Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano IX    Nº101    Julho 2006

Cultura

GENTE & LIVROS

Juan Rulfo

«Vim a Comala porque me disseram que vivia aqui o meu pai, um tal Pedro Páramo. Foi a minha mãe quem mo disse. E eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos como sinal de que o faria pois ela estava à beira da morte e eu disposto a prometer-lhe tudo. «Não deixes de ir visitá-lo» - recomendou-me. Chama-se assim e assado. Tenho a certeza de que gostará de conhecer-te.» Na altura nada mais pude fazer para além de lhe dizer que sim, que o faria, e de tanto lho dizer, continuei a dizê-lo mesmo depois do trabalho que as minhas mãos tiveram para se afastarem das suas mãos mortas.»

In Pedro Páramo


Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcuíno, o escritor mexicano conhecido como Juan Rulfo (16 de Maio de 1917- 7 de Janeiro de 1986), nasceu em Apulco, pequena localidade do estado de Jalisco. Descendente de uma família de proprietários rurais arruinada pela guerra, o pai e dois tios morreram durante a Guerra de Cristero, a mãe quando ele tinha 10 anos. A tragédia marcava o homem e o escritor, e o tema da morte haveria de estar presente em todos as suas histórias. Em Los muertos no tienen ni tiempo ni espacio, diálogo com Juan Rulfo o escritor fala desses anos «Tive uma infância muito dura, muito difícil. Uma família que se desintegrou muito facilmente num lugar que foi totalmente destruído. Desde o meu pai e minha mãe, inclusive todos os irmãos de meu pai foram assassinados. Vivi, portanto, numa zona devastada. Não apenas de devassidão humana, mas devassidão geográfica. Nunca encontrei até à data uma lógica que explique tudo isto. Não se pode atribuir à Revolução. Foi mais uma coisa atávica, uma coisa de destino, uma coisa ilógica.(...)».

Juan Rulfo vive num orfanato, em Guadalajara, entre 1928 a 1932, seguindo-se o seminário, ainda que por curto período de tempo. Parte depois para a Cidade do México, com o propósito de estudar direito, não termina os estudos mas começa a escrever trabalhos literários. A par de um emprego de agente da imigração, colabora com a revista América e em 1944 funda a revista literária Pan. 

O livro de contos A planície em Chamas (1953) e o romance Pedro Páramo (1955) são suficientes para apontar ao panorama literário sul-americano, e não só, um novo rumo. Juan Rulfo impõem-se como o principal percursor do Realismo-Mágico, movimento literário que integra nomes tão sonantes como Gabriel García Márquez, Jorge Luís Borges e Julio Cortázar, seguidores e admiradores de Rulfo.

Abandona cedo a escrita de romances e contos, mas continua presente na cena artística mexicana. Em parceria com Garcia Márquez e Carlos Fuentes escreve roteiros televisivos; roteiros de cinema reunidos no livro O Galo de Ouro e outros Textos para Cinema; e faz trabalhos fotográficos, com a mesma força, dimensão e emoção da escrita.

Membro da Academia de Letras Mexicanas, vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias e Prémio Cervantes, desde 1962 até à sua morte que Juan Rulfo ocupou o cargo de director do Departamento de Publicações do Instituto Nacional Indígena do México. Juan Rulfo é também, e justamente, o nome deu um prestigiado prémio literário.

Pedro Páramo. A pedido da mãe moribunda, o narrador parte para Comala à procura do pai, Pedro Páramo. O pai morreu e todos os habitantes da aldeia. Também são fantasmas que lastimam as suas vidas antigas e falam de quem foi Pedro Páramo. O homem cruel, o senhor das terras, o pai de bastardos que desiste de tudo o que conseguiu, quando a única mulher que amou morre louca?

Página coordenada por
Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades literárias

AMBAR. Bolas-de-Berlim com Crime; e, Amor e Crime no Mundo do Futebol, de Alexandre Honrado. O Inspector bolhas é o novo herói dos mais novos. Viciado em gomas com formas de ursos e uma avózinha motard, não existe caso que ele não resolva. Nestas duas aventuras ele vai descobrir quem anda a envenenar as bolas-de-berlim na cantina da escola e o ladrão de chuteiras de futebol. Malfeitores tremei, o Inspector Bolhas chegou. 



ASA. O Sol dos Scorta, de Laurent Gaudé. Quinze anos passados na prisão e Luciano Mascalzone volta finalmente a Montepuccio, a aldeia de sol impiedoso no sul de Itália. Procura a mulher que deseja há muito, Filomena Biscontti, mas é Immacolata, a irmã mais nova dela, que ele encontra e viola. Luciano é morto pelos habitantes da aldeia e Immacolata dá à luz um menino. Com o filho deles começa a magnífica saga dos Scorta. Prémio Goncourt 2004, um livro vibrante como a vida.



BICO DE PENA. A Acidental, de Ali Smith. Uma escritora prepara o seu último livro, na casa de férias da família. Na sua companhia encontra-se o marido, professor de literatura mulherengo, o seu filho adolescente, traumatizado por uma partida de consequências trágicas, e a filha, também adolescente, que ocupa o tempo com uma câmara de vídeo. Tudo parece apontar para mais um verão sem sobressaltos, só que a presença de uma hóspede inesperada vem mudar a vida desta família. Um livro surpreendente.



