GENTE & LIVROS
John Branville

«Chloe, Myles e eu passávamos a maior parte do dia no mar. Íamos nadar fizesse sol ou chuva; nadávamos de manhã, quando o mar se agitava preguiçosamente como um caldo, nadávamos à noite com a água a ondular sobre os nossos braços semelhante a pregas sinuosas de cetim preto; uma tarde, ficámos dentro de água durante uma tempestade e um raio fendeu a superfície do mar tão perto de nós que ouvimos o crepitar e sentimos o cheiro a queimado no ar. Eu não era um grande nadador. Os gémeos tinham recebido lições desde muito pequenos e cortavam as ondas sem o mínimo esforço como duas tesouras brilhantes. (…)»
In O Mar
Quando em 2005 o escritor irlandês John Branville ganhou o Booker Prize com a obra o Mar, afirmou a propósito da distinção: «Finalmente atribuíram o prémio a uma obra de arte.»
John Branville nasceu a 8 de Dezembro de 1945, em Wexford. Foi educado na Christian Brother‘s School e em S. Peter‘s College, em Wexford. Trabalhou como editor literário no jornal Irish Times, entre 1988 e 1999.
O seu primeiro livro, uma colectânea de histórias e uma novela com o título de Long Lankin, foi editado em 1970. Seguem-se as novelas Nightpawn (1971) e Birchwood (1973).
Publica Doutor Copérnico (1976), - o primeiro romance de uma série sobre a vida e as ideias de cientistas famosos; Kepler (1981) – vencedor do Prémio de ficção atribuído pelo jornal The Guardian; e, The Newton Letter: An Interlude (1982), - acerca do matemático Sir Isaac Newton.
Os romances: O Livro da Confissão (1989); Fantasmas (1993); e Athena (1995), constituem uma triologia e tem como narrador Freddie Montgomery, um assassino que confessa os seus crimes por escrito, na cela de uma prisão.
Da bibliografia de John Branville fazem ainda parte, entre outras, as obras: O Intocável (1997); Eclipse (2000); Imagens de Praga: Retrato de uma Cidade (2003).
O Mar. Max Morden regressa à pequena cidade marítima onde passou férias na infância. Pretende trabalhar numa monografia do pintor Bonnard, e principalmente tentar ultrapassar a morte da mulher Anna, vitimada por um cancro.
Voltar áquele lugar é para Max um regresso ao passado, quando conheceu a família Grace: Carlo Grace, a mulher Connie e os filhos gémeos Myles e Chloe - o seu primeiro grande amor e a primeira grande perda. 
Página coordenada por
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades literárias
AMBAR. Uma Zebra ao Telefone, de António Garcia Barreto e Ilustrações de Viktoriya Borshch. «Há coisas do arco-da-velha. Como esta história, por exemplo.Um dia destes recebi um telefonema inesperado. Não era ninguém meu conhecido. Era uma zebra com uma história muito complicada». Assim começa esta história para os mais pequenos, tem como protagonista uma zebra que acaba de chegar à cidade, a quem acontece uma quase troca de “identidade” complicada.
DOM QUIXOTE. O Povo-Luz e os Homens-Sombra – O segredo da Romã, de Ana Zanatti, com ilustrações de Carla Nazareth.Houve um tempo em que a paz reinou na terra, habitada pelo Povo-Luz. Contudo agora os Homens-Sombra estão entre o povo-Luz e roubam-lhe a sua maior riqueza, da qual fazem parte a liberdade, a paz, e a justiça. Nada está perdido, o bem encontra sempre forma de vencer. Numa assembleia muito especial, o segredo para a felicidade vai ser revelado. Um livro recomendado para todas as idades e corações.
GATAFUNHO. Eu Quero Ir Para Casa, de Tony Ross. Esta é mais uma aventura da pequena princesa. Desta vez ela não se conforma com uma mudança. Os pais decidiram morar num castelo maior e mais bonito, mas ela está muito triste e não quer ir. No final, a pequena princesa compreende que um lugar se torna nosso quando o habitamos, e, podemos ser felizes onde quisermos.
ASA. A Abelha do Amor, de Stefania Bertola.Violetta e Caterina são duas irmãs a viver juntas num apartamento de luxo, numa villa elegante.Violetta é empregada de balcão, Caterina costureira de fatos temáticos para bonecas insufláveis. Nesta colmeia que é a villa, elas não são as únicas dadas a excentricidades: temos Rebecca, a mãe divorciada a viver uma vida dupla; Emanuele, um indiano romântico recém chegado; Mattia, o atraente decorador de interiores de gosto mais que duvidoso; um poeta budista; e o Divino Mago Marduk. Há encontros e desencontros, muito humor e amor.
EUROPA-AMÉRICA. Os 10 Princípios Básicos para Educar Bem os Seus Filhos, de Laurence Steinberg. Durante três décadas o autor investigou crianças e respectivas famílias e com esse estudo conseguiu reunir provas científicas que ligam
determinados princípios educativos ao desenvolvimento saudável de uma criança. Um estudo claro e demostrável, com aplicação universal e ao alcance de todos.
