Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano IX    Nº100    Junho 2006

Universidade

JORGE ARAÚJO, REITOR DA UNIVERSIDADE DE ÉVORA

Academia do Alentejo em marcha

A criação de uma grande academia de ensino superior que envolva a Universidade de Évora, e os Institutos Politécnicos de Beja, Portalegre, Santarém e Setúbal, é um objectivo que o novo reitor daquela universidade gostaria de ver concretizado. Os contactos já começaram e Jorge Araújo acredita que a união de esforços e partilha de conhecimento é vantajosa para todos.

Em entrevista ao Ensino Magazine, aquele responsável fala dos desafios que a implementação do Processo de Bolonha acarreta, da abertura da universidade à comunidade e dos seus objectivos enquanto reitor. De caminho explica porque é que decidiu recandidatar-se a um cargo que tinha sido seu nos oito anos que antecederam a reitoria de Manuel Ferreira Patrício.

Uma das suas prioridades, anunciadas durante o processo eleitoral para a reitoria, passava por enquadrar a Universidade nos princípios da Declaração de Bolonha. Isso já está a ser feito?

Já e de forma intensa. Desde o momento em que tomei posse até ao próximo mês de Novembro esse processo de harmonização deverá estar concluído. Mas esta é apenas a primeira etapa dessa harmonização e a mais fácil, pois trata-se de uma adaptação formal dos cursos de acordo com as novas regras que o Governo transcreveu em Lei. O mais difícil começa depois, no processo de mudança de mentalidades. Bolonha implica uma mudança de paradigma de um formato clássico do ensino, para um modelo assente na aprendizagem.

Essa mentalidade a que se refere abrange toda a academia?

Bolonha obriga a que os docentes e os alunos mudem as suas mentalidades e penso que aí é que começa a parte mais difícil de todo este processo.

E na Universidade de Évora, as pessoas estão receptivas à mudança?

Estão, na sua maioria. No entanto, há sempre uma franja da academia (docentes e alunos), mais conservadora, que vê no processo de Bolonha alguma diabolização e o demolir do conceito de universidade. E aquilo que eu lhes digo, a essa franja, é que essa ideia assenta num conceito de uma universidade velha que não foi capaz de se adaptar ao mundo que a rodeia e de perceber que a Universidade deve virar-se para o público e dar respostas aos anseios das pessoas. 

Mas o processo de Bolonha foi lançado por uma das mais antigas universidades da Europa…

Isso é o que eu digo a esses meus colegas e aos estudantes. E aqui há dois conceitos que chocam: o velho e o antigo. As universidades antigas, como Bolonha e Sorbone, tiveram a capacidade de perceber que os tempos são outros e que eram necessárias outro tipo de respostas, assumindo a responsabilidade de serem as universidades os motores dessa mudança. Por outro lado, a perspectiva velha, é aquela em que a universidade apresenta-se fechada, altaneira, orgulhosa do seu saber, mas não disposta a pactuar com as exigências do mundo que a rodeia.

A instituição universidade é muitas vezes vista como um meio mais clássico e fechado…

Sim… aquilo que nós queremos é fazer com que os estudantes aproveitem o período que passam na universidade para adquirirem conhecimentos, mas sobretudo competências. E as competências são aquelas que o mercado de trabalho exige, como por exemplo a destreza linguística e informática, as capacidades inter-relacionais e todo um conjunto de desenvolvimentos intelectuais, que acompanham a aquisição de conhecimentos específicos. Mas hoje dá-se uma ênfase muito grande às competências genéricas.

Neste processo, os politécnicos estarão mais preparados para proceder à adaptação dos cursos?

Os Politécnicos visam uma formação mais profissionalizante, aquilo que a universidade deve procurar é a empregabilidade. São dois conceitos diferentes. A empregabilidade decorre do desenvolvimento das capacidades inter-relacionais e ditas genéricas. No politécnico a empregabilidade decorre da aprendizagem de competências específicas.

Bolonha é por isso uma oportunidade que a Universidade de Évora deve saber aproveitar?

Claro que sim! Eu estou 100 por cento com o processo de Bolonha. E esta oportunidade deve ser aproveitada não só por Évora mas por todas as outras universidades.

No caso concreto de Évora, todos os cursos já estão adaptados?

Não, neste momento estão adaptados cinco cursos (Sociologia, Turismo, Gestão, Economia e Psicologia). Até 15 de Novembro vamos ter propostas para todos os outros cursos, o mesmo sucedendo para os segundos ciclos de formação.

