CRÓNICA
Os 11 de Setembro
Cómo puedes negarte
Al ciclo de la luz tú que mostraste
Caminos a los ciegos?
Pablo Neruda
La Lámpara Marina
No dia 11 de Setembro de 2001, dois
Boeing comerciais, com passageiros a bordo, conduzidos por terroristas
com ligações à Al Qaeda, derrubaram as torres gémeas do World Trade
Center, em Nova Iorque. A tragédia é que foram mortas cerca de três mil
de pessoas. Este é o 11 de Setembro mediático, aquele que todos entendem
e se diz que mudou o mundo. Seguiu-se a invasão do Iraque, que Bush
também utilizou, com juros pagos em petróleo, como manobra de diversão,
para americano ver. Houve mais golpes e outras violências, com
protagonistas da mesma génese, neste espaço de influência
norte-americana, mas não é disso que hoje daremos conta.
No dia 11 de Setembro de 1973, um golpe de estado, liderado pelo general
Pinochet e apoiado pela CIA norte-americana, derrubou o governo legítimo
do Chile e assassinou o seu presidente, Salvador Allende. Estima-se que
tenham sido mortas cerca de 3000 pessoas, 35 000 torturadas e 300 000
detidas pela ditadura imposta pelo golpe. Este é o 11 de Setembro de que
não se fala e fez regredir o mundo e cujas sequelas ainda perduram, mas
em que alguns gostariam de passar um pano de esquecimento.
O choque dos aviões contra as torres gémeas indignou justamente o mundo
e os americanos em particular, que disso fizeram eco. Os acontecimentos
foram transmitidos pela televisão, ao vivo e a cores um pouco por todo o
lado.
Em 1973, no Chile, para não falar em Portugal (na altura também uma
ditadura), as vozes mundiais depressa emudeceram. Quem ousasse levantar
a voz contra a ditadura era deportado ou morto. Felizmente que, de
Abril, ainda nos sobeja a possibilidade do livre protesto contra a
injustiça.
A Grã-bretanha não extraditou para Espanha, a pedido do juiz Garzon, o
ditador Pinochet que lá se encontrava em tratamento médico, mas tinha
feito coro com Washington para a captura de Bin Laden. Como se o tempo
limpasse as nódoas de sangue ou este valha mais se circular nas veias de
um americano do que nas de um chileno.
Afinal de contas, (vítimas à parte) o que vale a experiência socialista
chilena de 73, se comparada com o betão armado das duas torres, símbolo
maior do capitalismo dos EUA?
Também é crime esta dualidade de critérios.
Há, portanto, com 28 anos de permeio, dois 11 de Setembro trágicos, que
devem ser lembrados porque, como disse Salvador Allende: “…não se detêm
os processos sociais com o crime… A história é nossa e é feita pelos
povos”.
João de Sousa Teixeira
PAU DE GIZ
Rua, rua era dantes
Faz agora anos, deu no rádio, Os
russos lançaram o primeiro satélite artificial da Terra.
Ouviu-se um bip-bip-bip longínquo, e passei noites na rua, nariz no ar
Cata Aviões, a descobrir uma estrela, uma luz no céu que mexericasse,
sem reparar que cá na terra as ruas ainda nem nome tinham.
Por exemplo, a nossa rua tinha o nome ampliado às ruas adjacentes, e
pouco tempo depois do piparote soviético no Sputnik, para a distinguir,
e às outras, cada qual, aquele funcionário camarário do fato de macaco
azul pintalgado, pintou Rua Professor António Manuel à esquina da
Paraíso e do Outeiro, empregando um alfabeto de letras recortadas em
chapa, borradas de tinta preta, onde apenas se distinguia cada letra
pelo entalhado das latas que chocalhavam, misturadas numa caixa com asa
e um buraco de lado por um nó ter saltado da tábua.
Todos concordam, O Professor António Manuel merece ter o nome numa rua.
Natural de Inguias, Belmonte, nos finais do século dezanove foi
professor de algumas gerações, e sem ideia nenhuma sobre ensino
especial, teve a arte e a manha para ensinar o Mudo a ler.
Lembro-me do Joaquim Gonçalves Monteiro, de pé, muito atento a ler no
missal, a camisa branca imaculada a destacar-se do fato escuro, no altar
o Padre Mateus paramentado de roxo, a seu lado a careca do sacristão
João Santinho a luzir, depois o Mudo a descer a coxia, a Voz da Fátima
ou seria o Cavaleiro da Imaculada? dobrado debaixo do braço, o olhar
inquiridor no tecto de madeira da igreja pintado a azul celeste e tal
como eu hoje me pergunto, o Mudo a perguntar-se, O que fará aquele ferro
preso de um lado ao outro nas paredes da igreja lá no alto a segurar uma
pequena estrela dourada ? se fosse uma pomba compreendia-se a Santíssima
Trindade.
