
Avaliar professores é
fácil?
Não! A avaliação de professores não é uma
tarefa simples. Que o digam os supervisores que, durante décadas,
promoveram a formação inicial e permanente dos nossos docentes. Para
avaliar professores requerem-se características pessoais e profissionais
especiais, para além de uma formação especializada e de centenas de
horas de treino, dedicadas à observação de classes e ao registo e
interpretação dos incidentes críticos aí prognosticados.
Cuidado com as ratoeiras! Quem foi preparado para avaliar alunos não
está, apenas pelo exercício dessa função, automaticamente preparado para
avaliar os seus colegas…
A avaliação de professores é uma tarefa complexa. Desde logo, requer um
perfil específico do avaliador. Ou seja, nem todos os professores reúnem
as condições para avaliarem. O avaliador terá que ser uma pessoa com
conhecimentos especializados, com enorme sensibilidade, com capacidade
analítica e de comunicação empática, com experiência de ensino e elevada
responsabilidade social. Terá que ser um profissional que sabe prestar
atenção, sabe escutar, sabe clarificar, sabe encorajar e ajudar a
encontrar soluções, sabe dar opiniões, e que sabe ainda negociar,
orientar, estabelecer critérios e assumir todo o risco das consequências
da sua acção.
É necessário que domine com rigor as técnicas de registo e de observação
de aulas, conheça as metodologias de treino de competências, os
procedimentos de planeamento curricular, e as estratégias de promoção da
reflexão crítica sobre o trabalho efectuado.
Escolher um avaliador obriga a uma selecção aturada, fundamentada,
baseada em critérios de indiscutível mérito e, depois, a uma demorada
formação específica e especializada. Para que uma avaliação tenha
consequências, o avaliado não pode ter quaisquer dúvidas sobre o mérito
do avaliador.
Avaliar é uma tarefa periscópica. O avaliador é chamado a pronunciar-se
sobre inúmeros domínios sobre os quais se reflecte o pluridimensional
acto de ensinar. Quando avalia, olha o professor sobre variadíssimos
ângulos e prismas: aprecia o professor enquanto pessoa, como membro de
uma comunidade profissional, como técnico qualificado na arte de ensinar
e como especialista das matérias que ensina.
Por outras palavras o avaliador avalia o professor em vertentes tão
diferenciadas quanto o são o seu ser, o seu saber e o seu saber fazer.
Logo, o avaliador tem que estar atento a um grande número de variáveis
que intervêm na função docente: variáveis de produto, de processo, de
presságio, de carácter pessoal e profissional…
O avaliador recolhe elementos que permitam avaliar, e depois
classificar, o professor enquanto tenta responder às seguintes questões:
Onde ensina? O que é que ele ensina? Como é que ensina? O que aprendem
os seus alunos? Como se auto avalia? Que capacidade tem para reformular
a sua actuação? Com que profundidade domina as matérias que pretende
ensinar?
O avaliador não trabalha com o professor apenas na sala de aula. Ele tem
que apreender o modo como o professor se envolve com os seus alunos numa
situação de classe, mas também como este se implica junto da comunidade
escolar e na sociedade que envolve a escola. Porque trabalha com ele
como profissional, mas também enquanto pessoa.
Formar um avaliador leva tempo, elevadas doses de paciência, muito
treino e conhecimento especializado. A escolha de um avaliador não pode
ser casual e, sobretudo, não pode depender de critérios político
administrativos.
Porquê? Porque o avaliador tem que saber verificar não só o que os
professores fazem, mas também como o fazem e, simultaneamente, garantir
a melhoria da qualidade da sua intervenção na sala de aula, bem como a
qualidade do produto, isto é, da aprendizagem dos alunos.
Por isso mesmo a avaliação de um professor não pode ser uma actividade
episódica, pontual e descontinuada. A avaliação de um professor requer
uma actividade continuada, porque importam mais as actividades de
reformulação que venham a ser consideradas do que o simples diagnóstico
da sua actual situação. A avaliação de um professor é então uma
actividade projectada no futuro.
Avaliar um professor é, pois, dizíamos, uma tarefa muito, mesmo muito
complexa. Simples, muito simples mesmo, é avaliar um ministro que pensa
ser possível reduzir a avaliação dum professor a uma mera empreitada
administrativa, compilada em duas páginas de panegíricos ou de
recriminações.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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