Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano IX    Nº95    Janeiro 2006

Motor

QUATRO RODAS

O regresso das multidões

Desde 2001 que um espectáculo do desporto motorizado não arrastava multidões para a estrada, como voltou a acontecer nesta última passagem de ano.

Sem dúvida que a vinda do Dakar a Portugal fez renascer nos portugueses o gozo das romarias à beira da estrada, agora nas planícies alentejanas e nas serras algarvias que foram o cenário privilegiado, desta verdadeira peregrinação.

Parece no entanto que não aprendemos a lição, no que se refere ao mau comportamento, enquanto espectadores. Apesar de algumas notícias o terem comentado, o facto de não ter havido sérios incidentes com o público, fez com que a componente desportiva tivesse “abafado” o comportamento de algumas pessoas, em especial durante a etapa de sábado.

Como muitos desloquei-me no dia 31 Dezembro ao Alentejo. Não conhecendo em pormenor o percurso, segui os conselhos de uma das muitas publicações sobre o evento, e com alguns amigos decidi rumar a Castro Verde, onde estava a zona espectáculo nº 2. Chegamos já a meio da passagem das motas, por isso tivemos que estacionar a cerca de dois quilómetros do local. Efectuámos então um agradável passeio a pé até ao sítio da passavam os concorrentes.

Tratava-se de um local excelente para organizar uma zona espectáculo, pois utilizava como bancada natural o paredão de terra de uma barragem onde se podiam ver as máquinas aparecer a jusante da mesma. Tinha sem dúvida mais de dez mil espectadores e capacidade para mais uns milhares.

A delimitar a zona de público lá estava uma rede plástica, colocada à distância de segurança, mas suficientemente perto para acompanhar o espectáculo com emoção. Havia mesmo uma zona de fitada, numa parte mais complicada, como que a sublinhar a perigosidade do local. Tinha muita GNR, uma empresa privada de segurança, e alguns “Marchals” da organização.

Se é certo que a maioria dos espectadores, com serenidade se manteve no local reservado e bem escolhido pela organização, houve dois grupos de pessoas que ficaram do lado errado da rede de segurança: Os BURROS e os PATETAS.

Os BURROS são aqueles que não perceberam a finalidade da rede (falta de inteligência), e que apesar de avisados, acharam por bem ultrapassar a mesma (teimosia). Sinceramente não compreendo este comportamento, mas certamente deveria ser para verem primeiro que os outros, uma vez que estavam mais à frente. 

Os PATETAS, estes sim mais perigosos, são aqueles que não se contentando em ultrapassar a rede se punham literalmente no meio da estrada, e desobedeciam às ordens da GNR, que com a mesma velocidade que limpava a zona fitada, era enganada com nova invasão desta espécie humana. Na altura em passaram os primeiros carros a estrada estava completamente tapada pelos PATETAS, que só no último momento se desviam dos concorrentes. 

Penso que poucos leitores conhecerão Jean Graton, mas se disser, que é o criador do herói de banda desenha Michel Vaillant, aquele fabuloso piloto, que espalha talento pelas pistas de Formula 1, e estradas do todo o mundo, certamente já o conseguem identificar melhor.

Pois bem, Jean Graton publicou uma aventura do seu herói chamada “O Homem de Lisboa”, que é uma história que se passa durante o Rali de Portugal nos anos oitenta. Para além das peripécias habituais, o que fica bem retratado na história é o comportamento do público, que o autor compara às façanhas de um toureiro que desfia o toiro, aguarda pela investida, e só depois se desvia, certo do engano que conseguiu infligir ao animal.

Se tiverem paciência leiam o livro, ou se tiverem apenas curiosidade, abram directamente na “tábua” 13 da história e vejam os comentários da última figura.

É pois esta a imagem que Graton espalhou pelo mundo, sobre o comportamento dos aficionados portugueses, que teve em 1986 seu período mais negro no fatídico acidente de Sintra do Rali de Portugal.

Penso que a situação já não é tão assustadora como então, mas como podem ver na foto continua a haver PATETAS a perturbar o trabalho das organizações, que assim se vêem forçadas a gastar mais dinheiro em dispositivos de segurança, para diminuir o risco de acidentes. 

Para continuar a haver grandes espectáculos perto de nós, temos de ser todos a ajudar a acabar com os PATETAS. Com educação e paciência acho que vamos conseguir.

Paulo Almeida

 


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