QUATRO RODAS
O outro lado do Dakar



Este ano não fui ver o Dakar…mas como era de esperar, foram muitas as pessoas que insistentemente me perguntaram se tinha ido e como tinha sido. Claro que foi com certa surpresa que algumas me ouviram dizer que tinha visto, mas apenas na televisão.
Alguns amigos terão mesmo pensado…”então este gajo que já fez centenas de quilómetros para ver a corrida no estrangeiro, agora que é em Portugal fica no sofá, deve ser para se armar aos cucos …” Pois, foi mesmo o sofá o meu companheiro do Dakar, e não fiquei muito arrependido. Claro que nada substitui a presença no local, onde a cor, o ruído e mesmo o cheiro compõem um quadro que leva a emoção a níveis inimagináveis. Chego a ter arrepios e, mesmo com esta idade, continuo a ter o utópico desejo de estar do lado de dentro da aventura e embarcar num todo-o-terreno carregado de esperança em chegar ao Lago Rosa.
Não conheço nenhum ditado que refira isto, mas enquanto formos invadidos por estas emoções é por que ainda estamos vivinhos e de saúde, que afinal é o que mais interessa.
Mas afinal porque fiquei em casa?
1º - Adivinhava-se uma excelente cobertura televisiva. E efectivamente assim foi. Os meus parabéns à RTP e ao responsável João Fernando Ramos que muito bem acompanhado nos comentários pelo intrépido
Luís Costa (piloto do TT nacional que participou o ano passado no Dakar) efectuou um excelente trabalho. Com grande conhecimento da matéria, os dois conduziram as emissões em directo com enorme rigor. Esperemos que tenha ficado para trás o tempo em que as “betinhas” de Cascais efectuavam as reportagens desta prova, pejadas de inexactidões e piadas sem sabor.
2º - O facto da primeira especial ser muito perto de Lisboa, conjugado com o desenho da mesma fazia prever o que aconteceu, uma verdadeira invasão de “lisboeiros”. Não satisfeitos com o martírio das filas de trânsito durante a semana, “decidiram” levar o caos para a A2 ao sábado, fazendo com que muitos não tenham sequer conseguido vislumbrar os “corredores”.
3º - Contrariamente ao que aconteceu há uns anos atrás em Granada, onde assisti à primeira especial, com grande conforto, sem ter de ir para a estrada com horas de antecedência e certamente sem multidões, o ano passado desloquei-me a uma zona espectáculo perto de Castro Verde. Tive de deixar o carro a uns dois quilómetros do local, num lamaçal. Depois de um passeio a pé cheguei ao local e reparei que havia mais espectáculo fora da pista do que lá dentro. Como cheguei em cima da hora tive de ficar algo afastado do local de passagem e sinceramente fiquei um pouco desiludido com o andamento dos “rapazes”.
Foi essencialmente por estas razões que, este ano, preferi a televisão. Fiquei, no entanto, com uma boa impressão do excelente trabalho realizado, que essencialmente beneficiou e muito o País. Parece-me que houve melhorias relativamente ao ano passado e quanto à parte desportiva, não posso deixar de ter orgulho no trabalho do Alberto Gonçalves, com quem tenho o orgulho de trabalhar, no Rali de Portugal.
Uma palavra também para o sábio aproveitamento deste evento por parte dos homens do Algarve. Helder Martins, Presidente da Região de Turismo, antigo director do rali do Algarve, e o Presidente da Câmara de Portimão, dois homens muito inteligentes e virados para o futuro, que investem mais no “software” por que “hardware” já todos têm.
Por último de referir que não deixei de dar a minha colaboração ao nosso Dakar. Como? Comprando 4 Euros de Euromilhões, que é principal patrocinador do evento, mas com sempre…jogo branco.
Paulo Almeida
Fotos: João Vasco
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