Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano IX    Nº104    Outubro 2006

Cultura

GENTE & LIVROS

Camilo Pessanha

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, / Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;/ E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar/ Onde fosse feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. / E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. / Nem depois de acordar te procurei no leito/ Como a esposa sensual do «Cântico dos Cânticos».

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo /A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso /Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio /Da luz crepuscular, que enerva, que provoca./ Eu não demoro o olhar na curva no teu seio /Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo.../ Eu não sei que mudança a minha alma presente.../ Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, /Que adoecia talvez de te saber doente.

in Clepsidra

 

Camilo de Almeida Pessanha, nasceu a 7 de Setembro de 1867, em Coimbra. 

Tal como o pai, cursa Direito na Universidade de Coimbra, formando-se no ano de 1891. No ano anterior contribui para a obra colectiva “Nefelibatos”, criada no Porto por António Nobre, Alberto de Oliveira e Raul Brandão.

Em 1894 muda-se para Macau, onde dá aulas de Filosofia; seis anos mais tarde é nomeado conservador do registo predial em Macau e posteriormente juiz de comarca. 

Alguns poemas de Camilo Pessanha são publicados na revista Ave Azul e em jornais de província, no ano de 1899.

Doente dos nervos, volta algumas vezes a Portugal em busca da cura, que todavia não encontra. Desiludido, regressa definitivamente a Macau em 1915, onde leva uma vida solitária e excêntrica.

Tem por hábito escrever poemas em folhas soltas que oferece depois aos amigos. Alguns poemas dispersam-se, outros perdem-se. Camilo Pessanha não se preocupa em fazer cópias dos seus poemas mas conseguia reproduzi-los de memória. Os amigos João Castro Osório e Ana de Castro Osório cuidaram da sua obra posteriormente reunida em Clepsidra (1920). O livro Clepsidra contêm também os poemas publicados em revistas, sendo a grande maioria inéditos.

A poesia foi o seu território privilegiado mas também escreveu sobre literatura e cultura chinesa, em China (1944).

O mais puro simbolista de Portugal, profunda influência da geração de Orpheu, morre no dia 1 de Março de 1926, vitimado pelo ópio.

Página coordenada por
Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

DOM QUIXOTE. O Acto de Amor do Povo, de James Meek. Decorre o ano de 1919, na Sibéria, uma pequena seita cristã, liderada pelo carismático Balashov, sobrevive com dificuldade à guerra civil. Quando Samarin, um fugitivo dos campos de prisioneiros siberianos, vem para a comunidade, a sua presença causa estranheza nos locais, onde se conta Anna Petrovna, a jovem viúva de guerra. A suspeita e o medo tomam conta do lugar, no dia em que o xamã é morto. Uma grande história de amor e sacrifício, que vem comprovar o talento de James Meek. 


CAMPO DAS LETRAS. José Afonso: O Que Faz Falta – Uma memória plural, com introdução e organização de José Jorge Letria e José Fanha. Para discutir a excelência do músico, os críticos são suficientes, para recordar o homem extraordinário, fazem falta os amigos. « Neste tempo de desertificação da memória, falar de José Afonso é falar dos valores que a voragem do tempo e o jogo dos pequenos e grandes interesses não podem fazer prescrever. Falar de José Afonso é falar de uma obra sempre actual e pujante que urge continuar a reeditar e é imperioso ouvir sempre e sempre.» - José Jorge Letria e José Fanha. 


PIAGET. Acompanhar a Criança - Segundo o seu Temperamento, de Gérard Caron. Sobre o desenvolvimento sócio-afectivo e intelectual da criança, o autor faz uma abordagem global do seu temperamento: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático. São quatro os temperamentos “padrão”, em relação com determinada forma de inteligência múltipla reconhecida: Linguística, lógica matemática, espacial, quinestésica, rítmica interpessoal e intrapessoal. Um livro a pensar no bem-estar da criança, na compreensão e aproximação ao seu universo.


CAMINHO. Lavrar o Mar – Um novo olhar sobre o relacionamento entre pais e filhos, de Daniel Sampaio, com colaboração de Eulália Barros. Não existem pais perfeitos, existem pais determinados no seu papel e que por isso tem dúvidas sobre a melhor forma de educar os filhos. Sempre empenhado na resolução de questões do relacionamento familiar, Daniel Sampaio propõe não receitas mágicas, mas pistas valiosas para o estabelecimento de pontes, que passam necessariamente pelo amor e a disciplina.


