Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº120    Fevereiro 2008

Dossier
Fórum Esart

MARCELLO GALBIATI, PROFESSOR DO POLITÉCNICO DE MILÃO

Portugal deve saber promover o design

Em Portugal faz-se bom design, o qual alia a tradição cultural a um aspecto inovador, que é fundamental. Mas é importante saber promover a importância do design junto do público, para que este perceba a importância da área. Ao mesmo tempo, é fundamental que universidades e empresas investiguem em conjunto, mas as universidades devem ter liberdade para poderem encontrar soluções para problemas ainda não resolvidos. As opiniões são de Marcello Galbiati, professor do Politécnico de Milão, o qual vai estar no Fórum Esart.
 

De uma forma concisa, qual é a sua definição de design favorita?

Design é o todo, o conjunto de condições (circunstâncias) e de objectos (coisas), reproduzidas e reproduzíveis, que nos rodeiam. Esse todo é culturalmente rico e goza de um determinado valor formal que pode e deve ajudar-nos a viver melhor. Nem tudo é design mas, presentemente, é importante olhar à nossa volta, pensar e descobrir o que é design.
 

Qual é a sua opinião acerca da relação entre universidades e empresas na área do design? É crucial que sejam desenvolvidos projectos reais em ambiente de aula?

O relacionamento entre universidade e empresas é básico para o design. De qualquer modo, a universidade deve ter liberdade de acção em termos de investigação. A indústria pode dar um impulso à universidade, primeiro no sentido de uma investigação mais direccionada e depois na testagem do resultado da investigação realizada. Mas a universidade deve ter liberdade para se movimentar na área de investigação, uma liberdade que lhe permita testar novas soluções para problemas ainda não resolvidos.
 

A maioria dos italianos consegue perceber a importância do design. Como é que conseguiram isso? É que, em Portugal, é lugar comum afirmar-se que a sociedade ainda não reconhece a importância do design.

Na Itália, as exposições de arquitectura e de design (como a Triennale de Milão, que existe desde os primeiros anos do século XX), as escolas politécnicas, a indústria, os laboratórios de arte e de artesanato, difundiram uma cultura do design em todo o País, algo feito em conjunto com as indústrias, a moda e as revistas de design e de arquitectura. Portugal é um país desejado, rico em tradições e em cultura, desejado porque as pessoas utilizam os objectos do design, mas não os idealizam. As pessoas, provavelmente, conhecem-no, conhecem-nos, mas não os encaram como se fossem ícones.
 

Considera que a relação com a Esart pode ser decisivo para aumentar a importância do design em países como Portugal?

Claro, porque em Portugal pode ser necessário divulgar o design através de exposições, para que as pessoas lhe atribuam importância e percebam que ele é necessário. É importante mostrar o que é que a investigação universitária faz na área do design, designadamente na solução de problemas. Esta cooperação é importante para aumentar a importância do design, para comparar diferentes métodos de trabalho e para estabelecer uma relação forte entre a indústria e as universidades. Num contexto internacional, é importante mostrar que em Portugal existe design de alta qualidade, rico em tradição histórica e, ao mesmo tempo, inovador. Será por isso importante ter um lugar para mostrar o design (exposições, design de interiores, design de comunicação, de moda, design de música) às pessoas. Será ainda importante que as indústrias continuam a produzir design de qualidade, como já acontece.

 

 

 

FERNANDO RAPOSO E ANA MARIA VAZ

Difundir as artes

“Esta revista corresponde ao desígnio de procurarmos, dentro das nossas limitações e capacidades, contribuir para a difusão do que se faz ao nível das artes”. É assim que Fernando Raposo, director da ESART e da publicação que agora inicia a sua actividade, se refere ao novo produto da escola. “É um projecto suficientemente amadurecido e que se insere no projecto educativo da escola”. Para já, contam-se as colaborações de alguns docentes da casa e de outras instituições similares com os quais a ESART tem vindo a trabalhar. No entanto, fica o alerta de que este será um espaço de confluência das diversas formas de expressão, independentemente da sua origem. “Não queremos que esta seja uma revista da escola. Queremos que seja uma revista de todos aqueles que se dedicam às artes, e que aqui podem partilhar as suas reflexões, experiências e investigações sobre este universo”. A publicação terá duas edições semestrais na Internet, a disponibilizar nos meses de Março e Novembro, e uma versão anual em papel, que será lançada em Janeiro. “Hoje em dia, tudo o que está online é de muito mais fácil acesso do que aquilo que está em suporte de papel”, afirma Ana Maria Vaz, presidente do IPCB. “Esperemos que a revista tenha sucesso ao nível das artes, mas que outras áreas também se sintam motivadas a participar”.

