JOÃO CARLOS SILVA, O
APRESENTADOR DE "NA ROÇA COM OS TACHOS"
"Cozinhar é um
acto de educação!"

João Carlos Silva passou de ilustre desconhecido a fenómeno de audiências e de vendas, na televisão, nos livros, e agora também em DVD. Em entrevista ao Ensino Magazine, este são-tomense de 49 anos, afirma que a cozinha é sinónimo de poesia e prazer e, tal como no amor, também aqui deve cultivar-se a criatividade e quebrar as rotinas. O «cozinhador», como faz questão de se auto-definir, defende que a arte de cozinhar já não é exclusiva das mulheres e relembra os seus tempos, mais de «boémio» do que de estudante, em Coimbra.
«Na Roça Com os Tachos» é um sucesso, quase que se pode dizer, multimédia: primeiro na televisão (RTP-África e RTP-Internacional), depois em livro (já na quinta edição) e agora em dvd. Esta projecção súbita está a mudar o seu dia a dia?
Evidentemente que as solicitações aumentaram, mas a minha afirmação enquanto figura pública não alterou nem o meu ritmo de vida, nem a minha forma de ser. Continuo a ser o João Carlos Silva de sempre. Claro que o êxito de «Na Roça Com os Tachos» dá-me estímulo para continuar e nesse sentido estou já a preparar um novo projecto televisivo e um segundo livro.
Nesse novo livro estarão disponíveis as receitas que não couberam no primeiro?
O livro que sairá dentro de alguns meses terá semelhanças e diferenças relativamente ao primeiro que lancei. As minhas receitas e as fotografias da Adriana Freire são os pontos em comum com o livro já editado, mas tentaremos explorar a parte cultural e turística de São Tomé e Príncipe, recorrendo a imagens que o público não teve oportunidade de ver em «Na Roça Com os Tachos».
Apesar do sucesso não tem dado muitas entrevistas e segundo sei tem recusado convites para algumas revistas cor de rosa. Incomoda-o o assédio destas publicações?
Durante os 365 dias do ano eu divido o meu tempo entre São Tomé, Portugal, Brasil e França. O muito trabalho que tenho em São Tomé impede-me a permanência a tempo inteiro em Portugal. Como tal, nem sempre é fácil compatibilizar agendas. Por outro lado, reconheço que não gosto de me expor demasiado. É uma opção pessoal. Não me deslumbro facilmente com a fama e ainda menos quando se tem quase 50 anos. Com a maturidade que a idade traz, tenho a certeza do que quero. Eu costumo dizer que cheguei à estação da felicidade da minha vida, onde procuro aproveitar o meu tempo com o que me dá mais prazer: a família, os amigos e o trabalho.
Para ter sucesso no mundo televisivo é preciso saber comunicar e ter uma imagem apelativa. Pensa que reúne essas características?
Dizem que sou um bom comunicador, mas creio que a chave do êxito reside na simplicidade e naturalidade da mensagem que se transmite. Não é fácil chegar com tranquilidade aos
telespectadores, mas eu penso que consigo atingir esse objectivo. O João Carlos Silva que as pessoas vêem no programa é o João Carlos Silva do dia a dia.
Pensa que foram esses, juntando também a componente poética e cultural que procura conferir a um acto tão singelo como cozinhar, os seus principais trunfos?
A cozinha tem mais poesia e cultura do que as pessoas imaginam. E é possível cozinhar coisas simples com bons resultados, dando-nos, ao mesmo tempo, sensações de prazer. Tenho-me apercebido que nos dias que correm as pessoas procuram cada vez com mais ânsia aquilo que é simples e que se relaciona mais de perto com a sua existência.
Por outro lado, há uma perspectiva muito importante desta actividade que eu procuro realçar: a cozinha serve, entre outras coisas, para unir. O objectivo de comunhão é fundamental. Creio que essa mensagem foi decisiva para o programa ter uma boa aceitação em diversas faixas etárias e estratos sociais.
O facto de o seu programa ser gravado ao ar de livre e numa ilha com paisagens paradisíacos foi uma aposta ganha?
Procurou-se estabelecer a ponte entre a origem da vida e o que rodeia o homem, apostando a 100 por cento na natureza, tanto em termos paisagísticos, como em termos gastronómicos, numa altura em que ouvimos falar em produtos alimentares geneticamente modificados, etc. Enquanto isso, no meu programa íamos atrás de um frango para cozinhá-lo. Grande parte das crianças que vivem nas grandes cidades nunca viram galinhas ou pintos numa exploração agrícola, por isso,
também nessa vertente, «Na Roça Com os Tachos» tem uma componente educativa.
Confessou numa entrevista recente que «cozinhar é como fazer amor» e a culinária é uma arte. Que paralelo se pode estabelecer entre o orgasmo sexual e o orgasmo gastronómico?
Antes de mais, é sabido que alguns ingredientes utilizados na cozinha são de carácter afrodisíaco e, como tal, estimulam o desejo sexual. Repare que a apresentação de um prato, a disposição de uma mesa ou o vinho, são formas de estreitar os laços numa relação entre um casal ou entre duas pessoas que desejem conhecer-se de forma mais profunda. Por isso, eu defendo que cozinhar é um acto de sedução. Mas da mesma forma que a rotina no amor esgota uma relação, também não se pode cozinhar de uma única maneira. É preciso criatividade e imaginação, tanto no amor como na cozinha. Para quem ainda não deu por isso, verá que são dois óptimos complementos....