É com este esforço que se consegue colocar a Universidade de Évora no contexto europeu. O que é que ainda falta mais?

Colocá-la em destaque no contexto nacional. Todo este processo é um passo importante, mas no contexto nacional vivemos um período difícil. As regras que o Governo dita para o financiamento das universidades são igualitárias e aplicam-se a todas as instituições e regiões. Isto faz com que as universidades do litoral, que têm acesso a uma população mais abundante, reajam de maneira diferente às que estão no Interior, como é o nosso caso, da UBI, Algarve e da Utad. 

Deveria haver medidas discriminativas para as instituições de ensino superior do interior do país?

Sim, se o poder político entender que deve equilibrar o país. E estas medidas não estão apenas relacionadas com o ministério da tutela, mas sim com uma política global do Governo e do desenvolvimento do país. Se o Governo quiser implementar uma política que equilibre o interior e o litoral, tem que discriminar positivamente as instituições do interior. O que não tem acontecido.

E se a situação se mantiver, como é que essas instituições poderão continuar a sobreviver?

Cada uma delas terá que encontrar a sua via própria de sobrevivência. Nesse caso não há receitas. E essa via implica o recurso a outras formas de financiamento, o que não é de todo negativo. Isto porque vai fazer com que procuremos novos públicos.

E que novos públicos são esses?

São vários. Por um lado, os alunos que terminam o secundário e que não entram na universidade. Por outro temos a classe trabalhadora, que necessita de formação, de acções de reciclagem, a chamada formação ao longo da vida. Há ainda as pessoas com mais de 23 anos, que através de um exame poderão entrar no curso que desejam, com a vantagem de poderem vir a ter alguns créditos devido à sua experiência profissional, o que lhes permite progredir mais depressa.

A rede de ensino superior necessita de ser reorganizada. Concorda com esta posição?

Claro que a rede necessita de ser reorganizada. Mas devemos ter em conta duas questões. Nós criticamos muito os governos pela proliferação das instituições de ensino superior. Mas olhando para trás, verificamos que essa proliferação de cursos permitiu a muita gente ter acesso ao ensino superior, o que de outra forma seria impossível. Foi um choque de formação intenso. Passados todos estes anos, verifica-se que há necessidade de uma reordenação de cursos e regionalização de funções. Por exemplo, não se justifica que haja 21 cursos de engenharia agrícola.

E as instituições vão chegar a consenso nessa matéria?

Não acredito que isso aconteça, por mais diálogo e companheirismo que exista entre todos os reitores ou presidentes de politécnicos, cabe ao Governo regular.

Há quem defenda a criação de redes de ensino superior em determinadas regiões. Também é essa a sua posição?

Essa é a minha proposta, no sentido de criar a Academia do Alentejo, a qual envolverá a Universidade de Évora, única no Alentejo, e os institutos politécnicos de Beja, Portalegre, Santarém – lezíria do Tejo está ligada a este lado – e Setúbal. A academia permitirá a partilha de recursos entre as instituições. Nós podemos ter algumas lacunas, as quais os politécnicos nos poderão ajudar, mas nós também os poderemos apoiar nas lacunas que eles tiverem, por exemplo na implementação do segundo ciclo da formação inicial. Depois de um primeiro contacto, eu próprio vou reunir com os meus colegas presidentes.

O professor já tinha estado oito anos à frente da Universidade e agora decidiu voltar. Porquê?

Por imperativo de consciência. Estive oito anos como reitor numa época diferente, que me deu um conhecimento ímpar desta casa. Depois, estive quatro anos como professor, onde tive a oportunidade de ver as consequências das políticas emanadas da reitoria. O facto de ter estas duas experiências e deste ser um momento importante para a Universidade, fez com que estivessem reunidas as condições para que eu fosse útil à universidade e me candidatasse ao cargo.

 

 

 

PROCESSO DE BOLONHA EM ÉVORA

Quatro cursos avançam

A Universidade de Évora vai oferecer no ano lectivo 2006/2007 quatro licenciaturas já adequadas ao Processo de Bolonha: Turismo, Sociologia, Gestão e Economia. Os cursos (correspondentes ao primeiro ciclo) terão uma duração de seis semestres lectivos, ou seja, de três anos.

