Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano X    Nº115    Setembro 2007

Música

DAVID FONSECA EM ENTREVISTA

Novo álbum na calha

David Fonseca é um dos mais carismáticos e bem sucedidos artistas portugueses. Fundou a sua primeira banda em meados dos anos noventa e foi com ela que apresentou as suas canções e voz a um público mais vasto. O grupo acabaria por impor-se como um dos maiores fenómenos nos anos recentes da música portuguesa, com o seu álbum de estreia “Silence Becomes It” a atingir as 240.000 cópias vendidas.

Em 2003 lança o seu primeiro disco a solo, “Sing Me Something New”, onde explora novas facetas de compositor e intérprete. Toca praticamente todos os instrumentos do disco, que estreia simultaneamente em mais de 150 rádios por todo o país. Em 2004 participa no projecto Humanos, dando voz a temas inéditos de António Variações ao lado de Manuela Azevedo e Camané. O sucesso do disco culmina em 3 espectáculos memoráveis nos Coliseus de Lisboa e Porto e uma actuação para 40.000 pessoas no festival Sudoeste.

O seu segundo álbum a solo, “Our Hearts Will Beat As One”, chega em 2005. Fruto de uma longa temporada de composição, 11 temas são escolhidos entre as dezenas de canções que rodearam a feitura deste disco.

Música à parte, David Fonseca tem um carinho especial por gatos. Tem 2 ou 3 em casa e eles fazem-lhe companhia quando está sozinho. Gosta de ouvir Jeff Buckley, B’52s, Pixies, Roy Orbison e Aphex Twin, isto para mencionar alguns, a lista é gigante. Apesar do sucesso na área da música confessa que sempre sonhou em ser fotógrafo. “Acho que foi o destino”, diz ele num suspiro enquanto olha para o chão, “embora não acredite em nada disso”.

A entrevista efectuada a meio, da tournée que está a realizar por todo o país aqui fica. David Fonseca fala da sua música e de novos projectos.
 

Está a realizar mais uma digressão a qual divulga o seu último álbum. Mas o alinhamento dos espectáculos retoma outras músicas...

Isso é algo que fazemos com frequência nos nossos espectáculos. Deste modo apresentamos diferentes versões. Já passaram mais de 15 versões sobre diferentes músicas. Quando começámos a preparar esta digressão, eu como pessoa que adora e ama música e enquanto espectador, achei que deveria começar a trazer para os concertos as canções que admiro e gosto. Canções que me fazem estar dentro da música. Comecei, por isso, a ir buscar canções, umas mais jovens outras nem tanto, algumas escondidas no catálogo. Isso é um bom sinal pois transmite às pessoas um pouco do meu universo musical e aquilo que eu ouço.
 

Um dos temas em destaque é Superstars, o qual faz parte do próximo álbum e que estreou em simultâneo em várias rádios. Esta é a promoção adequada do novo original?

É, sem dúvida. Mas acima de tudo é uma forma diferente de apresentar este tema às pessoas, de várias maneiras: através das rádios locais e nacionais (em simultâneo) e ainda por intermédio de um vídeo clip (um dos mais procurados no portal Sapo). Acabei por levar as pessoas ao meu universo visual. Tenho feito também os chamados webpisódios (episódios), na Internet, onde mostro algumas ideias sobre o novo disco. Tem sido muito divertido e entusiasmante.
 

Como é que surgiu a ideia de realizarem os webpisódios?

Isso é algo que há muito tempo que se faz noutros países. Agrada-me a ideia de não termos que recorrer a recursos financeiros fortes, ligados a editoras, para podermos chegar às pessoas de uma forma simples, de as cativar para a musica e para aquilo que nós estamos a desenvolver. Os webpisódios são uma maneira muito divertida de divulgar a nossa música e muito simples de fazer. Faço-os em casa com a máquina digital, elaboro a montagem, coloco-as na Internet e tenho rapidamente o feedback das pessoas.
 

O recurso às novas tecnologias parece estar sempre presente na sua imagem. A página de Internet é um exemplo disso...

Tenho um site em meu nome desde 2000. Fui dos primeiros artistas portugueses a ter um site sério, com muita interactividade entre as pessoas que visitam, com fóruns, e onde não existe apenas a música. Essa experiência foi sendo alargada a outros sites e os resultados têm sido muito bons.
 

O melodia do tema Superstars, segundo li, surgiu de forma repentina. Isso é habitual acontecer no seu dia a dia?