Quais as principais diferenças entre a gastronomia africana e portuguesa?
A cozinha é o nosso bilhete de identidade cultural. Há formas milenares de como se cozinhar em diversas latitudes do mundo e Portugal não foge à regra. As cozinhas europeia e africana têm as suas particularidades, mas estão a sofrer o efeito da globalização. As cozinhas dos vários continentes estão cada vez mais mestiças porque estão a tornar-se pontos de encontro de culturas.
A beleza natural do nosso país e a qualidade da nossa gastronomia, são sempre elogiados pelos estrangeiros que nos visitam. A cozinha portuguesa pode ser considerada uma das melhores do mundo?
Os elogios têm toda a razão de ser. A cozinha portuguesa é extremamente rica, precisamente devida às influências culturais que sofreu e por ser de natureza mestiça. O intercâmbio que tivemos ao longo dos séculos com diferentes povos reflecte-se à mesa. A cozinha tradicional portuguesa é algo que é muito bem concebido, nunca perdendo de vista as raízes e as tradições seculares, mas também se vê vontade de introduzir algum toque de novidade e modernismo em pratos mais conservadores.
A vida moderna faz com que as mulheres progressivamente estejam mais independentes e mais longe dos tachos e das panelas. Vão ser os homens a dominar a cozinha nos tempos mais próximos?
Os homens sempre gostaram de cozinhar. Veja que os grandes «chef’s» de cozinha são do sexo masculino. O ascendente das mulheres nessa tarefa doméstica prende-se com discriminações do passado e cujo desempenho nunca foi verdadeiramente reconhecido pela sociedade. Na verdade, o trabalho doméstico feminino sempre foi pouco valorizado. Mas estou convicto que o século XXI será das mulheres. Desejo e estou em crer que teremos mais mulheres a governar, mais mulheres a fazer cinema, mais mulheres na música, etc. Elas têm uma sensibilidade única e um olhar especial, que não está ao alcance dos homens.
Segundo a sua perspectiva, as mulheres tenderão a ter menos disponibilidade para a cozinha. Isso vai implicar que os homens, por necessidade ou por gosto, tomem conta da cozinha?
A meu ver, a tendência será uma crescente divisão de tarefas. A cozinha não será , e já não é, neste momento, um «território» exclusivo das mulheres.
Que conselhos ou ensinamentos daria a uma pessoa que a si se dirigisse e lhe confessasse não saber, sequer, estrelar um ovo?
Tentar, não ter medo de errar e estar bem consigo próprio. Com o tempo, vai tomando o gosto pela cozinha e não é preciso necessariamente existir vocação.
Sonha um dia ser um dos maiores cozinheiros do mundo, talvez da dimensão do catalão Ferran Adriá, um dos «chef’s» do momento e dono de um restaurante, o «El Bulli», na Catalunha, que necessita de marcação com meses de antecedência?
Não acalento esses sonhos. Aliás, eu não sou um «chef» de cozinha, sou aquilo a que eu chamo um «cozinhador». Tenho o meu restaurante em São Tomé e Príncipe e um projecto de turismo rural e penso, se tudo correr bem, abrir um restaurante em Portugal. Se expandir o meu negócio, será certamente no vosso país.
Nuno Dias da Silva
ESCOLA DE MÚSICA EM
CASTELO BRANCO
Quinta do Bill actuam
em privado

O grupo Quinta do Bill marcou a inauguração da escola de música e dança Notas à Solta, em Castelo Branco, através de um mini concerto para amigos e convidados.
A violinista da banda é uma das promotoras da escola. Uma instituição que pretende estar aberta à participação de todos os públicos, dos três aos 100 anos. “A música e a dança são cultura e devem chegar a todas as pessoas e não apenas a alguns” lembram Dalila Marques e Helena Velho, as responsáveis por este empreendimento.
A presença da banda Quinta do Bill, acabou por marcar a inauguração do espaço. O grupo interpretou, ao vivo, alguns dos temas que os guindaram para o topo do panorama musical português. Um momento de animação, a seguir ao qual o vocalista da banda deixou votos de felicidades à escola: “É sempre bom quando aparece mais uma escola de música, na medida em que a música é um estímulo para a vida”, disse, acrescentando que “a partir de agora, em Castelo Branco, há mais uma oportunidade para as crianças e os jovens de todas as idades começarem a tocar e a dançar”.
Como se sabe, as instalações desta escola estão a dois passos do centro da cidade, mais precisamente entre a Escola Superior de Educação e a Quinta Dr. Beirão, na Rua Dr. António dos Santos Amaral, e a intenção de ambas as jovens empresárias é que “a música e a dança estejam à disposição das pessoas, sem uma obrigação curricular”.
Dalila e Helena têm raízes em Castelo Branco e daí que tenham optado por se instalar nesta cidade para concretizarem as suas metas.
Com uma área de 160 metros quadrados, a nova escola de música e dança albicastrense conta, no capítulo da música, com aulas de diversos instrumentos, como violino, clarinete, guitarra, piano, flauta transversal, saxofone, trompete e acordeão. Nas danças, estão para já disponíveis aulas de dança contemporânea, danças de salão e hip-hop.
Esta escola tem também como objectivo a articulação em termos de animação cultural com as instituições da cidade de Castelo Branco que estejam disponíveis para esse fim.
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