As Licenciaturas em Turismo e Sociologia são compostas por percursos alternativos. No caso da Licenciatura em Turismo o aluno poderá optar por três percursos: Turismo e Desenvolvimento, Turismo e Animação Cultural e o Percurso Composto (a construir pelo aluno). Saliente-se que o último semestre desta licenciatura corresponde à frequência de um estágio profissional. A adequação do referido curso aos Princípios de Bolonha visa proporcionar a aquisição de competências e conhecimentos gerais, consolidantes de uma formação especializada básica na área do Turismo. Segundo a direcção do referido curso, esta formação está orientada para “preparar os licenciados no sentido de intervir nas actividades turísticas e de aceder ao mercado de trabalho. Tem ainda em vista alicerçar a continuidade da formação a realizar em nível de mestrado e doutoramento”. Tem como saídas profissionais: Administração Pública, Regiões de Turismo, Agências e Sociedades de Desenvolvimento, Autarquias e Associações de Municípios, Empresas Turísticas, Associações de Desenvolvimento Local/Regional e Centros de Formação Profissional e Escolas Profissionais.

Na Licenciatura em Sociologia, os alunos poderão optar por quatro percursos alternativos: Políticas Sociais e População, Desenvolvimento e Recursos Humanos, Análise Social e Investigação Sociológica, Percurso Composto (a construir pelo aluno). 

Segundo a Comissão da Licenciatura em Sociologia, após a conclusão do curso, os novos licenciados ficam aptos para uma intervenção na sociedade e acesso facilitado ao mercado de trabalho. Assim, o referido curso objectiva a consecução de um perfil de saída do aluno licenciado que: Conhece bem o núcleo e os fundamentos do saber em que se forma – o saber sociológico; Conhece as suas fronteiras e disciplinas afins e, como tal, o modo como se constitui e evolui este campo que é suposto dominar; Domina os métodos e saberes-fazer essenciais inerentes à Sociologia; Conhece os saberes aplicados e pelo domínio do seu tratamento é capaz de desenvolver projectos de pesquisa e realização de tarefas ou objectos mais complexos que lhe venham a ser requeridos; Está orientado para pelo menos uma área de especialização relativamente à qual já teve acesso a boa parte da informação que a constitui. As saídas profissionais são: Administração Pública e Autárquica; Serviços Estatais, Centrais e Regionais, Sector Empresarial, Ensino e Investigação.

A adequação da Licenciatura em Gestão ao processo de Bolonha pretende: Dotar os alunos de adequada e sólida formação científica na área da gestão; formar graduados com capacidade de inserção no mercado de trabalho e flexibilização de desempenho; incentivar o espírito de iniciativa e estimular a criação do próprio emprego; dotar os alunos de capacidade de raciocínio transdisciplinar e integrado nas organizações; fomentar valores culturais e de cidadania que consolidem uma sólida formação geral; incrementar a mobilidade dos alunos a nível internacional, quer ao nível de instituições de ensino superior quer ao nível das organizações; dotar os alunos de capacidade de implementação e utilização das tecnologias de informação e de comunicação de suporte à gestão. As saídas profissionais são: Empresas industriais, Empresas de serviços, Instituições financeiras, Instituições públicas, Autarquias locais, Estabelecimentos de ensino médio e superior politécnico e Investigação científica. 

A Licenciatura em Economia pretende: Prestar uma sólida formação teórica que permita compreender de forma aprofundada os fenómenos económicos nas suas vertentes macro e micro, real e monetária, em domínios como a produção, o consumo e o desenvolvimento; Facultar a aquisição dos instrumentos auxiliares necessários à análise dessa realidade designadamente na ara dos métodos quantitativos e informáticos. As suas saídas profissionais são: Banca e seguros, Consultadoria e projectos, Empresas (sectores administrativo, financeiro e comercial), Administração pública, Organismos económicos nacionais e internacionais, Ensino e investigação.

N.M.

 

 

 

ALGARVE E HUELVA

Universidades assinam acordo

Francisco Martínez Lopez, da Universidad de Huelva, e João Guerreiro, da Universidade do Algarve, acabam de assinar um protocolo de cooperação científica e pedagógica de âmbito transfronteiriço. O acordo foi firmado a 6 de Junho, no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve, num encontro onde foram debatidos temas como o da investigação científica, da mobilidade de docentes e estudantes, da oferta conjunta de pós-graduações, da cooperação em áreas relacionadas com a transferência de tecnologia e da extensão universitária.

As Universidades do Algarve e de Huelva dispõem-se assim a encontrar formas de parceria em áreas científicas afins, acordam na definição de linhas de investigação conjuntas, a explorar caso a caso e predispõem-se a fomentar a mobilidade de docentes e estudantes entre as duas instituições, explorando designadamente os mecanismos proporcionados pelos Programas Erasmus e Leonardo da Vinci.

