
Escola & Violência
Há bons e maus motivos para que a escola
seja notícia. Infelizmente para educadores, alunos e pais são sempre as
notícias mais negativas que ocupam as primeiras páginas dos jornais e o
destaque das rádios e televisões. Infelizmente, no passado ano lectivo,
o problema da violência nas escolas, e designadamente a exercida sobre
os professores, mereceu abundantes abordagens, esquecendo-se, muitas das
vezes, que a violência se previne todos os dias, e que é um fenómeno
demasiado complexo para ser apenas enfrentado pelos professores.
Em verdade seja dito que estes pouca ou nenhuma preparação recebem nas
escolas de formação para enfrentar este problema. E, acrescente-se, que
os investigadores e os teóricos da educação pouco ou nada têm produzido
sobre esta temática.
Daí que seja importante relembrar o que de bom foi produzido e publicado
nesta área, porque importa suportar teoricamente a nossa acção e manter
referentes sólidos nas análises das situações que se nos deparam. E os
professores e educadores têm à sua disposição uma obra, de rara
qualidade, dedicada à abordagem da disciplina e do castigo na educação.
Referimo-nos ao livro, dado à estampa pela Amarú Ediciones, intitulado
“Del Castigo a la Disciplina Positiva – Más allá de la Violencia en la
Educación”.
Na verdade, os autores, Juan Castro e João dos Santos Pires prestam, com
a divulgação deste estudo, um inegável serviço à comunidade educativa e
aos professores e educadores em particular, pelo que aconselhamos
vivamente a sua leitura.
A obra chama a atenção para o facto de os docentes se sentirem
impreparados e indefesos perante as manifestações de violência,
sobretudo quando a sociedade os considera responsáveis da erradicação de
um problema que eles não geraram, nem directa, nem indirectamente. Daí
que aposte na divulgação de mecanismos preventivos das condutas
marginais, através da criação de uma cultura de anti-violência, baseada
na aplicação da “disciplina positiva”.
O livro está estruturado em três partes. Na primeira, aborda-se o
fenómeno da “cultura da violência”, propondo-se uma série de conceitos
sobre a sua origem, suas formas, seus efeitos, a enumeração dos factores
que a predizem, bem como o enunciado das características dos agentes e
das vítimas desses actos.
Na segunda parte, analisa-se a oportunidade e a necessidade de mudança.
Mudança do paradigma educativo que tem abordado os problemas da
indisciplina e dos comportamentos desviantes. Mudança das formas de
encarar o castigo, a que se anexa uma legítima fundamentação teórica de
um conjunto interessante de propostas concretas, a desenvolver nos
capítulos seguintes.
Finalmente, na terceira parte, descreve-se a dinâmica da “cultura da
disciplina positiva”, enquanto constituinte de uma “cultura
anti-violência” e como fundamento e prevenção dos comportamentos
desviantes. Recomenda-se claramente a leitura desta parte, sobretudo
aquando a abordagem do conceito de disciplina positiva e dos relatos e
testemunhos considerados em contexto.
Os autores estão convencidos que se quisermos ajudar os nossos alunos a
desenvolver formas de auto-controle face às diferentes manifestações de
violência que se foram mansamente introduzindo nas escolas e nos lares,
temos que, em primeiro lugar, ajudar os pais, os educadores e os alunos
a compreenderem a importância dos dois pilares básicos sobre os quais
assenta a cultura da anti-violência: o auto-controle e a auto-estima,
enquanto bases da capacitação para enfrentar os desafios da
indisciplina, com elevadas doses de “poder interno” e “dinâmica vital”.
E enfrentar este dilemático problema educativo tem que presumir, da
parte de cada educador, a vontade de procurar a informação e a formação
adicional que o ajude a superar as situações problema que o exercício da
profissão lhe vá colocando. Assim como se exige dos responsáveis
políticos e administrativos a adequação do quadro legal às novas
circunstâncias que, todos os dias emergem nas nossas escolas.
Neste contexto Juan Castro Posada e João Pires estão no rumo certo, já
que acabam de contribuir positivamente para o desenvolvimento da
educação, num domínio em que são ainda raros os que se atrevem a
investigar e a produzir opinião sustentada.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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