Orgulhosamente
atrasados?
Na passada semana foi tornado público o relatório de avaliação do programa de acompanhamento da utilização educativa da Internet nas escolas públicas do 1º Ciclo do Ensino Básico, vulgarmente conhecido por Internet@eb1.
Pouco de novo em relação à informação disponível através dos últimos estudos produzidos sobre a matéria: Os professores do 1º ciclo estão mais familiarizados com as tecnologias da informação e da comunicação, mas têm dificuldades em utilizar essas tecnologias em contexto da sala de aula. Por outro lado o relatório confirma, uma vez mais, que no domínio das Tic os docentes evoluem em ordem aritmética, enquanto que os alunos o fazem em ordem geométrica: no último ano 65 por cento dos estudantes obtiveram um Diploma de competências básicas em Tic; no mesmo período apenas 9 por cento dos docentes o fizeram. Logo, a não ser feito um esforço de formação dos professores (para quê equipar as escolas se não se equipam os professores?) um preocupante fosso separará, cada vez mais, aprendentes e educadores, quanto à sua participação na sociedade do conhecimento e da informação.
Aliás, o último estudo entretanto também divulgado pela Eurostat confirma que, a seguir aos portugueses, só os gregos, os italianos e os húngaros provam dominar ainda menos as novas tecnologias da informação. Este trabalho revela que 54 por cento dos nossos cidadãos não têm conhecimentos básicos para o a cesso a estas tecnologias; 72 por cento não acedem regularmente à Internet e 53 por cento nunca usaram um computador na vida.
Existe, pois, um grande desafio que se coloca à escola, às famílias e aos educadores: o de saber fomentar a aprendizagens das tecnologias digitais, sabendo, simultaneamente integrá-las num ambiente educativo. Para que essas tecnologias digitais promovam as mudanças esperadas no processo educativo, devem ser usadas não como simples máquinas para ensinar ou aprender, mas como ferramentas pedagógicas que criem um ambiente interactivo que proporcione ao aprendiz, face a múltiplas situações problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e redefinir as suas ideias iniciais, construindo, assim, o seu próprio conhecimento.
Infelizmente, como se constata pelos dados das diferentes pesquisas, há um imenso abismo entre o conhecimento tecnológico que possuem os professores e a sua relação e implicação com a prática pedagógica. Para muitos a tecnologia é a simples utilização da máquina. Por sua vez, muitos alunos dominam de forma mais eficaz as tecnologias da comunicação do que a generalidade dos professores.
Revela-se então necessário diminuir esse fosso digital. Isto é, antes de ensinar a aprender com as tecnologias, urge que o educador aprenda a utilizar e a ensinar com essas tecnologias. A incorporação dos instrumentos de processamento digital na educação exige, pois, a aprendizagem de um novo conjunto de competências no uso pedagógico dessa tecnologia.
É que o uso acéfalo da máquina pode transformar-nos em globalmente estúpidos e em globalmente iletrados. E é bom que o debate se prolongue nas nossas escolas se não queremos que todo este investimento em capital tecnológico se transforme no maior mito do século XXI, por défice de investimento no capital humano.
Sabemos que a escola de massas dificulta a inclusão digital de todos os discentes, já que promove um novo tipo de estratificação escolar que divide os que têm computadores em casa e os que não os têm; os que têm Net em casa e os que a não têm; os que têm Net de alta velocidade e os que não a têm…
Todavia essa mesma escola de massas pode favorecer para o atenuar da exclusão digital a que muitos alunos estariam votados se souber democratizar ao acesso e a manipulação destes novos instrumentos educativos, organizando-se em torno de objectivos claros, de equipamentos acessíveis e de um corpo docente motivado informado e formado no uso das novas tecnologias da comunicação e da informação.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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