Director Fundador: João Ruivo    Director: João Carrega    Publicação Mensal    Ano IX    Nº106    Dezembro 2006

Geral

DEBATE NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM CASTELO BRANCO

Porque falha a escola a sua missão?

A universalização da escola nos últimos 30 anos foi uma realidade em Portugal, ainda que não com os resultados desejados. Importa por isso definir uma estratégia de futuro para que a escola possa organizar-se em termos de aprender, de ensinar e de educar. Esta foi uma das ideias principais do debate nacional de educação que decorreu em na Escola Superior de Tecnologia de Castelo Branco a 24 de Novembro, tendo contado com mais de 150 participantes, o que superou as expectativas da organização.

No debate, em que foram oradores Júlio Pedrosa e Ana Maria Bettencourt, o moderador João Ruivo deu a palavra a pais, responsáveis por agrupamentos de escolas, professores, autarcas e responsáveis locais do Ministério da Educação, os quais abordaram os problemas que neste momento mais afectam a escola, além de terem proposto algumas soluções para o futuro da educação em Portugal.

A expansão da missão da escola, que não é apenas uma realidade portuguesa, mas sim global e desde há décadas, foi uma das questões levantadas, tal como os efeitos nefastos da indisciplina , a necessidade de criar condições para que os alunos aprendam mais e melhor nas escolas, além de definir estratégias para impedir o abandono e de contribuir para melhorar a imagem da escola.

Foi ainda referido que a educação deve ser uma estratégia para combater a desigualdade de oportunidades numa sociedade multicultural, pelo que importa aproximar escola e família e repensar a escola tendo em conta novas realidades, como a educação para os media, a educação de adultos, entre outros. Em suma, urge definir um ideal educativo para Portugal, redefinir as missões da escola de hoje, além da forma como poderão os professores cumprir esse ideal educativo. Esse poderá ser o caminho para não se culpar sempre a escola pela crise.

Entre as soluções apontadas para resolver alguns dos problemas actuais está o incrementar a educação para a cidadania, que deve começar no berço, além de equacionar mudanças como o preparar o sistema educativo para funcionar numa lógica onde não existe a figura da retenção, onde exista uma verdadeira autonomia, assumida por quem a concede e por quem a recebe e torna efectiva.

Certo é que não há boas e más escolas. Há boas e más práticas, sendo que as más devem ser erradicadas da escola. Assim, as escolas têm de se adaptar, de criar, seja em termos de organização, seja em termos de problemas como o das retenções. Também a formação inicial e contínua de professores tem de ser revista para se adaptar às necessidades de uma nova realidade. Mas é preciso saber, por exemplo, por que se conformaram os professores com a formação contínua que vigorou até agora. Também, na sociedade do conhecimento, é preciso que as tecnologias de informação e comunicação sejam abordadas numa perspectiva pedagógica ao nível da formação inicial e contínua de professores.

Foi ainda referido que muitos diagnósticos estão feitos. Falta porém tomar decisões. Em relação à escolaridade obrigatória importa saber se o facilitismo instalado é para continuar. E saber se a avaliação dos professores vai depender dos resultados dos alunos, com as condicionantes que tal acarreta. As escolas também devem poder tomar decisões, mas depois têm de ser apoiadas por quem de direito. E devem reclamar até conseguirem as condições necessárias. Já ao nível do 1º Ciclo, importa discutir se as recentes alterações não contribuem para uma quebra de qualidade em termos pedagógicos.

E, ao nível do pré-escolar é preciso dizer que se trata de um nível importante na formação dos alunos, dos cidadãos. É aí que nasce a relação escola-família, a qual tem de continuar a ser preservada nos níveis de ensino que se seguem. Porque os pais não se podem demitir da tarefa de educar os filhos, mas devem colaborar com a escola nessa tarefa.

Estas foram as ideias principais de um debate inserido numa iniciativa do Conselho nacional de Educação e que foi organizado localmente pelos jornais Ensino Magazine e Reconquista, em parceria com a secção de Castelo Branco da Associação Nacional de Professores. Estas entidades contaram com os apoios do Governo Civil, Câmara de Castelo Branco, Instituto Politécnico de Castelo Branco, Universidade da Beira Interior e RVJ Editores, Lda..

 

 

 

OPINIÃO

O paradigma da gestão

Hoje as organizações atingem uma complexidade que implica que a sua gestão seja efectuada por profissionais devidamente preparados, atendendo sempre à especificidade da organização em causa. O termo gestão foi desenvolvido na área das empresas privadas, tendo sido depois exportado para as outras organizações que sentiram necessidade de importar esse know how e conjugá-lo com aquele que tinham desenvolvido em diferentes áreas. A escola continua a ser a organização tradicional para a produção / concepção de conhecimento, mas devido ao desenvolvimento da sociedade, a sua área de intervenção tornou-se zona de partilha de contribuições de outras organizações, como é o caso das empresas.