BICO DE PENA. Púrpura Profundo, de Mayra Montero. Agustín Cabán, ex crítico musical de um jornal de San Juan encontra-se a escrever as memórias. Mas a sua autobiografia não se encontra longe da polémica, pois para Agustín, o erotismo sempre esteve ligado à música, e ao longo da sua carreira como crítico, seduziu alguns dos mais famosos intérpretes de música clássica
CAMPO DAS LETRAS. Comunicação e Jornalismo na Era da Informação, com organização de Gustavo Cardoso e Rita
Espanha. O objectivo deste livro prende-se com uma discussão séria sobre o que caracteriza os modelos de comunicação, na sua essência e interpretação. O livro faz um interessante ponto da situação em termos teóricos e em estudos de caso sobre a realidade portuguesa e internacional, expondo os resultados de várias pesquisas desenvolvidas.
CAVALO DE FERRO. Uma Esposa para o Sahib, de Khushwant Singh. São doze contos de uma das mais controversas e polémicas personalidades da India. Como historiador e jornalista conhece bem o seu país, que desmonta com ironia e sarcasmo impiedosos. A sua escrita custou-lhe uma fuga para parte incerta, pois sobre ele pesam duas sentenças de morte, de fanáticos sikhs e hindus.
COTOVIA. Pode um Desejo Imenso, de Frederico Lourenço. Nuno, professor numa faculdade de letras, é levado a reconhecer que existe um preço a pagar pela descoberta de uma nova abordagem à poesia Camoniana, ao sentir que a sua vida foi invadida pelas emoções do texto que pretende descodificar. Pode um Desejo Imenso é uma
trilogia de romances que inclui ainda O Curso das Estrelas e À Beira do Abismo. Estes romances valeram ao autor o prémio Pen Clube 2002.
PIAGET. Para Onde Vão os Valores, com a direcção de Jérôme Bindé. O Pensamento parece ainda permanecer amarrado a uma visão ultrapassada do mundo. Niilismo, perda de valores, choque de civilizações atravessam estes dois últimos séculos. Poderá o Século XXI abrir caminho para novos valores? Jérôme Bindé é director da Divisão de Prospectiva, Filosofia e Ciências Humanas, na Unesco e com este livro propõem-nos um grande debate e um enorme desafio.
PERGAMINHO. Filhos Brilhantes, Alunos Fascinantes – A Importância do Pensamento, da
Criatividade e dos Sonhos, de Augusto Cury. Com o best-seller Pais Brilhantes, Professores Fascinantes o autor abordou a forma como pais e professores encaram a tarefa de formar pessoas, tendo por objectivo a felicidade, a ética e a realização. Com este livro o autor volta a reflectir sobre o papel fundamental da educação, usando para tal a personagem do extraordinário professor
Romanov.
TEODORO. O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular, de José Teodoro Prata. A Guerra Peninsular ocorreu há duzentos anos e foram tempos marcantes para o país. Os povos das freguesias de S. Vicente da Beira, Louriçal do Campo, Sobral do Campo, Ninho do Açor, Tinalhas e Freixial do Campo também cumpriram o que lhes foi exigido e deixaram o seu nome na História.
Com apresentação de Joaquim Morão e introdução de António Nunes, este é o último livro de José Teodoro Prata, que exerce a profissão de professor de História, na cidade de Castelo Branco, e tem já outros trabalhos publicados: Senhora da Orada (2001); Sanctus-Vincentius (2001); Memórias do Velho Castelo, em “Beira Baixa: da sua terra, da sua história e das suas gentes”, (2002); e, Os Símbolos Heráldicos de S. Vicente da Beira,
(2004).
ANTÓNIO PAISANA EM
ENTREVISTA
O Erasmus de Salónica

António Paisana frequentou o programa Erasmus, estudando através dessa iniciativa na Grécia. A experiência positiva levou-o a abraçar um projecto que há muito tempo ambicionava, escrever um livro. Nasceu assim assim o romance Erasmus de Salónica, um ano depois do regresso a Portugal. Com 28 anos, António Paisana, licenciado em Direito, diz já ter algumas ideias para novos livros. A entrevista aqui fica.
O que o levou a escrever este romance?
Desde sempre tive a ambição de escrever, mas nunca anteriormente tive um tema, pretexto ou história sobre a qual tivesse sentido um apelo tão forte para partilhar com os outros…
Com este romance… devo dizer que para além da história de amor entre as duas personagens, que conduz o enredo, o meu maior propósito foi tentar descrever o que constitui a essência do programa Erasmus, para além dos habituais relatos de viagens, noitadas e uma certa superficialidade com que não raro vem associado.
Acima de tudo o Erasmus é um programa que promove o sentimento europeu, o alargamento de horizontes, a tolerância entre as pessoas e com uma densidade humana ao nível de relacionamentos sem paralelo.
Tentar transmitir esses sentimentos a quem não experimentou o Erasmus por força de várias circunstâncias (idade, restrições económicas, falta de vontade…), e escrever uma história na qual se revejam todos os que nele participaram foram as duas grandes motivações que encontrei para escrever “Erasmus de Salónica”…
Como foi a sua experiência na Grécia, enquanto estudante, ao abrigo do programa Erasmus?
