Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano XI    Nº120    Fevereiro 2008

Cultura

GENTE & LIVROS

Roberto Juarroz

Poderia talvez esquecer algo que escrevi/ e voltar a escrevê-lo da mesma maneira.
Poderia esquecer a vida que vivi/ e voltar a vivê-la da mesma maneira.
Poderia esquecer a morte que morrerei amanhã /E voltar a morrê-la da mesma maneira.
Mas há sempre um grão de pó de luz/ que rompe a engrenagem das repetições.
Poderia esquecer algo que amei/ Mas não voltar a ama-lo da mesma maneira.


In Duodécima Poesia Vertical
 

«Não há nada mais inseguro do que própria vida. Somos todos sobreviventes provisórios. Que estabilidade ou certeza podem surgir desta situação? Há que ver todas as coisas do homem – também a sua poesia e as suas ideias – como restos de um naufrágio, que transitoriamente nos preservam do naufrágio total.» - Quase Razão, Roberto Juarroz.

Poeta argentino, Roberto Juarroz nasceu em Coronel Dorrego, Província de Buenos Aires, a 5 de Outubro de 1925, e morreu a 31 de Março, de 1995.

Formou-se na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional de Buenos Aires, onde seria depois director do Departamento de Bibliotecologia e Documentação, e professor durante 30 anos.

A par da poesia escreveu ensaios e fez traduções. Dirigiu a revista Poesía = Poesía, de 1958 a 1965 e colaborou em várias publicações argentinas e estrangeiras.

Trabalhou como crítico bibliográfico do diário La Gaceta (Tucamán, 1958 -1963); e crítico cinematográfico da revista Esto Es (Buenos Aires, 1956-1958).

A sua obra está reunida em 14 volumes com o título geral de Poesia Vertical. O primeiro volume foi publicado em 1958, o último, postumamente em 1997.

Membro da Academia Argentina de Letras desde 1984, a sua poesia foi reconhecida pelos muitos prémios literários que ganhou. São exemplo o Grande Prémio de Honor da Fundação Argentina para a Poesia (1984); Prémio Esteban Echeverría (1984); Prémio Jean Malrieu de Marsella (1992); Prémio de Bienal Internacional de Poesia (Lieja, Bélgica, 1992).

Octávio Paz afirmou acerca da poesia e do poeta: «Cada poema de Roberto Juarroz é uma surpreendente cristalização verbal: a linguagem reduzida a uma gota de luz. Um grande poeta de instantes absolutos.»

Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

D.Quixote. Breve História dos Mortos, de Kevin Brockmeier. Há três semanas, que Laura Byrd está abandonada num dos mais gelados e longínquos lugares da terra. Os companheiros partiram em busca de ajuda e agora Laura sabe que eles não irão regressar. Sozinha, prepara-se para uma outra viagem... até à cidade dos mortos. Um romance mágico sobre a vida, a morte, e um fascinante lugar situado para além delas.
 

Europa-América. São Pedro, de Joël Schmidt. Pedro foi um homem de uma estatura e dignidade extraordinária. Todavia, antes de ser santo, Pedro foi um homem. O apóstolo pleno de coragem e abnegação sofreu dúvidas e fraquezas, chegando mesmo a trair aquele que mais amava e por quem morrerá mais tarde, crucificado de cabeça para baixo. Graças ao grande conhecimento do mundo bíblico e da história romana, o autor reconstitui uma bela e rara biografia.
 

Presença. O Espião Fiel, de Alex Berenson. John Wells é o único agente da CIA a conseguir infiltrar-se na organização terrorista al-Qaeda. Converteu-se à fé islâmica mas é um homem só, os superiores da CIA olham-no como traidor; os muçulmanos como espião. Para provar a lealdade à al-Qaeda é recrutado para uma missão importante. A data? 11 de Setembro. O Espião Fiel foi distinguido com o Edgar Award para Melhor Primeiro Livro do ano de 2006.
 