DIFEL. Inés da Minha Alma, de Isabel Allende. Esta é a história de Inés Suárez, a jovem costureira da Extremadura que embarca rumo ao Novo Mundo, à procura do marido perdido em sonhos de fortuna e glória. Na América, encontra o amor com Pedro de Valdivia, mestre de campo de Pissarro, com quem vive as aventuras da conquista e fundação do Chile. Inés é também a generosidade no feminino e a capacidade transformadora do amor. 


AMBAR. Picasso e as Mulheres, de Paula Izquierdo. Pablo Picasso foi o pintor que mais se destacou no século XX e um dos maiores de sempre. Entre os traços da sua personalidade, fazem parte a originalidade, o talento, a genialidade mas também a violência psicológica que exerceu sobre as mulheres, que todavia ocuparam um lugar importante na sua obra, e na sua vida. Picasso levou a tendência para a experimentação até às relações humanas, sobretudo com o género feminino. 


PRESENÇA. A Dália Negra, de James Ellroy. Esta obra é a ficção de um crime que ocorreu de facto, nos finais dos anos 40, na cidade de Los Angeles. Conhecido pela imprensa como o caso da «Dália Negra», a vítima, Elizabeth Short - jovem aspirante a actriz - enfeitava o cabelo com uma dália dessa cor. Para esta investigação são destacados os detectives Bucky Bleichert e Lee Blanchard, amigos e ex-lutadores de boxe, conhecidos por Gelo e Fogo. A vida de Elizabeth Short torna-se para eles uma obsessão, que não conduz contudo à verdade sobre a sua morte. Uma obra maior do policial negro. 


CAVALO DE FERRO. Diário da Guerra aos Porcos, de Adolfo Bioy Casares. «Bioy Casares disse-me em tempos que escrevera este romance numa altura em que se sentiu envelhecer. Talvez por isso esta crónica divertida e terna não envelheça nunca e seja tão nova como a luz de cada dia.» Gabriel García Márquez . O que dizer do livro que reuniu as melhores críticas de Gabriel García Marquez, Octávio Paz e Jorge Luis Borges? Talvez o excelente não baste.


MINERVA. Shigmó Brincando com o Fogo..., de Azira Can. «Na direcção contrária à aldeia, por entre a floresta, um corta-mato com cerca de cinco quilómetros, levava o transeunte a uma aldeia maior, onde anualmente se realizava um dos maiores festivais, o Shigmó conhecido noutros Estados como o “holi” ou a Festa das Cores. Nandini sonhava assistir a este famoso festival de traços evidentes e bem preservados das tradições tribais (…).” Em Shigmó, o romance e a aventura andam juntos numa Índia bem caracterizada histórica e socialmente.


PERGAMINHO. A Bruxa de Portobello, de Paulo Coelho. O último romance do escritor mais vendido em todo o mundo, conta-nos a história de Athena. Quem é Athena? Para uns, filha e mãe extremosa, profissional dedicada, mulher determinada, para outros, a mulher mal-intencionada que vive do sofrimento dos outros, a bruxa. Através do relato dos que a conhecem, surge o retrato de Athena, a bruxa de Portobello


ASA. O Poder dos Sonhos, de Luis Sepúlveda. Como afirma o escritor chileno : «Sonhamos que é possível outro mundo e tornaremos realidade esse outro mundo possível.» Autor de livros tão conhecidos entre nós, como: As Rosas de Atacama; Nome de Toureiro; ou O Velho que Lia Romances de Amor, Luís Sepúlveda, com grande humanismo, escreve para dar voz às vitimas, aos que não têm liberdade, aos que sofreram e sofrem, no Chile e no resto do mundo. 


COTOVIA. A Máquina do Arcanjo de Frederico Lourenço. O autor continua a sua narrativa semi-autobiográfica iniciada em Amar não Acaba. O narrador está agora a braços com um difícil problema de “gestão sentimental”. Um amor avassalador que comporta momentos de sofrimento e transforma a sua vida de músico, em helenista. 


EUROPA-AMÉRICA. Júlio e Alexandre? Estes nomes dizem-te alguma coisa? Não, não estamos a falar do tio de Leiria e do vizinho do 2º andar. Estamos a falar de Júlio César e os Seus Amigos da Onça, de Toby Brown; e Alexandre o Grande e a Sua Mania das Grandezas, de Phil Robins e ilustração de Clive Goddard. Da colecção Finados Famosos, eis que ressuscitam mais dois, um romano, outro grego.

 


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