ENTREVISTA
O feitiço de André
Sardet

André Sardet é natural de Coimbra, onde
nasceu no dia 8 de Janeiro de 1976, o músico que ficou conhecido pelo
tema “O Azul do Céu”, nem sempre quis escrever canções e tocar guitarra.
Em 2006 o músico comemora 10 anos de carreira com o álbum “Acústico”. O
registo inclui 15 músicas gravadas ao vivo no Teatro Académico de Gil
Vicente, em Coimbra, e uma nova versão do tema ‘Quando eu te falei de
Amor’. Para 2008 está previsto um novo disco. A entrevista aqui fica.
O último registo data de 2006. Como
é que foi feita a escolha para o álbum Acústico?
Foi difícil, pois esse álbum resume 10 anos de carreira, e tive que
escolher 15 dos mais de 40 temas que gravei. Essa escolha esteve
relacionada com o estado de espírito que eu tinha na altura em que a
fiz. Vendo as coisas à distância, tenho pena de não ter incluído mais um
ou dois temas, os quais tiveram algum significado para mim, embora não
sejam tão conhecidos. De qualquer modo, tive a preocupação de fazer um
alinhamento com alguma lógica, de forma a que o espectáculo Acústico
aparecesse equilibrado.
O tema “Quando te falei de amor” só
começou a ser conhecido aquando do lançamento do trabalho Acústico.
Porque é que não teve sucesso antes?
Não sei. Também não aconteceu essa situação com o tema “Foi feitiço”,
que acabou por ter ainda mais sucesso, nem com o Azul do Céu. Toda a
minha carreira tem sido algo atípica, com algumas situações, como estas,
sem grande lógica.
Quais foram os melhores momentos da
sua carreira?
A noite da gravação do álbum Acústico marcou-me muito. Era preciso que
aquela noite corresse bem, pois ao contrário de outros álbuns ao vivo em
que se aproveitam as melhores interpretações de vários espectáculos,
este era apenas um espectáculo único em que tudo tinha que correr bem.
Foi uma noite mágica, onde houve troca de emoções com o público.
Resultou por isso num álbum com alma.
Foi fácil adaptar as versões
originais para acústicas?
Fiz um trabalho de desconstrução. Pensei nos temas como estavam gravados
e como os tinha composto, e aproximei-os do momento em que os compus.
Foi um desafio muito grande, tentar não esconder a alma dos temas com os
instrumentos.
Satisfeito com o resultado obtido?
Muito satisfeito. No que respeita às vendas já vendemos mais de 150 mil
discos, o que é muito bom, nos dias que correm.
Porquê a escolha do teatro Gil
Vicente para esse espectáculo?
Porque sou de Coimbra. Foi aí que eu vi os meus primeiros espectáculos.
Trata-se de um espaço com muita história e com muita carga emotiva. Era
importante que o público de Coimbra fosse homenageado com essa gravação.
Coimbra é uma cidade mística para os
artistas?
É uma cidade que inspira. Costumo dizer que não há nenhuma razão lógica
para viver em Coimbra, até porque não trabalho muito lá. Mas é uma
cidade que me acalma, que me inspira e onde gosto de viver.
Para quando um novo álbum de
originais?
Estou a compôr. Trata-se de um álbum que me está a dar muito gozo. Vai
ser diferente daquilo que as pessoas estão habituadas a ouvir. Retrata
uma fase da minha vida que me apetece partilhar com as pessoas. Em 2008
será editado.
Que tipo de mensagens gosta de
passar para o público?
Contar histórias que são verdadeiras, numa partilha de situações com as
pessoas. Nos concertos, há mensagens que variam com os locais e as
notícias do dia. Não me considero um cantor romântico, precisamente
porque gosto de usar a minha voz para intervir e chamar a atenção de
situações que me inquietam.
Qual a leitura que faz da música
portuguesa?
É uma leitura um pouco apreensiva. Em 2007 fecharam mais editoras e
foram despedidos mais músicos. Cada vez é mais difícil gravar álbuns, é
importante que a indústria portuguesa se adapte. Portugal está a sentir
grandes dificuldades, pois as multinacionais têm os seus escritórios em
Espanha, pelo que é mais difícil que músicos com talento saiam de casa
para gravar um álbum.