Difel. Por Favor Não Matem a Cotovia, de Harper Lee. Numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos, durante os anos da Depressão, o advogado Atticus Finch aceita a dura tarefa de defender um homem negro, injustamente acusado de violar uma jovem branca. Pelo olhar de uma criança, entramos numa comunidade conservadora e racista em que o preconceito envenena as relações humanas. Por Favor Não Matem a Cotovia, foi Prémio Pulitzer e eleito como um dos melhores romances do século XX.
 

Gradiva. Crónicas dos Átomos e das Galáxias, de Hubert Reeves. O Bing Bang, a curvatura do Universo, a matéria e a energia «escuras», os universos paralelos, o princípio antrópico, os buracos negros, são os temas abordados pelo cientista respeitado e o extraordinário comu-nicador que é Hubert Reeves. Crónicas dos Átomos e das Galáxias estiveram na origem do programa quinzenal do autor, emitido pela rádio France Culture.
 

Guerra&Paz. Perro Cristão Entre Muçulmanos, de Joris Tulkens. No século XVI, o monge cristão Nicolau Clenardo era uma figura de destaque em toda a Europa. Teólogo, humanista, professor e conhecedor de várias línguas, leccionou em Lovaina, Paris, Salamanca, e na corte portuguesa, antes de partir para a cidade marroquina de Fez. Consigo levava o belo sonho de encetar um diálogo de paz, entre o cristianismo e o Islão.
 

Piaget. Filhos do Céu – entre Vazio, Luz e Matéria, de Edgar Morin e Michel Cassé. A astrofísica e a cosmologia ensinam-nos que atingimos a sexta revolução copérnica: matéria, luz, energia apenas constituem 4 por cento do universo, e as leis que tínhamos por universais apenas regem a nossa reduzida província cósmica; outras dimensões que não conseguimos distinguir, existem de facto. Encontro perfeito entre ciência e filosofia estas páginas devolvem-nos à magnífica condição de Filhos do Céu.
 

ASA. Snowleg, a Imagem do teu Rosto, de Nicholas Shakespeare. Aos 16 anos Peter Hithersay descobre que o seu pai não é a pessoa a quem sempre tratou como tal, mas sim um dissidente político da Alemanha de Leste com quem a mãe teve um breve romance na década de 60. Anos depois, a estudar na Alemanha Ocidental, decide atravessar a cortina de ferro para visitar o país do seu pai e descobrir mais sobre si próprio.
 

Paralelo 40. O Grande Fedor, de Clare Clark. Após uma campanha na guerra da Crimeira, o jovem engenheiro William May regressa a Londres, onde encontra trabalho num projecto de construção do moderno sistema de esgotos da cidade. É neste ambiente fétido e obscuro que descobre um submundo estranho. Quando começam a surgir cadáveres no Tamisa, William é acusado de assassínio, e apesar da sua crescente confusão mental, terá de provar a sua inocência. O Grande Fedor é uma visita surpreendente à cidade dos grandes mistérios.
 

Quinto Selo. Adoro Viver, de Federica Bosco. Mónica tem trinta e um anos, vive em Nova Iorque, e é irremediavelmente solteira. Partilha casa com uma cantora negra, que crê em astrologia, e um homossexual que quer adoptar uma criança, tem um emprego que odeia e o sonho de se tornar escritora e encontrar um grande amor. Um romance fresco e irónico sobre as relações sentimentais dos tempos modernos.
 

Cavalo de Ferro. Lua de Mel, de Banana Yoshimoto. Manaka e Hiroshi conhecem-se desde crianças. Cresceram juntos, tornaram-se amigos inseparáveis e casaram-se muito jovens. O seu amor foi construído com base num percurso comum mas as suas personalidades são muito diferentes. Manaka é serena, profunda e meditativa, Hiroshi continua preso a traumas passados. Quando Hiroshi perde o avô, decidem partir numa segunda lua-de-mel, uma outra descoberta da relação que os une e do amor.
 

