GENTE & LIVROS
Jonh Darton

«Hugh não podia crer a
sua sorte. O diário caíra nas suas mãos como uma dádiva, um fruto maduro
lançado pelos deuses. Demorara algum tempo a compreender o que era,
bastante estupidamente pensou, um momento mais tarde. Olhara para a
escrita. Por um instante, ocorrera-lhe a ideia de que talvez pertencesse
a alguém da editora, que um editor ou um investigador o descobrira e
escrevera inadvertidamente nele. Fechou o diário para examinar a capa.
(…)
(…) Ao abri-lo de novo leu o primeiro parágrafo e, em seguida, uma
página completa – falava de «Down House» e da «fama do papá» -e foi
atingido por uma revelação, um coup de foudre, como uma porta que se
escancarasse de repente, na verdade, uma série de revelações e portas
que se abriam: estava datado de 1865…Era autêntico! Era um diário
escrito por uma das filhas de Darwin!»
In O Pecado de Darwin
O jornalista e escritor
John Darton nasceu em Nova Iorque, em 1941. Trabalhou trinta e nove anos
como jornalista, editor e correspondente do The New York Times.
No decorrer da carreira jornalística recebeu por duas vezes o prémio
George Polk. A primeira vez em 1979 como correspondente no Quénia e na
Nigéria; e em 1982 pelo trabalho sobre a Europa de Leste. Em 1982 ganha
o Prémio Pulitzer, pelas crónicas clandestinas na Polónia, durante o
período da lei marcial.
O jornalista torna-se escritor com Neanderthal (1996) novela sobre
tribos primitivas perdidas; The Experiment (1999) conto sobre clonagem;
Mind Catcher (2002) um thriller sobre inteligência artificial; e The
Darwin Conspiracy.
Casado com a jornalista Nina Darnton e pai de três filhos, vive em Nova
Iorque.
O Pecado de Darwin.
O investigador Hugh Kellem está a braços com um trabalho sobre a vida do
famoso naturalista Charles Darwin. Num golpe de sorte consegue os
diários e as cartas de uma das filhas de Darwin e conhece uma
descendente do próprio naturalista, Beth. Hugh e Beth vão descobrir uma
faceta completamente desconhecida de Darwin e a resposta aos muitos
mistérios que sempre rodearam a sua existência. Afinal, quem era o homem
que mudou a nossa visão do mundo e porque levou vinte e dois anos a
escrever a Origem das espécies? 
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
Dom Quixote. A Mulher Certa, de
Sándor Márai. Em Budapeste uma mulher fala com uma amiga do adultério do
marido; um homem confessa ao melhor amigo como abandonou a mulher por
outra; e, uma terceira mulher revela ao amante que se casou para sair da
pobreza. De sensibilidade e profundidade é feito este romance em que
três vozes diferentes contam uma história de paixões, mentiras e
solidão.
Ambar. Odette Toulemonde – Lições de Felicidade, de Eric-Emmanuel
Schmitt. Em torno de oito mulheres, o autor cria oito histórias de amor.
A pequena vendedora, a milionária implacável, a trintona desiludida, a
misteriosa princesa de pés descalços são todas personagens
extraordinárias em busca de felicidade.
Gradiva. O Sétimo Selo, de José Rodrigues dos Santos. Como nos
anteriores romances - Codex 632 e A Fórmula de Deus - José Rodrigues dos
Santos volta a construir um thriller em torno de Tomás de Noronha.
Quando um cientista é assassinado na Antárctica, a Interpol contacta
Tomás para decifrar o significado do número 666 junto ao cadáver. Eis o
ponto de partida para uma corrida alucinante em que se joga o tudo por
tudo para impedir o apocalipse.
Europa-América. A Democracia Totalitária, - pensar a modernidade
pós-democrática, de Matthieu Baumier. O autor vem demonstrar que a
pós-democracia é um regime em que a própria palavra democracia é
instrumentalizada e esvaziada de sentido. As diferenças políticas
esbatem-se, a mediatização é uma máscara do mundo, e as eleições são um
espectáculo sem alma. Um livro polémico e necessário.
Campo das Letras. Canseiras de Amor em Vão, de William
Shakespeare. Fernando, o rei de Navarra e os seus fidalgos Biron,
Longueville e Du Maine propõem-se durante três anos: jejuar um dia por
semana e comer uma refeição diária durante os restantes, dormir só três
horas por noite, e, não privar com mulheres. Tudo parecia resultar, até
à vinda para o reino da princesa de França com as suas três aias. Uma
“comédia de linguagem” brilhante.