Mas, ainda assim, têm aparecido
novos grupos...
Sim, mas não há uma continuidade. As pessoas podem ter talento, gravam
um álbum, mas depois vendem dois mil discos e as coisas ficam por aí.
Isto porque mesmo tendo talento, não lhes é dada uma segunda
oportunidade. Isso aconteceu comigo. O álbum Acústico foi recusado por
várias editoras. Fui eu que o paguei, porque acreditei nele. Se não o
tivesse feito, se calhar estava fora da música. Mas nem todas as pessoas
têm essa possibilidade.
Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)
Em alternativa
The Partisan Seed, “Visions of
Solitary Branches”, Edições Transporte, 2006.
Apesar de se tratar de uma edição que remonta a finais do ano passado
pensámos ser pertinente referir esta edição ainda por frisar nesta
secção musical, uma vez pensarmos tratar-se de um registo imperdível
pleno de belíssimas canções. Partisan Seed é o nome de um projecto de
pendor mais intimista pela mão de Filipe Miranda, outrora vocalista da
banda Kafka oriunda do norte do país. É um álbum que aborda a
simplicidade e a singularidade como base de principio. Reveste-se de
características acústicas que nos sugerem um leve tom de country/folk-rock
mas é acima de tudo um álbum estéticamente indie, pleno de suavidade e
que convida a um diálogo com as palavras carregadas de emotividade. Um
bom álbum para ouvir tranquilamente com o objectivo de relaxar o corpo e
a mente.Pode ser adquirido através das lojas fnac ou na loja cdgo.com.
Não esquecer dar uma vista de olhos pelo site
www.thepartisanseed.net , ainda pela morada
www.myspace.com/thepartisanseed .
Nobody’s Bizness, “Ao Vivo na Capela da Misericórdia – Sines
2005”, Edições YouAreNotStealingRecords, 2007.
Este registo efectuado ao vivo na capela de Sines leva-nos ao
maravilhoso mundo dos blues do Delta havendo espaço para interpretações
de clássicos como o caso de Muddy Waters ou de Robert Johnson, criadores
do género. No blues dos Nobody’s Bizness podemos encontrar toda a
temática do género quer seja nas suas melodias como nas suas letras. Lá
encontrarão o homem na famosa encruzilhada ou de alguém que trocou a sua
alma pela mestria de uma arte. As vozes de Catman e Petra asseguram com
firmeza a beleza dos blues quando cantados como sempre se lhes pede, com
alma e carisma, apoiados pelo restante grupo. Este sexteto ainda dará
muito que falar com o caminhar dos tempos. O albúm pode ser descarregado
gratuitamente através da pagina da editora
www.stealingorchestra.com .
Visitar a página
www.myspace.com/nobodysbiznessband para uma visão mais depurada da
arte desta banda.
Old Jerusalem, “The Temple Bell”, Edições Bor Land, 2007.
Terceiro registo discográfico do músico Francisco Silva, um dos mais
mediáticos artistas do circuito indie já consagrado um pouco por toda a
parte no que concerne a críticas dos mais variados editoriais como o
Blitz ou o Público. Temple Bell segue a linha singer-songwriter onde a
palavra exerce uma forte importância criando um equilíbrio perfeito
entre o texto e a harmonia. É um álbum ainda mais completo e refinado
que os anteriores, quer seja no que respeita às melodias ou ainda em
relação aos textos. É um álbum conceptual que fala e explora as mais
variadas dimensões e ópticas do relacionamento entre duas pessoas, ainda
da mudança e do crescimento em termos gerais. O convite à exploração do
mundo dos sentimentos e das relações humanas é evidente, acompanhado por
uma parede de melodias que sugerem as mais variadas tonalidades
expressas em sonoridades depuradas de grande requinte e que escapam ao
óbvio do género indie-folk. Aconselha-se a um ouvido já treinado atenção
redobrada aos arranjos presentes nesta belíssima e recomendável obra.
Produzido por Paulo Miranda aqui está uma edição do corrente ano a não
perder. Ir ainda a
www.myspace.com/oldj para obtenção de uma ideia geral.
Daniel Pires
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