Cotovia. O Ente Querido, de Evelyn Waugh.«The Loved one é uma rigorosa e descabelada sátira ao grosseiro materialismo que na requintada tecnocracia da civilização norte-americana se esconde sobre os mais falaciosos e hipócritas espiritua-lismos. A sátira é sangrenta, asfixiante, um primor de “humor negro” que, por certo, ofenderá as almas delicadas e reticentes.» - Jorge de Sena.

 

 

 

PELA OBJECTIVA DE J. VASCO

O Entrudo em Lazarim

Acontece todos os anos, só na terça-feira de Carnaval, a celebração do Entrudo com a saída dos Caretos às ruas da vila de Lazarim, no concelho de Lamego, onde se celebra aquele que se diz ser o mais tradicional Entrudo de Portugal. Os Caretos distinguem-se pelas suas imponentes máscaras de madeira, construídas ao longo do ano pelos artesãos da aldeia e que chegam a ser vendidas, no final da festa, por perto de 500 euros cada.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Quando eles são elas

E este mês acabou mais uma revista dedicada ao cinema em Portugal. Com efeito a “Premiere” de Outubro foi a última a chegar às bancas. Já perdi a conta às revistas de cinema que não venceram no nosso país. As anteriores, com mais ou menos impacto, eram verdadeiras aventuras editoriais, por norma impulsionadas por gente que ama o cinema acima de todas as coisas, mas que, mercado é mercado, isto de carolices já deu o que tinha a dar. O projecto premiere, dentro de um grande grupo empresarial, parecia ser coisa para durar. Também não foi. As malhas que as estratégias empresarias multina-cionais tecem dão muitas vezes em surpresas desagradáveis. Como foi o caso. Ao que se pode ler no editorial, nem os próprios da edição portuguesa sabiam o que os esperava. Um comportamento típico do quero posso e mando dos executivos em comissão de serviço nos grandes grupos económicos. Sem respeito, a espezinhar, porque o que conta é a maximização do lucro. Abençoado mercado, em que livros, revistas e batatas têm o mesmo tratamento. De polé. O que nos vai valendo é que Espanha é aqui mesmo ao lado. E por lá as revistas ainda se vão aguentando. Vamos manter a esperança de que daqui a algum tempo outro grupo de carolas reincida e mantenha a chama acesa.

Como o cinema continua a fazer-se, as estreias não param. Valha-nos ao menos isso! E, como nisto de estreias, nunca se sabe o que nos sai na rifa, um filme desde logo nos chamou a atenção: Hairspray, de Adam Shankman, um remake da fita realizada em 1988 pelo inefável John Waters, o “Papa” dos trash movies, e que correu em Portugal com o título Laca. A história parece simples: Tracy Turnblad, uma rapariga generosa de cm Ed Wood, de Tim Burton, 1994, Johnny Depp encarna aquele que é justamente considerado o pior realizador de Hollywood, Edward D. Wood, que no seu filme Glen or Glenda, 1953, com lugar reservado na lista dos piores filmes de todos os tempos, também se vestia de mulher. Para Pedro Almodóvar, os papéis de travestis são presença habitual nos seus filmes. Talvez que o mais conseguido seja o protagonizado por Miguel Bosé em Tacones Lejanos, 1991, em que de dia é um respeitável juiz e à noite uma cantora.

Podíamos referir ainda o travesti de Jim Curry em The Rocky Horror Picture Show, 1975, de Jim Sharman, ou os vários papéis de mulher que Eddie Murphy tem vindo a fazer. Porém a coisa só ficaria totalmente completa se víssemos a coisa ao contrário, ou seja, quando elas são eles. E, no cinema há muita(o)s. Porém isso seria desviar a atenção do que nos trouxe ao tema, ou seja a mutação de John Travolta para dar corpo à corpulenta Edna, um papel que não sendo um regresso, como o foi quando encarnou Vincent Vega em Pulp Fiction , de Quentin Tarantino, seria certamente recordado pela Premiere num já impossível futuro número como uma das “As mil caras de... John Travolta”.

Para nós, se Deus quiser, será até para o mês que vem.

Luís Dinis da Rosa


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