Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano X    Nº116    Outubro 2007

Música

RUI REININHO EM ENTREVISTA

O palco dos GNR

Quando em 1981 o Grupo Novo Rock (GNR) surgiu, a Guarda Nacional Republicana (GNR) não achou muita graça à ideia daquele grupo de jovens ter utilizado as suas siglas. 26 anos depois essa questão já nem se coloca. Na autoridade, GNR significa Guarda Nacional Republicana. Na música, equivale a Grupo Novo Rock. No inicio da década de 80 os GNR foram um dos grupos que melhor corporizaram o chamado rock português no início da década de 80. Formada actualmente por Toli César Machado (bateria), Jorge Romão (baixo) e Rui Reininho (vocalista), a banda conheceu várias formações ao longo dos tempos e também inúmeras polémicas. Hoje é um dos grandes símbolos da cidade do Porto, por tudo o que sempre significou e ainda pelo carinho que sempre demonstraram pelo povo daquela zona. Com novos projectos em carteira, Rui Reininho fala ao Ensino Magazine, após mais um concerto à boa maneira dos GNR's, em Oleiros.
 

Efectivamente este foi mais um concerto memorável, aqui em Oleiros?

Foi uma actuação divertidíssima, daquelas que temos pena de não ser gravada. Cantei melhor que nos últimos cinco espectáculos, e fiquei bastante satisfeito com Oleiros e com as suas gentes. Por vezes os espectáculos de Lisboa, Porto e Coimbra têm muita pressão em cima de nós, no interior nós vimos mais descontraídos, e o concerto de Oleiros foi um dos melhores espectáculos que fizemos este verão. Posso mesmo dizer que tirando as curvas do trajecto, estivemos aqui para as curvas.
 

Este foi mais um verão em que os GNR não tiveram tempo para pensar nas Dunas...

Sim tivemos um mês de Agosto muito preenchido. Felizmente as pessoas deixam-nos fazer aquilo que gostamos. Neste momento somos um grupo evoluído e aquilo que queremos é tocar. Estou de acordo com o Prince quando diz "vamos tocar por aí". E perguntam? Então e não vão fazer mais discos daqueles com 12 faixas? É uma pena para nós, mas estamos a fazer uma coisa diferente, que é subir ao palco e tocar.
 

A adrenalina com que entra para o palco é mesmo de há 26 anos atrás?

É sempre diferente. Mas isso está relacionado com a correspondência das pessoas. Eu gosto dos espectáculos. Foi a vida que eu escolhi e enquanto não me atirarem com umas garrafas e outras coisas vou continuar. Até porque não sou um homem subsidiado...
 

Quase três décadas de carreira, continua a ser fácil compôr, ou a inspiração tem data limite?

Tem, por vezes as coisas não saem. O grande Camilo José Cela, num dos seus livros que me acompanha nas viagens, diz: levanto-me às 7 da manhã e quando a inspiração chega eu encontro-me a trabalhar. Eu agora trabalho muito de manhã, o que é bom. Quero fazer imensas coisas, para não vivermos do "museu". Sei que isso é difícil e que os GNR têm vivido, nos últimos tempos, daquilo a que chamamos standards, tal como acontece no jazz. Mas quero continuar a fazer novos trabalhos, embora nem sempre o mercado os absorva.
 

Para quando um novo trabalho de originais?

Para Novembro, temos que ter mais tempo. Vamos tentar fazer algo de melhor.
 

O alinhamento dos espectáculos cria-vos dificuldades, depois de tantos êxitos?

Não, nós fazemo-lo tendo em conta o princípio do prazer. Nós nisso somos muito egoístas. Temos 170 músicas e escolhemos aquelas de que gostamos mais. Depois, o alinhamento também está relacionado com o tipo de músicos que nos acompanham. À frente surgem os GNR e atrás outros intérpretes, como o Hugo, o António "mão de ferro" (um dos melhores guitarristas) e o Ruck, que tem menos de metade da minha idade. Nós escolhemos o reportório tendo em conta aquilo que eles são capazes de fazer.
 

Nos 25 anos do grupo foi lançado um álbum de tributo. Qual foi a sensação de ouvir temas com leituras completamente diferentes?

Foi fantástico. Conheci toda outra geração que está a fazer hip-hop etc..
 

Um dos temas que recentemente tocaram foi o "Quero que tudo vá para o Inferno", de Roberto Carlos. Como é que surgiu a ideia?

Isso é uma brincadeira que costumamos fazer, mesmo com outras músicas de outros artistas. Depois os advogados do Roberto Carlos proibiram isso e foi mais uma razão para o fazermos...
 

E o rock português está de boa saúde?

Está doente. Porque a questão da pirataria afecta muito aqueles grupos que começam. Nós, GNR, estamos aí para as curvas.

Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)

 


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