Cotovia. Perfeitos Milagres, de Jacinto Lucas Pires. Uma mulher
suicida-se e o marido, uma estrela internacional da música pop, isola-se
num mundo de dor e auto-complacência. Por outro lado, Carlos, um
jornalista português a viver em Nova Jérsia, tem como sonho escrever um
livro de histórias verídicas que não deveriam ser esquecidas. Pela mão
de uma mulher, Violet, a vida do músico e do jornalista vão ter de se
cruzar. Uma prosa fresca e original.
Pergaminho. Seja Mestre na Arte de Viver, de Robin Sharma. Nas
palavras do próprio autor: «Ainda estou para ler um obituário que diga:
ele faleceu em paz durante o sono, na companhia do seu advogado, do seu
corretor e do seu contabilista». Um manual de auto-ajuda pode ser ao
mesmo tempo sério e divertido? Este é. Nas palavras de Paulo Coelho «Os
livros de Robin Sharma estão a ajudar pessoas em todo o mundo a viver
grandes vidas».
Presença. O Diário Perdido de D. Juan, de Douglas Carlton Abrams.
Na Sevilha do século XVI, o maior sedutor da história faz as suas
conquistas e tenta escapar aos seus inimigos, entre os quais se conta a
Santa Inquisição. Mas é também aqui que ele consegue a sua maior proeza.
Entregar-se de corpo e alma a uma única mulher e aprender por fim a
amar.
Piaget. A Escola Comunidade Educativa e a Formação dos Novos
Cidadãos, de Maria Luísa Branco. O conceito de comunidade educativa, tem
origem no pensamento político e foi adoptada pela legislação portuguesa
recente. Esta obra de máxima actualidade permite-nos compreender a
aplicação deste conceito à escola, visando uma educação que corresponda
às necessidades das sociedades democráticas contemporâneas.
Cavalo de Ferro. Plano de Evasão, de Adolfo Bioy Casares.
Henrique Nevers desembarca numa ilha-prisão para aí desempenhar o cargo
de administrador. Mas o que leva um homem a ir trabalhar para um lugar
onde a existência se torna um fardo quase insuportável? Porque abandonar
a mulher que ama e quem é afinal Castel, o tirânico governador da ilha?.
Um romance notável de uma das maiores vozes da literatura
latino-americana.
Nova Gaia. Uma carta do Pequeno Anjo da Guarda, de Jutta
Langreuter e Andrea Hebrock. Miguelito é uma criança, e como todas as
crianças, tem um Anjo da guarda que a protege. Um dia algo vai passar-se
e ele vê o Anjo. Juntos constroem uma bela amizade mas logo têm de se
despedir. Miguelito fica triste mas o Anjo deixa-lhe uma carta muito
bela e especial. Um livro magnífico para os mais pequenos.
Folheto. 50 Perguntas a Artur Agostinho, de Adélio Amaro. Este
livro inaugura a colecção 50 perguntas. Numa longa e bem conduzida
entrevista ficamos a conhecer melhor um dos grandes comunicadores do
nosso país, Artur Agostinho.
Minerva. O Passeio de Deus, de Ângelo Rodrigues. «Falarei contigo
de Eternidade na Língua dos pássaros./ Saberás que sou eu mesmo ao
meio-dia do infinito». A poesia de Ângelo Rodrigues fala de amor,
infinito, eternidade, absoluto e Deus.
Autor. Apenas um olhar de Alethia, de Alice Mendes. Numa edição
de autor, Alice Mendes publica a sua poesia. São cerca de sete dezenas
se poemas que falam do eu, do amor, da vida, da poesia, a criança e a
mulher, a natureza, a saudade, a mãe. Um olhar de ternura sobre a vida,
uma escrita simples e pura.
BOCAS DO GALINHEIRO
Jean-Pierre Melville:
um mestre do policial
Foi o crítico francês Nino
Frank que em 1946, face às semelhanças estéticas nos filmes
norte-americanos dos anos 1930 e 1940, os rotulou de “film noir”
remetendo para a classificação “novela negra”, que surgira na França do
século XIX que incluía escritores de mistério que privilegiavam
atmosferas sombrios. Mas são os jovens críticos dos “Cahiers do Cinema”
onde pontificavam nomes como os de Jean-Luc Godard e François Trufaut,
que perfilhou a classificação e a popularizou de tal forma que a partir
dos anos 50 os norte-americanos a adaptam às suas produções daqueles
anos de ouro do filme negro, que se estende até final dos anos 50.