Talvez essa seja para mim a pergunta mais difícil, uma vez que quase me obrigaria a escrever um novo livro, sobre o mesmo tema… o que seria provavelmente um pouco repetitivo.
Posso desde já dizer que geograficamente andei por muitos dos locais por onde andou o Francisco (a personagem principal do meu romance), mas fora isso, as peripécias que eu vivi, as pessoas que conheci, o meu percurso têm pouco a ver com o dele…
Penso que mais importante que dizer como foi, será dizer que o Erasmus, em mim, teve consequências muito parecidas com as que operaram no Francisco… senti que voltei com horizontes mais largos, ainda mais vontade de aproveitar o que a vida tem para nos oferecer, e mais confiança para enfrentar situações novas, para abraçar o desconhecido sem grandes temores…
Foi na Grécia que surgiu a ideia de escrever Erasmus de Salónica? Essa ideia veio consigo na bagagem? Começou a escrever na Grécia ou em Portugal?
Não. A ideia surgiu já em Portugal, quase um ano depois de ter regressado da Grécia. Senti que havia, e penso que continua a haver, uma ideia errónea sobre as virtudes do programa Erasmus… se virtudes há que são publicamente reconhecidas, outras continuam ainda sem o serem…
Senti que a partilha de uma vivência tão fantástica para quem a experimenta era difícil de transmitir… Além disso, estas vivências não são só minhas, mas de toda a gente que faz erasmus… Temos histórias parecidas, sentimentos, medos e
expectativas comuns… Foi por isso também que não quis escrever a “minha história”, porque acho mais fácil uma pessoa rever-se numa história de ficção do que em acontecimentos reais… Assim sendo, tentei que esta fosse, não apenas uma “história minha”, mas acima de tudo, uma “história nossa” – minha, mas também de vários milhares de Erasmus e de todos aqueles que queiram/consigam entrar nesse espírito através do que é retratado no livro…
Esse foi o meu propósito, quando já em Portugal, quase um ano depois do meu regresso, comecei a escrever este livro.
O romance caracteriza algumas situações vividas por si na Grécia? Ao protagonista Francisco acontece a amizade, o amor e a liberdade. E ao autor o que sucedeu em Salónica?
Não. O livro caracteriza situações verosímeis da vida de Erasmus, que não me aconteceram a mim. Eu experimentei coisas parecidas, e outras bastante diferentes. Não tive uma história de amor como a do Francisco, nem nada parecido… A Amizade sim, experimentei de forma muito semelhante e a liberdade também… Mas é difícil explicar…
Talvez para dar a ideia do paralelismo que se possa fazer, ou não, entre o Francisco e eu mesmo, é que ao escrever o livro senti-me como que a fazer um segundo Erasmus. Por vezes sinto que a minha experiência e a do Francisco, no meu íntimo interagem… sem no entanto terem qualquer ponto comum para além do espaço geográfico…
Que conselhos daria aos jovens estudantes que estão a pensar candidatar-se ao programa Erasmus?
Diria para não hesitarem… É uma hipótese única na vida, diferente de qualquer viagem, interrail, ou mestrados e afins… Só nos enriquece, quer ao nível do que se vive, como ao nível de viagem interior.
Se por detrás de cada livro existem outros livros, quais foram as leituras que o marcaram?
Quem mais me marca, e desde muito novo é Eça de Queiroz. Na sua obra não posso inividualizar uma que mais me marque, porque todos os livros são verdadeiras obras de arte… talvez “Os Maias”, “O Primo Basílio”…
Depois vêm Balzac (“A Rapariga dos olhos d’oiro”), Tolstoi (“Guerra e Paz”), Dostoyevsky (“Noites Brancas”, “O Jogador”).
Quanto a autores mais recentes, gosto muito da simplicidade crua de Hemingway (“Adeus às armas”) e da leveza lírica de Sommerset Maugham (“Casamento em Florença”).
Há mais, mas estes são os essenciais.
Depois deste romance, já sente o apelo de escrever o próximo?
Apelo sinto, sem dúvida. Tenho apenas duas ideias para dois novos romances, mas de momento quero ler mais e viajar, tendo também em vista continuar a melhorar o meu estilo.
ANTÓNIO PAISANA
A cara da notícia
António Lino Netto Paisana nasceu a 28 de Janeiro de 1980, em Lisboa. Estudou no Colégio Valsassina e Liceu Pedro Nunes. De 1998 a 2004 cursou Direito na Universidade Católica de Lisboa. Frequentou o programa Erasmus em Salónica, no ano lectivo de 2001/2002, na Universidade Aristoteles, Tessalónica. Em Portugal faz o estágio da Ordem dos Advogados na sociedade de advogados “Campilho, Ribeiro Telles, Schiappa Cabral, Ulrich & Associados –
Soc. advogados” de Setembro de 2004 a Dezembro de 2005 e de Janeiro de 2006 até agora, no escritório “Pires de Lima” Advogados.
Inspirado na experiência do programa Erasmus, António Paisana escreve Erasmus de Salónica (2006), com a chancela da editora Presença.
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