Quanto ensino superior?
Os Distritos de Castelo Branco, Portalegre e da Guarda pertencem a uma vasta zona do país que se convencionou designar por Raia de Portugal. É uma região que abarca uma vasta área do território português e espanhol, maior em extensão superficial que a Grécia ou a Checoslováquia, vez e meia a Áustria, três vezes maior que a Dinamarca ou Suíça e quatro vezes a Holanda ou Bélgica, formada por nove distritos portugueses e seis províncias espanholas, e que constitui, no seu conjunto, a mais notável e extensa concentração de subdesenvolvimento da Europa.
Nos últimos anos, mercê de convénios de múltipla colaboração entre associações empresariais, comerciais, culturais, bem como de autarquias e escolas portuguesas e espanholas, a zona da Raia/La Raya tem vindo a ser identificada, privilegiadamente, com os Distritos de Castelo Branco, Portalegre e Guarda, e com as suas regiões vizinhas de Espanha, que rodeiam as cidades de Badajoz, Cáceres e Salamanca.
Trata-se, pois, de uma região desprotegida e periférica em relação ao poder central e às regiões social e
economicamente mais desenvolvidas, onde só o espírito de abnegação e de luta por grandes princípios tem permitido algum surto de desenvolvimento.
Desenvolvimento e progresso esses que se têm vindo a traduzir numa incipiente mas progressiva industrialização, no
desenvolvimento do sector terciário, no combate à desertificação e ao analfabetismo, no estancar da emigração, na criação de iniciativas sociais e culturais e, finalmente, na implantação de uma rede de estabelecimentos de ensino superior que, hoje, se traduz nos Institutos Politécnicos de Portalegre, Castelo Branco e Guarda, e na Universidade da Beira Interior.
Hoje é indiscutível que, nos últimos anos, o desenvolvimento destas regiões se condicionou à expansão do ensino superior, em todas as variáveis humanas, sociais, culturais e patrimoniais do seu crescimento. É também ainda muito claro que teremos de procurar essas vias que nos conduzem ao desenvolvimento nas capacidades de sinergia positiva deste
subsistema de ensino, enquanto estrutura promotora de progresso e de bem-estar.
È que a tomada de consciência da necessidade de coordenação entre as políticas de educação, formação e emprego, o equilíbrio entre o progresso científico e a compreensão da importância das tecnologias, tudo isso nos conduz à atribuição de crescente importância no investimento no factor humano como recurso insubstituível, para o qual é indispensável haver referenciais de qualidade.
Daí que recentes iniciativas que visam promover o crescimento desarticulado do ensino superior na nossa região, colocando-o como concorrente entre si, em vez de se estruturar uma política de desenvolvimento integrado e sustentado do mesmo, correlacionada com as necessidades do tecido produtivo da região, só pode conduzir, mais tarde ou mais cedo, ao seu estrangulamento e, logo, ao empobrecimento do Interior do país.
Quando o bom senso é substituído pela ganância, quando os objectivos comuns se vêem subordinados à mesquinhez dos interesses individuais, quando as estratégias de longo prazo se subalternizam às necessidades conjunturais de minorias sem significado histórico,
compromete-se o futuro e empenham-se as aspirações colectivas.
No início de mais este ano escolar acreditamos ser possível lançar um conjunto de iniciativas que visem corrigir, salvaguardar e relançar o ensino superior na região. É urgente e indispensável que se proceda a essa reorganização, com
aproveitamento de todos os recursos disponíveis, e com a lucidez que se exige a quem sabe planear e desafiar o futuro. Porque é isso mesmo que as populações nos exigem.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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