GENTE & LIVROS
Joseph Mitchell,
jornalista e escritor

« (...) Veste roupas usadas que os amigos lhe dão. O sobretudo, o fato, a camisa e até os sapatos têm todos invariavelmente um ou dois números acima, mas Gould usa-os com uma espécie de desenvoltura enfastiada.
«Olhe só para mim», diz-me ele. «A única coisa que me serve é a gravata.».Nos dias mais agrestes de Inverno enfia uma camada de jornais entre a camisa e a camisola interior. «Sou um snob», diz ele.
«Só uso o Times». (...)».
In O Segredo de Joe Gould
Jornalista e escritor norte-americano, Joseph Mitchell nasceu no dia 27 de Julho de 1908, na Carolina do Norte, Sul dos Estados Unidos. Estudou na Universidade da Carolina do Norte, entre 1925 e 1929, mas as dificuldades com a Matemática impedem-no de concluir a licenciatura.
Deixa o negócio da família com os irmãos – o pai era cultivador e negociante de algodão e tabaco - e ruma a Nova Iorque, a pedido do Herald Tribune que publicou uma reportagem sua sobre a cultura do tabaco. Chega à “Grande Maça” no dia 25 de Outubro de 1929, um dia depois da tristemente célebre Quinta-Feira Negra. Começava a Grande Depressão e uma nova vida para Mitchell. Escreveu nos jornais The Harold Tribune, The Morning World e The World Telegram. Em 1938 integra a equipa do The New
Yorker.
O Segredo de Joe Gould é a sua obra mais conhecida e é composta por dois textos com 22 anos de diferença entre eles. Mitchell escreve sobre a vida de um vagabundo nova-iorquino que diz conhecer a linguagem das gaivotas e estar a escrever a maior obra literária sobre a América. O primeiro texto é publicado na rubrica de perfis do The New Yorker, com o título O Professor Gaivota (1942) e 22 anos depois é publicado o Segredo de Joe Gould (1964), sete anos após a morte de Joe
Gould.
No ano da morte de Joseph Mitchell, em 1936, este ainda se encontra a trabalhar no The New Yorker. Aí deixou a marca de um estilo respeitado e admirado por público e escritores, como uma das grandes “vozes” que deu “voz” à América.
Para além de O Segredo de Joe Gould, em Portugal estão também publicadas as obras Sou Todo Ouvidos (1938), e O Fundo da Baia (1959).
O Segredo de Joe Gould. Joseph Ferdinand Gould, Joe Gould, filho de uma das mais antigas famílias de Massachusetts, neto e filho de médicos, licenciado em Harvard, parte para Nova Iorque em 1916, onde começa uma vida de vagabundo. Intitula-se “o último dos boémios”, conhecedor da língua das gaivotas, dorme na rua, em pensões baratas, albergues de pobres e aguenta-se com a boa vontade dos amigos. Diz viver assim para ter a liberdade e o tempo necessário para escrever A História Oral, a obra prima sobre a América. 
Página coordenada por
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
DOM QUIXOTE. Olhos de Cão Azul, de Gabriel García Márquez. Escrito entre 1947 e 1955 e volvidos trinta anos sobre a primeira edição de Olhos de Cão Azul, a obra é agora reeditada com três contos inéditos. Vale sempre a pena ler ou reler a prosa de um dos melhores escritores de sempre, autor de obras tão fantásticas e reveladores como Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos de Cólera, ou O Outono do Patriarca.
PRESENÇA. Os Amantes e Outros Contos, de David Mourão-Ferreira. Nem Tudo é História; O Viúvo; Agora que Nos Encontrámos; A Boca; Trepadeira Submersa; Amanhã Recomeçamos; Ao Lado de Clara; e Os Amantes. Oito contos onde o amor e morte se confundem, escritos numa linguagem poética e pura por um dos grandes nomes da literatura portuguesa.
DIFEL. A Passo de Caranguejo, de Umberto Eco. Quando um pensador com a dimensão de Eco escreve, o mundo detêm-se para ler. Desta feita, os seus escritos tratam mesmo de um possível abrandamento do mundo, mas por outras e piores razões. Os conflitos do Iraque e do Afeganistão são um retrocesso às guerra a ferro e fogo; os conflitos entre o Islão e o Cristianismo voltaram; e até o fantasma do perigo amarelo parece estar novamente entre nós. Um livro que prova que a história afinal sempre avança, a passo de caranguejo.
CAMPO DAS LETRAS. A Fonte não Quis Revelar, de Rogério Santos. Uma visão interessante das relações entre jornalistas e fontes de informação, a partir de uma dupla abordagem – a leitura das notícias e o trabalho de campo. Tendo como ponto de partida as notícias sobre a sida, o autor responde a diversas questões e explica o percurso da construção da notícia.
ESTAMPA. Manual Enciclopédico do Vinho – nova edição actualizada, de Stuart Walton. Este Manual foi escrito para os apreciadores de vinho e também para todos aqueles que desejam saber mais sobre ele. As origens geográficas, as principais castas, as notas aromáticas, quais os alimentos que deve acompanhar, as razões do seu sabor ou os principais elementos a considerar quando se prova, aqui encontra-se tudo o que existe sobre o vinho.
GRADIVA. A Fórmula de Deus, de José Rodrigues dos Santos. No Cairo, Tomás de Noronha é abordado por uma desconhecida. Ela é iraniana e transporta a cópia de um documento misterioso assinado por Einstein. Este encontro é decisivo na vida de Tomás que se vê lançado numa aventura pelo Egipto, Irão, Tibete e Portugal no rasto da maior descoberta de todos os tempos, a prova científica da existência de Deus. Já vai na 2 ª Edição o romance que vem confirmar José Rodrigues dos Santos como um escritor de best-selleres.
EUROPA-AMÉRICA. Banana Split, de Rui de Brito. Numa Lisboa de marginais e finórios, repleta de desilusão pós-revolucionária, um quarentão pessimista interroga-se sobre a condição humana, com base na sua experiência pessoal. Publicado originalmente em 1979, em versão não integral, Banana Split rompeu com o «politicamente correcto» da literatura portuguesa e foi considerado por alguns como chocante e escabroso.
AMBAR. Incidente em Antares, de Erico Verissimo. Sete pessoas morrem em Antares, Brasil, numa sexta-feira 13, do ano de 1963. Os coveiros estão em greve e os defuntos sem sepultura vagueiam como fantasmas pela cidade, entrando na intimidade de parentes e amigos e revelando sem pudor os segredos dos poderosos. Incidente em Antares (1971) é uma crítica feroz do grande escritor brasileiro, à ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.
CAVALO DE FERRO. O Sonho dos Heróis, de Adolfo Bioy Casares. Durante os três dias e as três noites do carnaval, Emilio Gauna e os amigos andam pela cidade a gastar o dinheiro que ganharam nas corridas. É tempo de Excessos, vadiagem, bebedeira, encontros fantásticos, bailes e lutas. Na última noite sucede algo que Gauna não consegue recordar, mas sabe que mudou a sua vida, levando-o anos mais tarde a repetir aqueles acontecimentos, na esperança de uma memória.
COTOVIA. Desmedida, de Ruy Duarte de Carvalho. Luanda- São Paulo– São Francisco e volta, estas são crónicas do Brasil. Nas palavras do autor «Um livro a insinuar-se? E por que não? Um livro mais de “viagem”, mas que também não fosse um desses registos paraliterários de errâncias e de evasões a puxar para o sério e para a auto-ajuda. Que remetesse para os domínios em que me movo mas admitisse derivas.
(…)».
GATAFUNHO. Donde Vem a Pimenta?, de Brigitte Raab e ilustrações de Manuela Olten. De pergunta em pergunta e de uma forma divertida, as autoras vão dando resposta às dúvidas dos mais pequenos. Donde vem a pimenta? Por que é que os ursos hibernam? Por que é que os caracóis transportam a própria casa? E a água do mar é salgada porquê?
TEXTO EDITORES. O Livro que só Queria ser Lido, de José Jorge Letria, e ilustração de Daniel Silva. Esta é a história de um livro que em tempos foi amado mas acabou esquecido numa prateleira. Como companhia tem agora uma velha máquina de escrever, e o sonho de voltar a ser lido.
ENTREVISTA
Norton lança novo
trabalho

