ENTREVISTA
Represas prepara novo
disco
É um dos interpretes mais carismáticos do
país e está a preparar um novo álbum que sairá para o mercado no início
de 2008. 30 anos depois de ter iniciado a sua carreira, Luís Represas
recorda, ao Clube do Som, a sua carreira, o novo disco e o facto das
rádios nacionais continuarem a passar pouca música portuguesa.
Está a preparar um novo trabalho,
para quando o seu lançamento?
Gostaria muito que fosse possível apresentá-lo no início de 2008. Estou
a recolher repertório e a compor. Um trabalho que está muito relacionado
com o nosso estado de espírito, mas no qual estou muito empenhado.
Relativamente ao seu último álbum
(um registo ao vivo) foi difícil seleccionar os trabalhos que dele fazem
parte?
Não foi fácil, pois tive que cortar muitos temas que gostaria de lá
colocar. Mas fi-lo com a consciência de que estava a fazer um
alinhamento para um espectáculo e não para a produção de um DVD em
estúdio. Uma coisa seria se eu fosse para um estúdio, com gente
convidada, outra é fazer o alinhamento para um concerto, o que não se
compadece de alinhamentos cronológicos ou sentimentais da minha parte.
Temos isso sim que contemplar o público. No entanto, tentei que fosse
contada um pouco da minha história enquanto artista.
Essa gravação foi feita numa data
especial, que assinalou os 30 anos de carreira…
Sim, precisamente por causa disso houve essas preocupações. Tenho um
concerto que gostei muito de fazer, aquando dos 25 anos de carreira, com
a Orquestra Sinfónica Juvenil, no Pavilhão Atlântico. Foi um concerto
gravado, que está guardado e quem sabe um dia poderá ser editado. Neste
caso, consegui reunir alguns nomes que para mim eram importantes, como o
Pablo Milanez. Os números redondos são bons para celebrar, mas não
servem como balanço.
O que sente quando pensa nos 30 anos
de carreira, nas músicas que já compôs?
Um enorme prazer ter feito a música que quis fazer, com quem quis, sem
pressões nenhumas, nem nenhum tipo de obrigatoriedade. Não se pode
querer mais que isso.
Que diferenças encontra entre o
início da sua carreira e agora?
Imensas. As características da indústria discográfica no pós Abril de 74
mudaram radicalmente. Passou a haver uma aposta nas infra-estruturas
técnicas por parte dessa indústria. A própria rádio mudou o seu
paradigma, começaram a construir-se coisas novas. Neste período todos
aprendemos muito uns com os outros. Hoje temos o edifício bem
estruturado e consolidado em termos de mercado, de indústria, técnica e
equipamentos, o que faz que quem começa a tocar tenha outras condições.
Eu lembro-me que quando comecei a tocar chegávamos a alguns locais para
actuarmos e solicitávamos energia eléctrica com determinadas
características, um palco com certa dimensão ou um camarim com casa de
banho, diziam que eram luxos de artistas. Felizmente isso hoje não
sucede. Por outro lado, nas editoras assistimos à chegada das
multinacionais, etc.
Nestes 30 anos sentiu apoio por
parte da indústria radiofónica?
Nem sempre. Senti apoio de muitas pessoas que trabalham nas rádios. A
partir de determinada altura sentimos que houve uma formatação das
rádios, um virar de costas à produção nacional. Continuamos com uma
produção nacional transmitida de forma invulgar na rádio nacional. Por
outro lado, continuamos com os canais televisivos sem nenhum programa de
música. E isto é preocupante, pois sem divulgação não existe renovação,
nem novas pessoas a gravar.
Considera que a música portuguesa
está na moda?
Gostaria que não estivesse na moda... Gosto de muito mais de pensar que
há muitos músicos que se estão a afirmar e a confirmar como compositores
e intérpretes, os quais fazem com que a música portuguesa seja uma
realidade cultural sólida. A moda é uma coisa efémera.
Uma das questões da actualidade diz
respeito à Lei da Rádio e às quotas da música portuguesa. Qual é a sua
opinião?
Quando em 1980 surgiu a primeira Lei desse género, torci o nariz. Nós
não podemos impor legislando. Temos exemplo ao lado, em Espanha, onde
não é necessária nenhuma Lei para que a música espanhola passa em larga
escala e em maioria nas rádios espanholas. Isso é possível ser feito em
Portugal, pois temos grandes sucessos de música portuguesa e o público a
acorrer aos espectáculos. E essa atitude, por parte do público, não é
acompanhada por quem dirige a programação de algumas rádios. Mas se
tivermos que ir pelo lado legislativo para não deitar tudo a perder o
que foi feito nos últimos 30 anos. Se esse for o caminho a legislação
terá mesmo que ser cumprida.
Hugo Rafael
(Programa Clube do Som, Rádio Condestável)
Em alternativa
Sean Riley and The SlowRiders: “Farewell”,
edições NORTESUL/Lux Records,”2007. Uma peça fundamental para os adeptos
das raízes mais clássicas, que remetem para o rock and roll, para o
blues e sobretudo para uma linha folk da linhagem de grandes nomes como
Bob Dylan, Johnny Cash , Muddy Waters ou até mesmo Elvis Presley.
Oriundos de Coimbra, terra que já tem dado várias referências do melhor
que de rock se tem feito pelo país, como é o caso dos Wraygunn ou dos
BunnyRanch, Sean Riley and The SlowRiders trazem com “Farewell” mais um
belíssimo registo do género mas é caracterizado pelo blues do Delta com
sugestões de gospel a espreitarem algures por entre as variadas canções
do álbum.As temáticas das canções reforçam a unidade do álbum e do
estilo que nele se pratica recorrendo a conceitos contemplados na
temática dos blues desde sempre como a sobrevivência e a redenção. Um
álbum a não perder.
O álbum pode ser adquirido nas lojas fnac ou ainda em MusicaOnline.com
pela módica quantia de 9.99 Euros. Aconselha-se ainda a visita ao
myspace da banda, http://www.myspace.com/seanrileymusic.
Daniel Pires
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