DAVID FONSECA EM
ENTREVISTA
Novo álbum na calha
David Fonseca é um dos mais carismáticos
e bem sucedidos artistas portugueses. Fundou a sua primeira banda em
meados dos anos noventa e foi com ela que apresentou as suas canções e
voz a um público mais vasto. O grupo acabaria por impor-se como um dos
maiores fenómenos nos anos recentes da música portuguesa, com o seu
álbum de estreia “Silence Becomes It” a atingir as 240.000 cópias
vendidas.
Em 2003 lança o seu primeiro disco a solo, “Sing Me Something New”, onde
explora novas facetas de compositor e intérprete. Toca praticamente
todos os instrumentos do disco, que estreia simultaneamente em mais de
150 rádios por todo o país. Em 2004 participa no projecto Humanos, dando
voz a temas inéditos de António Variações ao lado de Manuela Azevedo e
Camané. O sucesso do disco culmina em 3 espectáculos memoráveis nos
Coliseus de Lisboa e Porto e uma actuação para 40.000 pessoas no
festival Sudoeste.
O seu segundo álbum a solo, “Our Hearts Will Beat As One”, chega em
2005. Fruto de uma longa temporada de composição, 11 temas são
escolhidos entre as dezenas de canções que rodearam a feitura deste
disco.
Música à parte, David Fonseca tem um carinho especial por gatos. Tem 2
ou 3 em casa e eles fazem-lhe companhia quando está sozinho. Gosta de
ouvir Jeff Buckley, B’52s, Pixies, Roy Orbison e Aphex Twin, isto para
mencionar alguns, a lista é gigante. Apesar do sucesso na área da música
confessa que sempre sonhou em ser fotógrafo. “Acho que foi o destino”,
diz ele num suspiro enquanto olha para o chão, “embora não acredite em
nada disso”.
A entrevista efectuada a meio, da tournée que está a realizar por todo o
país aqui fica. David Fonseca fala da sua música e de novos projectos.
Está a realizar mais uma digressão a
qual divulga o seu último álbum. Mas o alinhamento dos espectáculos
retoma outras músicas...
Isso é algo que fazemos com frequência nos nossos espectáculos. Deste
modo apresentamos diferentes versões. Já passaram mais de 15 versões
sobre diferentes músicas. Quando começámos a preparar esta digressão, eu
como pessoa que adora e ama música e enquanto espectador, achei que
deveria começar a trazer para os concertos as canções que admiro e
gosto. Canções que me fazem estar dentro da música. Comecei, por isso, a
ir buscar canções, umas mais jovens outras nem tanto, algumas escondidas
no catálogo. Isso é um bom sinal pois transmite às pessoas um pouco do
meu universo musical e aquilo que eu ouço.
Um dos temas em destaque é
Superstars, o qual faz parte do próximo álbum e que estreou em
simultâneo em várias rádios. Esta é a promoção adequada do novo
original?
É, sem dúvida. Mas acima de tudo é uma forma diferente de apresentar
este tema às pessoas, de várias maneiras: através das rádios locais e
nacionais (em simultâneo) e ainda por intermédio de um vídeo clip (um
dos mais procurados no portal Sapo). Acabei por levar as pessoas ao meu
universo visual. Tenho feito também os chamados webpisódios (episódios),
na Internet, onde mostro algumas ideias sobre o novo disco. Tem sido
muito divertido e entusiasmante.
Como é que surgiu a ideia de
realizarem os webpisódios?
Isso é algo que há muito tempo que se faz noutros países. Agrada-me a
ideia de não termos que recorrer a recursos financeiros fortes, ligados
a editoras, para podermos chegar às pessoas de uma forma simples, de as
cativar para a musica e para aquilo que nós estamos a desenvolver. Os
webpisódios são uma maneira muito divertida de divulgar a nossa música e
muito simples de fazer. Faço-os em casa com a máquina digital, elaboro a
montagem, coloco-as na Internet e tenho rapidamente o feedback das
pessoas.
O recurso às novas tecnologias
parece estar sempre presente na sua imagem. A página de Internet é um
exemplo disso...
Tenho um site em meu nome desde 2000. Fui dos primeiros artistas
portugueses a ter um site sério, com muita interactividade entre as
pessoas que visitam, com fóruns, e onde não existe apenas a música. Essa
experiência foi sendo alargada a outros sites e os resultados têm sido
muito bons.
O melodia do tema Superstars,
segundo li, surgiu de forma repentina. Isso é habitual acontecer no seu
dia a dia?
