Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano X    Nº117    Novembro 2007

Música

ENTREVISTA

O feitiço de André Sardet

André Sardet é natural de Coimbra, onde nasceu no dia 8 de Janeiro de 1976, o músico que ficou conhecido pelo tema “O Azul do Céu”, nem sempre quis escrever canções e tocar guitarra. Em 2006 o músico comemora 10 anos de carreira com o álbum “Acústico”. O registo inclui 15 músicas gravadas ao vivo no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, e uma nova versão do tema ‘Quando eu te falei de Amor’. Para 2008 está previsto um novo disco. A entrevista aqui fica.
 

O último registo data de 2006. Como é que foi feita a escolha para o álbum Acústico?

Foi difícil, pois esse álbum resume 10 anos de carreira, e tive que escolher 15 dos mais de 40 temas que gravei. Essa escolha esteve relacionada com o estado de espírito que eu tinha na altura em que a fiz. Vendo as coisas à distância, tenho pena de não ter incluído mais um ou dois temas, os quais tiveram algum significado para mim, embora não sejam tão conhecidos. De qualquer modo, tive a preocupação de fazer um alinhamento com alguma lógica, de forma a que o espectáculo Acústico aparecesse equilibrado.
 

O tema “Quando te falei de amor” só começou a ser conhecido aquando do lançamento do trabalho Acústico. Porque é que não teve sucesso antes?

Não sei. Também não aconteceu essa situação com o tema “Foi feitiço”, que acabou por ter ainda mais sucesso, nem com o Azul do Céu. Toda a minha carreira tem sido algo atípica, com algumas situações, como estas, sem grande lógica.
 

Quais foram os melhores momentos da sua carreira?

A noite da gravação do álbum Acústico marcou-me muito. Era preciso que aquela noite corresse bem, pois ao contrário de outros álbuns ao vivo em que se aproveitam as melhores interpretações de vários espectáculos, este era apenas um espectáculo único em que tudo tinha que correr bem. Foi uma noite mágica, onde houve troca de emoções com o público. Resultou por isso num álbum com alma.
 

Foi fácil adaptar as versões originais para acústicas?

Fiz um trabalho de desconstrução. Pensei nos temas como estavam gravados e como os tinha composto, e aproximei-os do momento em que os compus. Foi um desafio muito grande, tentar não esconder a alma dos temas com os instrumentos.
 

Satisfeito com o resultado obtido?

Muito satisfeito. No que respeita às vendas já vendemos mais de 150 mil discos, o que é muito bom, nos dias que correm.
 

Porquê a escolha do teatro Gil Vicente para esse espectáculo?

Porque sou de Coimbra. Foi aí que eu vi os meus primeiros espectáculos. Trata-se de um espaço com muita história e com muita carga emotiva. Era importante que o público de Coimbra fosse homenageado com essa gravação.
 

Coimbra é uma cidade mística para os artistas?

É uma cidade que inspira. Costumo dizer que não há nenhuma razão lógica para viver em Coimbra, até porque não trabalho muito lá. Mas é uma cidade que me acalma, que me inspira e onde gosto de viver.
 

Para quando um novo álbum de originais?

Estou a compôr. Trata-se de um álbum que me está a dar muito gozo. Vai ser diferente daquilo que as pessoas estão habituadas a ouvir. Retrata uma fase da minha vida que me apetece partilhar com as pessoas. Em 2008 será editado.
 

Que tipo de mensagens gosta de passar para o público?

Contar histórias que são verdadeiras, numa partilha de situações com as pessoas. Nos concertos, há mensagens que variam com os locais e as notícias do dia. Não me considero um cantor romântico, precisamente porque gosto de usar a minha voz para intervir e chamar a atenção de situações que me inquietam.
 

Qual a leitura que faz da música portuguesa?

É uma leitura um pouco apreensiva. Em 2007 fecharam mais editoras e foram despedidos mais músicos. Cada vez é mais difícil gravar álbuns, é importante que a indústria portuguesa se adapte. Portugal está a sentir grandes dificuldades, pois as multinacionais têm os seus escritórios em Espanha, pelo que é mais difícil que músicos com talento saiam de casa para gravar um álbum.
 