É pacificamente aceite que o ciclo do cinema negro americano se inicia
com “Relíquia Macabra”, (1941), dirigida por John Huston, onde perpassa
a tal atmosfera pessimista perante uma sociedade violenta e em
desagregação, em que, mesmo num aparente happy end, fica a pairar a
ideia de que se perdeu. Destacam-se no género, além da referida,
películas como “Só Vivemos Uma Vez” (Fritz Lang, 1937), “Anjo ou
Demónio” (Otto Preminger, 1945), “À Bierra do Abismo” (Howard Hawks,
1946), “Gilda” (Charles Vidor, 1946) ou “O Carteiro Toca Sempre Duas
Vezes” (Tay Garnett, 1947) a que poderíamos juntar um longo etc., tal a
lista que nos poderíamos pôr aqui a desfolhar.
Porém, não se pense que o género é exclusivo dos americanos. O cinema
europeu também se deixou seduzir pelo género e nele o policial francês
tem, desde muito cedo, a sua própria história. Em 1905 o género era
apelidado de filme policial e de aventuras, altura em que estavam em
voga “Les apaches à Paris” e “L’incendiaire” e nos anos seguintes surgem
as populares séries “Nick Carter” e “Zigomar”. Em 1913 irrompe o
primeiro “Fantomas” de uma série de 14 filmes que tiveram grande
sucesso. Foram realizados pelo célebre Louis Feuillade (1874-1925) autor
de cerca de 800 fitas.
Mas é nos anos 1953/1954 que se verifica a grande mudança devido às
nítidas influências dos modelos americanos, não só no cinema como na
literatura policial. No entanto os melhores exemplos do “film noir”
sobre os gangsters franceses é-nos patenteados por duas obras “O último
golpe” (1953), de Jacques Becker e “Rififi” (1955), de Jules Dassin.
Ambas abordam de forma exemplar as principais temáticas psicológicas do
“film noir”: as lealdades e traições no submundo do crime, e pronunciam
já a futura folha de serviços de Jean-Pierre Melville (1917-1973), aliás
Jean Pierre Grumback (que adopta o nome de Melville em honra do grande
escritor norte-americano), que depois de ter combatido no Norte de
África e Itália inicia a sua carreira cinematográfica com uma curta
metragem “Vingt quatre heures de la vie de un clown” (1945).
Poder-se-á considerar Melville um intelectual francês ao adaptar o
romance homónimo de Vercors “Le silence de la mer “ (1947) para a sua
primeira longa metragem. Entretanto, a passagem de um cineasta como
Melville para este género, o policial, trouxe um triunfo ainda maior,
dado esse seu estilo inconfundível que se verifica na série de
obras-primas que assinou no género, abordando sem ambiguidade as
relações de criminosos com a policia, os denunciantes, os códigos de
“honra” entre marginais e claro as explosões de violência.
Filmes como “Bob Le Flambeur” (1956) onde está patente uma das grandes
paixões de Melville: o filme de gangsters à americana e a transposição
desse universo para o cenário francês é primoroso ou “O Denunciante”
(1962), na foto, um dos melhores filmes de Melville, pois nele se
manifestam de forma bem clara as características do realizador, e onde
pontifica, na sua melhor forma, Paul Belmondo numa das mais sugestivas
personagens de Melville: o denunciante, são dissoum óptimo exemplo.
E então que dizer de “O Segundo Fôlego” (1966), adaptação do livro do
escritor/realizador José Giovanni, para alguns a obra prima de Melville,
um fabuloso retrato do “milieu” através da história do evadido Gui (Lino
Ventura) a quem a polícia faz passar por informador dando Gui caça ao
inspector para o forçar a dizer a verdade e recuperar a sua “honra”?
As influências de Melville, tanto aqui como noutros thrillers, vêm do
cinema negro americano e isso nem ele o negou. Mas é em “Le Samourai”
(Ofício de Matar), de 1967, um policial com um toque romântico, mas que
do ponto de vista temático é o mais triste e austero dos filmes de
Melville, onde de gabardina, chapéu e olhar triste, Alain Delon encarna
a personagem de Jeff Castello, assassino profissional e em “Un Flic”,
(Cai a noite sobre a cidade), de 1972, o último filme de Melville que
acentua a sua grande mestria na direcção do policial negro francês,
sabendo criar uma atmosfera própria mas não deixando de, mais uma vez,
homenagear o filme negro americano dos anos 40, 50, uma das suas
paixões, que elas são mais notadas.
Jean-Pierre Melville disse uma vez que a sua ambição foi a de “encher as
salas”, e continua a encher, mas a verdade é que com o seu estilo e
técnica, a sua conhecida economia de meios, abriu as portas para a
chamada “Nouvelle Vague”. Um mestre. 
Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças
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