Não. Tenho uma ideia muito estranha sobre de onde vem a música, nem
percebo como é que ela se cria. Sempre achei estranho o acto da criação
específico. Porque é uma sensação muito estranha a ideia de poder estar
aqui sentado, não existir uma canção, e passados 10 minutos ela poder
existir, a qual dura no tempo anos a fio. Essa melodia do Superstars
começou com um assobio muito simples, o qual não me largou durante
vários dias, não sei muito bem porquê. Um dia sentei-me e fiz a canção à
volta dessa melodia, acabando por se tornar grande, transportando muitas
coisas com ela, algumas do passado, da minha adolescência e juventude.
Superstars vai ter direito a outras
versões?
Sim, estamos a trabalhar duas ou três versões mais dedicadas às
discotecas (música electro).
O próximo registo terá canções em
português?
Talvez. Mas nós só decidimos isso na recta final do trabalho, quando,
como costumamos dizer, o bolo está para entrar no forno.
O terceiro disco a solo tem
lançamento agendado para finais de Setembro, início de Outubro, o que é
que o público pode esperar desse trabalho?
Muitas coisas diferentes, pois está a ser feito de um modo diferente dos
anteriores. Está a ser feito de uma forma muito rápida, do género: estar
a gravar em casa e chegar ao estúdio, onde os músicos ainda colocam
novas ideias na canção. A ideia é fazer tudo o mais rápido possível,
para podermos estar livres para tocar ao vivo e me dedicar a outras
áreas. Com esta nova filosofia, não temos tempo para nos chatearmos com
os temas. É algo que está a ser produzido com o coração mais aberto.
Os seus álbuns a solo tem um
intervalo de dois anos. Esse é o período adequado para se preparar um
disco?
Penso que sim. Não só para o preparar, mas também para o editar e fazer
a digressão, a qual demora um ou dois anos. A experiência diz-nos que
dois anos é o tempo ideal para as digressões, o que nos permite
percorrer o país inteiro.
O facto de estar a solo dá-lhe mais
liberdade de escolha e seguir o seu rumo, sem pedir a opinião ao resto
do grupo, como nos Sillence 4?
Um grupo tem sempre uma forma de fazer as coisas. O Sillence 4 que era
composto por um baixista, um guitarrista, um baterista e que tinha
sempre duas vozes, tornou-se um pouco estanque, pois tínhamos que fazer
as canções dentro daquele formato. O som da banda era caracterizado por
essa raiz. Por isso, era mais limitativo. Não estando numa banda, a
minha música pode tomar qualquer tipo de direcção, sem qualquer amarra.
No entanto, convém referir que as duas situações têm aspectos positivos,
já que quando estamos numa banda concentramo-nos mais num tipo de som,
quando estamos a solo procuramos impor a nossa liberdade criativa. São
situações distintas, nas quais há prazer em trabalhar. Com os Humanos
também senti isso.
Como é que foi a experiência de
cantar as canções de António Variações no projecto Humanos?
Foi muito boa. Quando me convidaram para participar nesse projecto eu
não queria acreditar. Só pelas pessoas que estavam envolvidas, como os
Clã e o Camané, pelos quais tenho uma grande admiração, fiquei muito
feliz por ter sido convidado. Quando ouvi as canções fiquei delirante,
pois sou um fã de António Variações.
Que leitura faz da música produzida
na língua de Camões?
Há cada vez mais coisas boas. Há uns anos atrás havia a ideia de que a
maior parte das bandas cantavam em inglês. Sempre a achei errada. A
maior parte das bandas que conheci, na altura, tinham mais raízes na pop
portuguesa que na anglo-saxónica. Por isso sempre disse que o boom da
língua portuguesa dentro da música iria continuar em grande expansão e
que o inglês seria uma excepção. Está a confirmar-se aquilo que eu
sempre disse. O que é normal, pois as pessoas identificam-se melhor com
a língua portuguesa.
Além da música é adepto da
fotografia, consegue arranjar tempo para essa actividade?
Infelizmente não. A música suga muito o meu tempo. Geralmente faço as
fotografias ligadas às promoções dos discos, aos designs dos discos e à
pós produção dos vídeos. Quando for mais velhinho irei ter mais tempo
para isso...
Quais os novos projectos de David
Fonseca?
Neste momento passam pelo novo disco. A minha vida gravita em torno do
novo disco, preparar a nova digressão e os novos espectáculos, bem como
a sua promoção. Vamos ter que fazer muitas coisas novas e ensaiar muito.
Vai ser um ano em cheio.
Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)
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