O protocolo prevê ainda o estabelecimento de um programa de oferta de pós-graduações, Mestrados e Doutoramentos, com reconhecimento mútuo, já no próximo ano lectivo 2006/2007. Querem ainda colaborar mais com o tecido empresarial e entendem que o êxito da Região de Conhecimento do Sudoeste Europeu dependerá da capacidade de mobilização das principais instituições comprometidas com o Ensino Superior e com a Investigação Científica, pelo que acordam em convidar outras instituições universitárias e politécnicas inseridas nesta área geográfica.

PESCA. O Grupo de Investigação Pesqueira Costeira do Centro de Ciências do Mar -Universidade do Algarve está a realizar um estudo sobre a actividade da pesca recreativa na zona sul de Portugal. O estudo pretende avaliar a importância sócio-económica desta actividade a nível regional, verificar quais as espécies mais capturadas e calcular as respectivas quantidades.

 

 

 

NO OCEANO ANTÁRTICO

Cientista algarvio investiga

Hoje é possível estimar a distribuição de espécies raras usando dados de rastreio, conseguidos via satélite através dos seus predadores. A conclusão resulta de um novo estudo publicado no jornal Ecography, um dos mais cotados internacionalmente em Ecologia.

A sua importância resido no facto de Desde sempre, numerosos predadores como baleias, pinguins, focas e albatrozes capturam espécies que são raramente apanhadas por redes. Assim, até ao momento não era possível estimar onde os predadores as capturavam, havendo um desconhecimento total sobre a vida de um grande número de espécies de peixe, lulas e crustáceos.

Os estudos realizados no Oceano Antárctico por José Xavier, do Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve, e seus colegas da British Antarctic Survey (Inglaterra) revelam que através de modelos matemáticos, aplicados a dados de rastreio via satélite de albatrozes, conjuntamente com dados de oceanografia e de dieta, é possível estimar a distribuição e, consequentemente, conhecer a ecologia de inúmeras espécies raras presentes em áreas pouco conhecidas dos nossos oceanos.

Segundo o autor principal deste estudo, José Xavier, “o artigo é revolucionário pois é o primeiro que avalia criticamente como se estima a distribuição a larga escala de espécies marinhas usando dados de rastreio dos seus predadores. Ou seja, no futuro todos as investigações nesta área terão como base este estudo”.

 

 

 

ROBÓTICA INDUSTRIAL

Coimbra dá cartas

Os trabalhos realizados por alguns dos alunos de licenciatura e mestrado de um dos mais conhecidos e conceituados Departamentos de Engenharia Mecânica de universidades portuguesas foram apresentados no I dia da Robótica Industrial do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

A iniciativa, realizada a 8 de Junho, pretendeu promover o contacto dos estudantes com o mundo empresarial e de divulgar os trabalhos de investigação realizados por eles no âmbito da disciplina de Robótica Industrial, pelo que incluiu uma demonstração prática de uma célula de produção numa empresa, em diversas vertentes: utilização de robôs, programação de controladores, visão, etc.

 

 

 

AVEIRO NO ESPAÇO

Física com Estação

O Departamento de Física da Universidade de Aveiro tem uma nova estação de recepção de imagens de satélite. Denominada HRPT/CHRPT, é única no país e consegue obter perfis atmosféricos que permitem determinar, com maior precisão, por exemplo, a previsão do estado do tempo, a temperatura da água do mar e identificar focos de incêndio.

A alta resolução, comparativamente aos dados actuais fornecidos pelo satélite geostacionário Meteosat – que, à altura de 36000 km, se move em simultâneo com o movimento de rotação da Terra, permitindo a monitorização quase contínua do disco planetário voltado para o satélite – é a característica dominante do equipamento.

De acordo com Maria Dolores Orgaz, responsável pela Torre Meteorológica, como a Terra apresenta o movimento de rotação, o satélite não passa sempre “sobre” a mesma vertical local da Terra. Assim, três segundos antes do satélite apontar no horizonte de visão da antena – instalada no prédio de Física – esta é automaticamente apontada para onde ele deve ser “visível” pelo receptor, ficando a aguardar o sinal e a transmissão para recepção dos dados. O sistema GPS, pequena antena instalada junto à radoma (cúpula que cobre a antena) fornece a hora, com a devida precisão, para poder receber e acompanhar a órbita do satélite.

 


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