Não. Tenho uma ideia muito estranha sobre de onde vem a música, nem percebo como é que ela se cria. Sempre achei estranho o acto da criação específico. Porque é uma sensação muito estranha a ideia de poder estar aqui sentado, não existir uma canção, e passados 10 minutos ela poder existir, a qual dura no tempo anos a fio. Essa melodia do Superstars começou com um assobio muito simples, o qual não me largou durante vários dias, não sei muito bem porquê. Um dia sentei-me e fiz a canção à volta dessa melodia, acabando por se tornar grande, transportando muitas coisas com ela, algumas do passado, da minha adolescência e juventude.
 

Superstars vai ter direito a outras versões?

Sim, estamos a trabalhar duas ou três versões mais dedicadas às discotecas (música electro).
 

O próximo registo terá canções em português?

Talvez. Mas nós só decidimos isso na recta final do trabalho, quando, como costumamos dizer, o bolo está para entrar no forno.
 

O terceiro disco a solo tem lançamento agendado para finais de Setembro, início de Outubro, o que é que o público pode esperar desse trabalho?

Muitas coisas diferentes, pois está a ser feito de um modo diferente dos anteriores. Está a ser feito de uma forma muito rápida, do género: estar a gravar em casa e chegar ao estúdio, onde os músicos ainda colocam novas ideias na canção. A ideia é fazer tudo o mais rápido possível, para podermos estar livres para tocar ao vivo e me dedicar a outras áreas. Com esta nova filosofia, não temos tempo para nos chatearmos com os temas. É algo que está a ser produzido com o coração mais aberto.
 

Os seus álbuns a solo tem um intervalo de dois anos. Esse é o período adequado para se preparar um disco?

Penso que sim. Não só para o preparar, mas também para o editar e fazer a digressão, a qual demora um ou dois anos. A experiência diz-nos que dois anos é o tempo ideal para as digressões, o que nos permite percorrer o país inteiro.
 

O facto de estar a solo dá-lhe mais liberdade de escolha e seguir o seu rumo, sem pedir a opinião ao resto do grupo, como nos Sillence 4?

Um grupo tem sempre uma forma de fazer as coisas. O Sillence 4 que era composto por um baixista, um guitarrista, um baterista e que tinha sempre duas vozes, tornou-se um pouco estanque, pois tínhamos que fazer as canções dentro daquele formato. O som da banda era caracterizado por essa raiz. Por isso, era mais limitativo. Não estando numa banda, a minha música pode tomar qualquer tipo de direcção, sem qualquer amarra. No entanto, convém referir que as duas situações têm aspectos positivos, já que quando estamos numa banda concentramo-nos mais num tipo de som, quando estamos a solo procuramos impor a nossa liberdade criativa. São situações distintas, nas quais há prazer em trabalhar. Com os Humanos também senti isso.
 

Como é que foi a experiência de cantar as canções de António Variações no projecto Humanos?

Foi muito boa. Quando me convidaram para participar nesse projecto eu não queria acreditar. Só pelas pessoas que estavam envolvidas, como os Clã e o Camané, pelos quais tenho uma grande admiração, fiquei muito feliz por ter sido convidado. Quando ouvi as canções fiquei delirante, pois sou um fã de António Variações.
 

Que leitura faz da música produzida na língua de Camões?

Há cada vez mais coisas boas. Há uns anos atrás havia a ideia de que a maior parte das bandas cantavam em inglês. Sempre a achei errada. A maior parte das bandas que conheci, na altura, tinham mais raízes na pop portuguesa que na anglo-saxónica. Por isso sempre disse que o boom da língua portuguesa dentro da música iria continuar em grande expansão e que o inglês seria uma excepção. Está a confirmar-se aquilo que eu sempre disse. O que é normal, pois as pessoas identificam-se melhor com a língua portuguesa.
 

Além da música é adepto da fotografia, consegue arranjar tempo para essa actividade?

Infelizmente não. A música suga muito o meu tempo. Geralmente faço as fotografias ligadas às promoções dos discos, aos designs dos discos e à pós produção dos vídeos. Quando for mais velhinho irei ter mais tempo para isso...
 

Quais os novos projectos de David Fonseca?

Neste momento passam pelo novo disco. A minha vida gravita em torno do novo disco, preparar a nova digressão e os novos espectáculos, bem como a sua promoção. Vamos ter que fazer muitas coisas novas e ensaiar muito. Vai ser um ano em cheio.

Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)

 


Visualização 800x600 - Internet Explorer 5.0 ou superior

©2002 RVJ Editores, Lda.  -  webmaster@rvj.pt