Não sei se o Mudo sabia, mas eu sei de fonte segura, a minha família
paterna deve ao Professor António Manuel a alcunha e como ele baptizou
para sempre o meu avô da Argentina. Contou-me o meu tio Joaquim, Lá
pelos idos de mil oitocentos e oitenta e não sei bem o teu avô chegou
atrasado à escola e pediu licença, Posso entrar ? e à frente do bando
dos pardais sentados nos bancos mouchos o professor respondeu-lhe, Entra
lá ó Batata.
Foi quanto bastou para a canalha baptizar o meu avô aos oito ou nove
anos, baptizando logo ali a sua futura mulher e os filhos que tivessem.
Hoje, só alguns poucos de velhos, ou os acintosos, pelas costas nos
chamam assim, perdoando-se aos amigos empregarem-na cara a cara sempre
que lhes aprouver aquele eterno mimo do referenciado educador.
Dizia, A nossa rua não tinha um nome em concreto. E poucas ruas tinham
os nomes de agora, nomes de santos e santas predilectos, escolhidos por
unanimidade pelos inquilinos. Há ruas com nomes de gente importante da
época, poetas, descobridores e políticos. Houve nomes que os arredaram
das paredes pós-vinte e cinco de Abril e há nomes de ruas conservados,
os mesmos que as ruas sempre tiveram desde o tempo em que as ruas não
precisavam do nome pintado nas esquinas.
As casas, é claro, não tinham o correspondente número de polícia
pespegado pelos portados, o que nada atrapalhava o senhor Gonçalves na
eficiente distribuição do correio.
Quer fizesse sol, quer se começassem a ouvir pelos quintais os porcos a
guinchar, prenúncio da matança, sinal da invernia, o Carteiro circulava
carregado de cartas, postais e pacotes fofos de papel. Uns rolos
cilíndricos com as pontas reviradas para dentro, contendo ofertas de
amostras dos lotes de lãs nacionais. A assomar dos canudos viam-se as
fibras curtas dos mungos, nas cores na berra, azul royal, verde garrafa,
mescla geral.
Quando chegava o frio para curar o enchido a chuva sabia-se, de antemão,
já não despegava até finais de Maio do ano seguinte, a calçada
transformava-se num rio barrento e oleoso coberto por uma fina camada de
caramelo luzidio e deslizante, onde as pastas e os livros de leitura
faziam esqui.
Ganhava quem conseguisse fazer avançar até mais longe o material escolar
à biqueirada das botas de cano alto. Umas botas em borracha preta que
assavam por dentro na barriga das pernas quando as meias grossas, feitas
à mão com duas agulhas, se escoavam até à pontinha das unhas dos dedos
dos pés.
Rua, ruas era onde morava gente no Outeiro, dos Gonçalpares à Latada
passando pela Corga e Fonte Seixo, da Tapada do Rato ao Rossio passando
pelo Ribeiro e Monte, do Capitão Mor às Bandas passando pelo Tinto Velho
ou Fonte Nova, do Quichoso à Fontaínha passando por cima dos dois
ribeiros cobertos com lajes e pela Porta Grande.
Rua, ruas era tudo onde fiava ou tingia a gente, onde a vida estremecia
alegre e contente, ou viajava mansa e açucarada a descortinar o Sputnik
no céu, a jogar futebol, a baldear as poças da água com as botas de
borracha, os rebolos a brilhar, gemendo água, pequenos fios dourados
nelas tecendo sonhos, fortuna, raízes como no tear.
Rua, ruas hoje sem trama e por empeirar.
António Luís Caramona
paudegiz@gmail.com
CONTRABAIXO
Fórum Cultural
Durante dois dias estive no Centro
Cultural de Belém para participar no Fórum Cultural Europeu. Não tinha
uma expectativa que fosse mais além de encontrar alguns amigos, poder
por a conversa em dia, entender o que se pretende com a agenda de Lisboa
e, com sorte, apanhar algum orador interessante.
Se a agenda de Lisboa continua a ser, para mim, uma nebulosa na qual os
contributos que foram dados no fórum caiem que nem uma gota de água, já
algumas das intervenções foram clarividentes e muito enriquecedoras. Na
sessão de abertura o embaixador Francisco Seixas da Costa destacou-se ao
colocar em causa alguns dos pressupostos que nos levam a encarar a
Europa como uma ilha, num discurso apelativo e com muitos pontos de
interesse. Mas, na minha opinião, foi o irlandês Michael Ó Suilleabháin
que mais justificou as largas horas sentado no grande auditório. Para os
mais curiosos, valerá a pena passar no sítio
www.culturalforum.pt , no qual se podem encontrar alguns dos
discursos e textos de referência.