Jorge Costa/Beira TV

 

 

 

RICARDO DOURADO, DISIGNER DE MODA

Indústria nacional
começa a apostar na moda

Ricardo Dourado é um dos designers de moda portugueses da nova geração. O seu percurso profissional é multifacetado destacando-se, para além de uma permanência no estúdio de Osvaldo Martins (2004), o desenvolvimento de uma série de projectos industriais para marcas como Notiz (Dinamarca), ou para as nacionais MTP, Tucha, Intensive E Dafne. O seu currículo integra também a colaboração que manteve com os estúdios de Lidija Kolovrat (2002-2003) e Helena De Matos (2003).

Embora jovem, tem abraçado as mais diversas oportunidades, tendo garantido a sua presença em exposições como “Showcase+” (ModaLisboa 2004), “Custom Eyes” (Fabrica Features, 2003), a participação em “ A Cidade vestida” (Porto 2001), ou a exposição individual promovida pela Casa Municipal da Cultura de Cabeceiras de Basto. Em paralelo com a sua marca própria, que apresenta regularmente na plataforma LAB da ModaLisboa, tem vindo a integrar projectos para a indústria têxtil e do calçado, estando actualmente a desenvolver as colecções “Hydrogen” (linha masculina para a empresa Noronhas) e a colecção feminina para a Eical. Dá formação na área do Design de Moda no CITEX.
 

Apesar de jovem, tem um percurso profissional significativo. De todos os projectos, quais aqueles que mais o entusiasmaram?

Destacaria 3 projectos, por representarem áreas distintas do meu percurso profissional, bem como pela qualidade do trabalho desenvolvido pelas equipas dos projectos.

O estágio no atelier de lidija kolovrat, os projectos de fardamento no atelier de Osvaldo Martins e actualmente a direcção criativa da empresa EICAL. Não posso deixar de mencionar o meu projecto pessoal que de facto será o mais entusiasmante pelas suas características de pesquisa em novas soluções em conceitos, formas, materiais, etc.
 

Continua a ser difícil trabalhar no mundo da moda em Portugal?

Sim, Tendo em conta a importância da indústria enquanto suporte da criação de moda e dos designers, podemos constatar pelos indicadores gerais que se tem tornado bastante difícil. Por outro lado, o mundo da moda que vemos nos desfiles e capas de revistas só é possível pela grande força de vontade das pessoas que circulam nesse meio, Portugal tem um mercado de moda muito pequeno e pouco informado o que se espelha nitidamente na dificuldade que é manter-se activo enquanto designer.
 

No nosso país as empresas ligadas ao sector, começam a apostar naquilo que é criado em Portugal?

Sim, mas a minha experiência diz-me que essa aposta veio no seguimento da tentativa de suportar o insuportável, ou seja, muitas das empresas que hoje em dia contratam designers de moda só o fazem na tentativa de jogarem as últimas cartas, mas após anos e anos de má gestão não é uma peça desenhada que irá tornar a indústria novamente lucrativa. Contudo, são de mencionar alguns projectos de criação 100% portuguesa que nos fazem acreditar em Portugal, tais como a “SALSA”, que tem vindo a formar largas equipas de designers a “Riopele” que desenvolve as várias colecções desde os tecidos ao vestuário em equipas de designers de várias nacionalidades e projectos como a “Moda Lisboa “ proporcionando o desenvolvimento de projectos de autor como o meu, criando e educando gostos e opiniões de moda.
 

Como é que avalia o aparecimento de novos designers de moda em Portugal?

É fundamental que surjam cada vez mais e melhores para que possamos elevar os critérios de moda nacionais aos internacionais.
 

A realização de concursos de design de moda são importantes para a promoção dos designers jovens?

Sim, são muito importantes, pena é que existam tão poucos, penso que também fazem falta concursos mais abrangentes ao mundo de moda , da mesma forma que em todas as capitais de moda não só para alargar esse mesmo mercado bem como para “agitar” todos os elementos, criadores, indústria, imprensa, estudantes, clientes.
 

Como formador, como avalia a nova geração de estudantes portuguesa?

Na verdade não tenho meio de comparação com outra geração que não a minha mas penso que a garra e vontade de vencer continua. Os novos meios de comunicação vieram facilitar a informação e a captação mais rápida de novas tendências, com base nisso posso dizer que sinto esta geração com um trabalho mais “internacional”, ou seja o poder da fronteira e distância não se faz sentir da mesma forma que se sentia.
 

Qual a importância das escolas de ensino superior para a área do design de moda?

No design de moda muitas vezes sente-se um défice de formação / informação por parte dos alunos, ou seja como os cursos na sua maioria são técnicos a formação sociocultural fica muitas vezes em desvantagem o que num mundo da criação artística onde as referências são absolutamente determinantes penso ser da maior importância para o design de moda pertencer aos módulos curriculares de escolas de ensino superior.

 


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