RUI REININHO EM
ENTREVISTA
O palco dos GNR

Quando em 1981 o Grupo Novo Rock (GNR)
surgiu, a Guarda Nacional Republicana (GNR) não achou muita graça à
ideia daquele grupo de jovens ter utilizado as suas siglas. 26 anos
depois essa questão já nem se coloca. Na autoridade, GNR significa
Guarda Nacional Republicana. Na música, equivale a Grupo Novo Rock. No
inicio da década de 80 os GNR foram um dos grupos que melhor
corporizaram o chamado rock português no início da década de 80. Formada
actualmente por Toli César Machado (bateria), Jorge Romão (baixo) e Rui
Reininho (vocalista), a banda conheceu várias formações ao longo dos
tempos e também inúmeras polémicas. Hoje é um dos grandes símbolos da
cidade do Porto, por tudo o que sempre significou e ainda pelo carinho
que sempre demonstraram pelo povo daquela zona. Com novos projectos em
carteira, Rui Reininho fala ao Ensino Magazine, após mais um concerto à
boa maneira dos GNR's, em Oleiros.
Efectivamente este foi mais um
concerto memorável, aqui em Oleiros?
Foi uma actuação divertidíssima, daquelas que temos pena de não ser
gravada. Cantei melhor que nos últimos cinco espectáculos, e fiquei
bastante satisfeito com Oleiros e com as suas gentes. Por vezes os
espectáculos de Lisboa, Porto e Coimbra têm muita pressão em cima de
nós, no interior nós vimos mais descontraídos, e o concerto de Oleiros
foi um dos melhores espectáculos que fizemos este verão. Posso mesmo
dizer que tirando as curvas do trajecto, estivemos aqui para as curvas.
Este foi mais um verão em que os GNR
não tiveram tempo para pensar nas Dunas...
Sim tivemos um mês de Agosto muito preenchido. Felizmente as pessoas
deixam-nos fazer aquilo que gostamos. Neste momento somos um grupo
evoluído e aquilo que queremos é tocar. Estou de acordo com o Prince
quando diz "vamos tocar por aí". E perguntam? Então e não vão fazer mais
discos daqueles com 12 faixas? É uma pena para nós, mas estamos a fazer
uma coisa diferente, que é subir ao palco e tocar.
A adrenalina com que entra para o
palco é mesmo de há 26 anos atrás?
É sempre diferente. Mas isso está relacionado com a correspondência das
pessoas. Eu gosto dos espectáculos. Foi a vida que eu escolhi e enquanto
não me atirarem com umas garrafas e outras coisas vou continuar. Até
porque não sou um homem subsidiado...
Quase três décadas de carreira,
continua a ser fácil compôr, ou a inspiração tem data limite?
Tem, por vezes as coisas não saem. O grande Camilo José Cela, num dos
seus livros que me acompanha nas viagens, diz: levanto-me às 7 da manhã
e quando a inspiração chega eu encontro-me a trabalhar. Eu agora
trabalho muito de manhã, o que é bom. Quero fazer imensas coisas, para
não vivermos do "museu". Sei que isso é difícil e que os GNR têm vivido,
nos últimos tempos, daquilo a que chamamos standards, tal como acontece
no jazz. Mas quero continuar a fazer novos trabalhos, embora nem sempre
o mercado os absorva.
Para quando um novo trabalho de
originais?
Para Novembro, temos que ter mais tempo. Vamos tentar fazer algo de
melhor.
O alinhamento dos espectáculos
cria-vos dificuldades, depois de tantos êxitos?
Não, nós fazemo-lo tendo em conta o princípio do prazer. Nós nisso somos
muito egoístas. Temos 170 músicas e escolhemos aquelas de que gostamos
mais. Depois, o alinhamento também está relacionado com o tipo de
músicos que nos acompanham. À frente surgem os GNR e atrás outros
intérpretes, como o Hugo, o António "mão de ferro" (um dos melhores
guitarristas) e o Ruck, que tem menos de metade da minha idade. Nós
escolhemos o reportório tendo em conta aquilo que eles são capazes de
fazer.
Nos 25 anos do grupo foi lançado um
álbum de tributo. Qual foi a sensação de ouvir temas com leituras
completamente diferentes?
Foi fantástico. Conheci toda outra geração que está a fazer hip-hop
etc..
Um dos temas que recentemente
tocaram foi o "Quero que tudo vá para o Inferno", de Roberto Carlos.
Como é que surgiu a ideia?
Isso é uma brincadeira que costumamos fazer, mesmo com outras músicas de
outros artistas. Depois os advogados do Roberto Carlos proibiram isso e
foi mais uma razão para o fazermos...
E o rock português está de boa
saúde?
Está doente. Porque a questão da pirataria afecta muito aqueles grupos
que começam. Nós, GNR, estamos aí para as curvas.
Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)
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