Escolhi a workshop “A Economia da Cultura”, mas poderia optar por outras
duas: “Diálogo Intercultural” ou “Europa e o resto do Mundo”. O formato
escolhido era muito mais vocacionado para o auscultar de pontos de vista
da audiência multinacional (a chamada sociedade civil), com um
moderador, o britânico Anthony Lilley e um relator que enquadravam as
intervenções previstas e estimulavam a participação do público. Neste
particular, Lilley foi um excelente moderador, acutilante, preciso e
pouco ou nada politicamente correcto.
Muitas vezes a confusão instalou-se ao nível dos conceitos (Indústrias
Culturais, Indústrias Creativas, Creatividade, Economia Creativa,
Economia da Cultura, etc, etc) e muitas das intervenções da plateia não
se enquadravam na linha do que estava a ser discutido naquele preciso
momento, consequência de um ponto de partida no qual tudo ou quase
cabia. Por exemplo, quando o moderador perguntou a Thomas Paris, que
falava sobre fontes de financiamento, qual o papel do capital de risco
no financiamento de projectos culturais, o francês começou a falar do
risco inerente a qualquer projecto, num claro misturar de alhos com
bugalhos. Senti falta de muitos protagonistas, sobretudo artistas, e
alguns países não estavam representados, no entanto, acho que foi um
momento importante e que permite avançar com algumas notas:
1 - A Europa Comunitária acordou tarde mas parece ter acordado para a
realidade do peso da cultura como factor de desenvolvimento económico.
2 - É necessário diferenciar as contribuições das Indústrias Culturais,
das Artes do Espectáculo e de outros sectores culturais para este peso.
Não é a mesma coisa falar de festivais e de canais de televisão ou
empresas que desenvolvem jogos de computador.
3 - É imperativo defender a criação artística que não tem como receptor
a multidão.
4 - Uma ideia chave, roubada ao irlandês que já referi, é encarar a
Europa e o Mundo ou no Mundo e nunca a “Europa e o resto do Mundo”.
5 - Senso comum mas é bom lembrar: a inovação tem de ser balanceada com
a tradição, com as raízes.
6 - Precisam-se escolas artísticas mais interdisciplinares e mais artes
em outros cursos, como por exemplo nas engenharias.
Finalmente não deixa de ser curioso ser Portugal, um país altamente
deficitário na área cultural, a promover e organizar um primeiro Fórum
desta natureza. Está, pois, de parabéns o Ministério da Cultura.
Carlos Semedo
carlossemedo@gmail.com
OPINIÃO
Cartas desde la
ilusión
Querido amigo.
Hemos acabado las vacaciones de verano (¡qué lejos están!) y ya estamos
de nuevo con toda la responsabilidad en el desarrollo del nuevo curso
académico.
Han pasado ya tres semanas y hemos entrado en contacto con nuestros
nuevos alumnos, hemos tratado de adaptarnos a ellos, de observarlos, de
estudiar su comportamiento, de detectar sus tendencias como grupo y como
individuos…
Yo he vuelto a reanudar mi programa de desarrollo de la autoestima con
mis alumnos, ya que, supongo que tú también, me corresponden los mismos
alumnos del año pasado, y, por eso, puedo dar continuidad a mi trabajo.
En mi última carta te conté mi última actividad en relación con el
desarrollo de su autoestima. Ahora paso a recordar mis impresiones de
aquellos momentos en que estábamos finalizando el curso.
Si recuerdas, nuestra última actividad fue la del “collage” en que cada
alumna/o plasmaba su manera de ser y de ver las cosas.
La presentación de cada uno de los “collages” fue una experiencia
inolvidable, creo que tanto para mi como para cada una/o de mis alumnas/os.
Pasé toda la sesión observando las reacciones de los que presentaban
“su” manera de verse y las reacciones concomitantes del resto de los
alumnos que recibían los mensajes transmitidos en cada una de las
cartulinas (por cierto, algunas resultaron impactantes no sólo desde el
punto de vista psicológico, sino también desde el punto de vista
artístico). Reconozco que disfruté observando las caras de aceptación,
de acuerdo, de valoración positiva y, en ocasiones, también de sorpresa,
de algunas/os de las/los alumnas/os.
El resultado final fue una especie de “re-generación” del clima en el
aula que, lo reconozco, me sorprendió gratamente. Observé que las/los
alumnas/os habían comenzado a desarrollar cierto sentido de la empatía,
aunque muy primitivo. Pero es algo que este nuevo curso escolar espero
seguir potenciando.
Me gustaría que tú emprendieses, también, este camino. Creo que es muy
productivo e intuyo que, al final del curso, se apreciarán claramente
los resultados.
Seguiré contándote mis actividades y mis resultados mes a mes.
Un abrazo fuerte
Juan A. Castro (Salamanca)
juancastrop@gmail.com
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