Os Norton são hoje uma banda conhecida a nível nacional, tendo sido formada em Castelo Branco. Quando em 2002 a criaram, pensavam chegar a 2007 com o sucesso obtido?
A palavra sucesso no nosso caso ainda não se poderá aplicar, somos uma banda nova com muito caminho ainda pela frente! ...
Mas nessa altura era tudo ainda uma incógnita... formámos os Norton já a pensar num projecto mais sério, mas sem realmente saber o que poderia acontecer.
Neste momento está para ser lançado um novo álbum (qual o seu nome?). Como é que o definem?
O novo disco chama-se Kersche. Podemos afirmar que é o disco mais trabalhado e pensado da banda... e também marcadamente mais electrónico.
Estivemos cerca de três meses e meio fechados em estúdio em Lisboa, tudo tratado com o máximo cuidado... Agora esperamos pelo resultado final da Masterização que está a ser feita em Nova Iorque, nos The Lodge Studios por Emily Lazar, que já trabalhou com bandas como os Arcade Fire, a Madonna, David Bowie, Beyoncé,
Morrissey...
Este álbum vai ser cantado em inglês ou vamos poder ouvir os Norton em português?
Este disco é cantado todo ele em inglês. Ainda não será desta vez que vão ouvir Norton em português... nem me parece que tal esteja nos nosso planos, pelo menos para já!
Os Norton nasceram de uma junção de dois grupos. Como é que surgiu a ideia? Foi difícil colocarem-na em marcha?
A ideia surgiu porque na altura nenhuma das bandas estava com projectos sérios para o futuro... como ensaiávamos no mesmo local, havia as mesmas influências e havia um elemento em comum, decidimos juntá-las à experiência... que resultou nos Norton de hoje!
Ao inicio foi complicado, ser uma banda do interior não é fácil... as editoras, os promotores, as rádios, a imprensa especializada, as salas e o grande público está tudo em Lisboa e Porto. É necessário o dobro do esforço... neste momento isso já não é problema algum para nós, mas no inicio foi complicado! Agora já conhecemos as pessoas certas nos sítios certos e isso ajuda muito...
Qual o balanço que fazem destes cinco anos de grupo?
Fazemos um balanço positivo claro... Com cinco anos editámos um E.P., um disco de originais e um de remisturas e estamos prestes a lançar outro de originais, participámos em compilações por todo o Mundo, tocámos por todo o país e num dos maiores festivais espanhóis... também tivemos momentos menos bons, mas sim o balanço geral é positivo!
Que novos desafios têm pela frente?
Lançar um disco é sempre um desafio... esse é o nosso maior desafio neste momento! Estamos a apostar tudo nele, o que temos e quase o que não temos também! O disco, o som, a tour, a promoção, as fotos, os telediscos, as capas, os cartazes... tudo ao mínimo pormenor!
EDUCAÇÃO ÀS TIRAS

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete
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