CAMPO DAS LETRAS. Histórias de Amor; Mandrake - A Bíblia e a Bengala; E do Meio do Mundo Prostituto – Só Amores Guardei ao Meu Charuto são obras do escritor Rubem Fonseca que a Campo das Letras edita. O escritor brasileiro, que arrecadou galardões literários tão prestigiados como o Prémio Camões, O prémio Jabuti e o Prémio Juan Rulfo, deu vida a Mandrake, um cínico advogado criminalista que se envolve em mistérios arrebatadores em A Bíblia e a Bengala, E do Meio do Mundo Prostituto. E Quanto às Histórias de Amor? Amores originais, amores questionáveis que nos levantam até a interrogação: será amor? Boa Literatura é de certeza.



CAVALO DE FERRO. Pequenas Grandes Infâmias, de Panos Karnezis. Contos distintos com o mesmo cenário, uma povoação grega. Numa aldeia que fermenta de segredos e mentiras e que a qualquer momento ameaça ruir por força dos terramotos, encontramos um padre que perdeu a fé na comunidade, um ex-halterofilista, sentimental e apaixonado, a vendedora de aves vingadora que prefere a companhia dos pássaros à dos homens, beldades que roubam e beldades tatuadas do circo. Muitas personagens e histórias, que tornaram o seu autor uma voz de destaque na actual ficção. 



COTOVIA. Um Estranho em Goa, de José Eduardo Agualusa. O autor diz no livro: «Há quem assuma, com ar trágico, que a literatura é um destino :“escrevo para não morrer”. Outros fingem desvalorizar o próprio ofício: «escrevo porque não sei dançar”. Finalmente existem aqueles raros, que preferem dizer a verdade: “escrevo para que gostem de mim” (o português José Riço Direitinho), ou “escrevo porque não tenho olhos verdes” (o brasileiro Lúcio Cardoso). Podia ter respondido alguma coisa deste género mas decidi pensar um pouco, como se a pergunta fosse séria, e para minha própria surpresa encontrei um bom motivo: “escrevo porque quero saber o fim”».Um excelente motivo para ler.



DIFEL. A Fábrica das Sedas, de Tash Aw. A fábrica das sedas - negócio de têxteis mais importante daquela região da Malásia - é gerida pelo chinês Johnny Lim. Para os habitantes da localidade Lim é um herói que lutou contra os japoneses, na altura da invasão; para o filho de Johnny, o pai não passa de um traidor que usa a fábrica como fachada para negócios ilícitos. Quem é afinal este homem? Podemos sem dúvida afirmar que conhecemos os outros? A crítica mundial fala deste primeiro romance, com as melhores palavras que conhece.



D. QUIXOTE. Porque o espírito do Mundial não se pode perder, a dica para os mais novos passa pela colecção As Feras Futebol Clube e os livros Félix - O pé-de-vento e Leon o Rei das Fintas, de Joachim Masannek. Félix é um miúdo cheio de garra, disposto a provar que consegue formar uma equipa de futebol como as melhores do mundo. Agora só falta descobrir, porque é que Félix quer desafiar o próprio Bayern de Munique; chegam as férias, a temporada futebolística começa e Leon e a malta estão desejosos para ir jogar. Só que o campo está ocupado por outro grupo que eles têm de vencer. E como? Num magnífico desafio de futebol. 



ESTAMPA. Manual Completo de Yoga, de Noa Belling. O termo Yoga provêm do Sânscrito e significa unir ou harmonizar. Prática milenar nascida na Índia e que graças aos seus benefícios se encontra difundida pelo mundo inteiro como fonte de saúde e tranquilidade. Passo a passo e totalmente ilustrado, com mais de sessenta posições, técnicas de respiração, técnicas de meditação e relaxamento, este é o guia ideal para principiantes e para todos os que desejem praticar Yoga. 



EUROPA-AMÉRICA. O Império Debaixo de Fogo – Ofensiva contra a ordem internacional Unipolar, do general Loureiro dos Santos. Este é o quinto volume de Reflexões sobre Estratégia e trata das mudanças sofridas pelo mundo neste dois últimos anos, em que os Estados Unidos estão sob mira de fogo e os efeitos se sentem a Ocidente e a Oriente. Nem sempre afastado da polémica, o autor dá-nos uma verdadeira lição de política.



PIAGET. Da sua excelente colecção de literatura infantil faz parte o livro Histórias Portuguesas e Guineenses para as Crianças, de Fernando Vale, Ana Maria Martinho, Susana Rebocho, com ilustrações de Dorindo Carvalho. As histórias portuguesas apoiam-se no nosso imaginário e contam interessantes peripécias protagonizadas por personagens de vários estratos sociais; nas histórias da Guiné-Bissau, inspiradas na tradição oral, são os animais a desempenhar papéis humanos e como nas fábulas a sublinhar as nossas virtudes e defeitos. 



PRESENÇA. Os Nossos Dias ao Ritmo do Rock, de Mikael Niemi. Numa pequena localidade da Suécia decorre a juventude de Matti e do melhor amigo Niila. E neste lugar onde nada acontece, não será um disco voador a mudar a vida destes jovens, mas um disco de vinil dos Beatles. Arrebatados pelo poder do rock é um novo mundo que começa com o melhor que ele contém: a banda, as raparigas, o sexo e o álcool. Os Nossos Dias ao Ritmo do Rock ganhou o August Prize, é um bestseller traduzido em 27 línguas e uma adaptação prometida para cinema.



ESEG. A Escola Superior de Educação da Guarda tem uma revista semestral Científica, a ESEG Investigação.A publicação integra em cada número, textos de vários autores e conta com a coordenação editorial de Joaquim Manuel Fernandes Brigas, a coordenação científica de Júlio Pinheiro, a coordenação gráfica de Maria de Fátima Bartolomeu da Cruz Gonçalves e uma comissão científica constituída pelos professores da ESE. Esta revista é já um contributo importante para o Ensino.

 


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