Mas, ainda assim, têm aparecido novos grupos...

Sim, mas não há uma continuidade. As pessoas podem ter talento, gravam um álbum, mas depois vendem dois mil discos e as coisas ficam por aí. Isto porque mesmo tendo talento, não lhes é dada uma segunda oportunidade. Isso aconteceu comigo. O álbum Acústico foi recusado por várias editoras. Fui eu que o paguei, porque acreditei nele. Se não o tivesse feito, se calhar estava fora da música. Mas nem todas as pessoas têm essa possibilidade.

Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)

 

 

 

Em alternativa

The Partisan Seed, “Visions of Solitary Branches”, Edições Transporte, 2006.
Apesar de se tratar de uma edição que remonta a finais do ano passado pensámos ser pertinente referir esta edição ainda por frisar nesta secção musical, uma vez pensarmos tratar-se de um registo imperdível pleno de belíssimas canções. Partisan Seed é o nome de um projecto de pendor mais intimista pela mão de Filipe Miranda, outrora vocalista da banda Kafka oriunda do norte do país. É um álbum que aborda a simplicidade e a singularidade como base de principio. Reveste-se de características acústicas que nos sugerem um leve tom de country/folk-rock mas é acima de tudo um álbum estéticamente indie, pleno de suavidade e que convida a um diálogo com as palavras carregadas de emotividade. Um bom álbum para ouvir tranquilamente com o objectivo de relaxar o corpo e a mente.Pode ser adquirido através das lojas fnac ou na loja cdgo.com. Não esquecer dar uma vista de olhos pelo site www.thepartisanseed.net , ainda pela morada www.myspace.com/thepartisanseed .



Nobody’s Bizness, “Ao Vivo na Capela da Misericórdia – Sines 2005”, Edições YouAreNotStealingRecords, 2007.

Este registo efectuado ao vivo na capela de Sines leva-nos ao maravilhoso mundo dos blues do Delta havendo espaço para interpretações de clássicos como o caso de Muddy Waters ou de Robert Johnson, criadores do género. No blues dos Nobody’s Bizness podemos encontrar toda a temática do género quer seja nas suas melodias como nas suas letras. Lá encontrarão o homem na famosa encruzilhada ou de alguém que trocou a sua alma pela mestria de uma arte. As vozes de Catman e Petra asseguram com firmeza a beleza dos blues quando cantados como sempre se lhes pede, com alma e carisma, apoiados pelo restante grupo. Este sexteto ainda dará muito que falar com o caminhar dos tempos. O albúm pode ser descarregado gratuitamente através da pagina da editora www.stealingorchestra.com .

Visitar a página www.myspace.com/nobodysbiznessband para uma visão mais depurada da arte desta banda.



Old Jerusalem, “The Temple Bell”, Edições Bor Land, 2007.

Terceiro registo discográfico do músico Francisco Silva, um dos mais mediáticos artistas do circuito indie já consagrado um pouco por toda a parte no que concerne a críticas dos mais variados editoriais como o Blitz ou o Público. Temple Bell segue a linha singer-songwriter onde a palavra exerce uma forte importância criando um equilíbrio perfeito entre o texto e a harmonia. É um álbum ainda mais completo e refinado que os anteriores, quer seja no que respeita às melodias ou ainda em relação aos textos. É um álbum conceptual que fala e explora as mais variadas dimensões e ópticas do relacionamento entre duas pessoas, ainda da mudança e do crescimento em termos gerais. O convite à exploração do mundo dos sentimentos e das relações humanas é evidente, acompanhado por uma parede de melodias que sugerem as mais variadas tonalidades expressas em sonoridades depuradas de grande requinte e que escapam ao óbvio do género indie-folk. Aconselha-se a um ouvido já treinado atenção redobrada aos arranjos presentes nesta belíssima e recomendável obra. Produzido por Paulo Miranda aqui está uma edição do corrente ano a não perder. Ir ainda a www.myspace.com/oldj para obtenção de uma ideia geral.

Daniel Pires

 


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