, estudantes, clientes.
Como formador, como avalia a nova
geração de estudantes portuguesa?
Na verdade não tenho meio de comparação com outra geração que não a
minha mas penso que a garra e vontade de vencer continua. Os novos meios
de comunicação vieram facilitar a informação e a captação mais rápida de
novas tendências, com base nisso posso dizer que sinto esta geração com
um trabalho mais “internacional”, ou seja o poder da fronteira e
distância não se faz sentir da mesma forma que se sentia.
Qual a importância das escolas de
ensino superior para a área do design de moda?
No design de moda muitas vezes sente-se um défice de formação /
informação por parte dos alunos, ou seja como os cursos na sua maioria
são técnicos a formação sociocultural fica muitas vezes em desvantagem o
que num mundo da criação artística onde as referências são absolutamente
determinantes penso ser da maior importância para o design de moda
pertencer aos módulos curriculares de escolas de ensino superior. 
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