QUATRO RODAS
Uma revolução estúpida
Quase sem se dar por isso ocorreu este
ano uma revolução no mundo dos Automóveis Antigos em Portugal.
Revoluções há-as boas e más, mas esta é uma revolução estúpida. Mal
aconselhado, mas mesmo muito mal aconselhado o nosso governo decidiu
acabar com o regime de importação de veículos antigos, implementado um
novo imposto apelidado de ISV.
Até ao passado mês de Julho uma comissão verificava se os automóveis
clássicos importados deviam ou não ser considerados de interesse
histórico, autorizando assim a sua vinda para Portugal sem grandes
custos adicionais.
Bem ou mal este sistema permitiu desenvolver em Portugal uma próspera
indústria de restauro. Importavam-se automóveis baratos, muitas vezes
nos EUA, recuperavam-se e vendiam-se depois, com valor acrescentado para
a empresa que efectuou o trabalho.
Alguns destes automóveis restaurados eram de novo exportados. Ficava no
entanto em Portugal o valor do trabalho de restauro e mantinham-se
algumas centenas de empregos especializados. Outros ficavam em Portugal,
enriquecendo assim o património nacional.
Não sei qual o mal desta actividade, ou que “cócegas” provou aos nossos
governantes que conseguiram criar este estúpido imposto indexado à
cilindrada de cada carro, independentemente do seu custo e estado de
conservação.
O jornalista Adelino Dinis, que muito estimo, conseguiu provar a
estupidez desta medida, num trabalho da Revista Motor Clássico de
Dezembro de 2007.
O trabalho foi desenvolvido, durante a feira de Hershey nos EUA e
consistiu em simular o custo de cada um dos 68 veículos analisados se
fossem adquiridos para Portugal.
Não analisei todos mas retive-me num Corvette de 1973, com um preço de
venda 13,999 euros, a que correspondia um imposto 98,578 Euros. Meus
senhores, o imposto é sete vezes mais do que o preço do carro… é preciso
dizer mais alguma coisa.
Resultado, quem se vai começar a rir, são as empresas de restauro de
países vizinhos, ou então os mais atrevidos empresários portugueses que
vão começar deslocalizar as suas oficinas para outros países.
E afinal no que vai dar a “chico esperteza” do estado português?
Dinheiro do ISV, não o vai cheirar, pois as importações vão acabar.
Perdem-se também os impostos e contribuições das oficinas de restauro,
que vão procurar melhor poiso, e a isso podem-se juntar mais algumas
décimas às estatísticas do desemprego.
As últimas palavras para o Adelino Dinis, director da revista
Motorclássico e profundo conhecedor desta matéria. Foi após a leitura do
seu ultimo editorial na Motorclássico que me senti impulsionado a
“escrever” sobre esta situação.
Possivelmente não estou na posse de todas as informações sobre este
processo, mas de fora é esta a interpretação que dou ao que está a
acontecer… Adelino vamos à luta.
Paulo Almeida
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