Foquemos a nossa atenção na época de globalização, vivida e sentida por todos os países, que se traduz numa partilha constante de todas as interpretações das diferentes percepções da realidade. Sendo a sociedade actual um somatório de organizações, todas elas devem estabelecer uma estratégia que lhes permita sobreviver num mercado cujo espaço temporal de intervenção é cada vez menos de longo prazo e mais de médio prazo, no sentido em que a certeza é de que a organização do presente é diferente da organização do passado e que a do futuro será diferente da organização do presente.

O valor acrescentado cor-responde a um activo intangível, que será good-will específico de cada escola , constituindo factor de diferenciação e de atracção de níveis diversos de alunos e outros públicos alvo.

Nesta roda de sobrevivência, a escola também tem de ter um projecto educativo que proporá soluções para as necessidades diagnosticadas, sendo pública e/ou privada, pois independentemente da propriedade, todas elas têm como objectivo a transmissão de saber, de modo a conseguir construir uma sociedade do saber e não já uma sociedade do conhecimento. Este novo paradigma da escola exige que a sua gestão seja realizada de forma racional, potenciando todos os seus recursos. Nesta escola do século XXI, os principais actores – alunos e professores – têm de ser encarados como factores que transformarão recursos humanos em capital humano que é tão importante como o financeiro e outros. A diferença desta outra escola reside em formar alunos que têm valor acrescentado que permitirá às organizações estarem no respectivo sector, contribuindo para a gestão da mudança que é construída por todos nós. 

Esta escola do novo século deve fazer parte de um paradigma que não é só diferente por estarmos num outro século, mas deverá orientar a sua intervenção pedagógica de acordo com os sinais de mudança, devendo:

Desenvolver uma estratégia dinâmica;

Desaprender o que não está adequado à realidade,

Apreender o que é necessário introduzir e seleccionar o que tem de sair. Separando o relevante do irrelevante e o fiável do não fiável.

Para que este objectivo de aprender a saber construir seja uma realidade, não nos iludamos que só o aluno deve ser objecto da nossa análise, já que só assim acontecerá se os professores estiverem preparados a formar este cidadão para um mundo em que o desenvolvimento sustentável esteja presente.

A criação desta sociedade onde existe equilíbrio, pressupõe que se saiba inovar em diferentes quadrantes, de modo a ter mais qualidade de vida. Tomemos o nosso exemplo de utilizadores de informática em que para apreendermos os novos softwares necessitamos de cada vez menos horas de formação, pois o conhecimento de base é diferente. No caso da escola a inovação abrange três segmentos: estrutura organizacional; procedimento tecnológico e conteúdo curricular.

A educação através da introdução da inovação é encarada como factor de desenvolvimento que permite reconfigurar os recursos humanos necessários à criação de valor acrescentado, devendo o gestor escolar:

Saber como se poderá estabelecer uma estratégia adequada à escola;

Saber ouvir e incentivar a participação dos vários elementos da organização escolar, de modo a que as decisões traduzam as aspirações dos vários intervenientes;

Promover uma actualização de métodos, princípios, meios e técnicas de aprendizagem,

Saber estabelecer elos de ligação entre os vários níveis hierárquicos internos e ligações dinâmicas entre a escola e o meio exterior;

Saber quando são necessárias mudanças em resposta a pressões que têm origem nas modificações tecnológicas e sociais que se vão gerando na sociedade.

O gestor tem de saber integrar o trabalho – responsabilidade individual com a de grupo, de modo que o resultado seja o esforço de uma organização coesa e consistente, em que cada um deve saber qual a sua função, não esquecendo que a coordenação pertence ao gestor. Este management não pode ter os mesmos princípios quando aplicado à escola, pois para concretizarmos um management educativo deveremos saber identificar e partilhar uma cultura como factor de identificação e definir os critérios de aferimento em cada caso.

Gerir uma escola pressupõe a existência de capacidades adquiridas através de uma formação contínua, de modo a que o exercício de funções seja o resultado de competências que incluem aquisição de novos conhecimentos por parte dos docentes nas áreas de gestão, finanças e marketing, permitindo que as metodologias de intervenção sejam sistematicamente validadas em tempo útil, produzindo efeitos que serão sempre submetidos à avaliação do meio envolvente.

Agostinho Inácio Bucha
Instituto Politécnico de Setúbal
abucha@esce.ips.pt


Visualização 800x600 - Internet Explorer 5.0 ou superior

©2002 RVJ Editores, Lda.  -  webmaster@rvj.pt