GENTE & LIVROS
Álvaro Magalhães
O Astrónomo
«Enquanto os namorados/ fazem desenhos coloridos do futuro/ à luz dos candeeiros/ e os bêbados começam a esquecer/ a tristeza pelos bares,/ ele estende a mão para tocar/ os astros e as estrelas solitárias.
Nada sabe do escuro/ e das suas medonhas ocupações/ porque só tem olhos para as brilhantes,/ longínquas constelações.
Quando o Sol nasce ele adormece/ e cai num leve sono diurno, / sonha que no seu aniversário / lhe vão oferecer o anel de Saturno.»
In O Brincador
Álvaro de Magalhães nasceu em 1951, na cidade do Porto onde tem sempre vivido. A infância decorreu entre jogos de futebol na rua, e páginas de cadernos escritas com poemas e histórias «Quando era pequeno brincava na rua estreita onde morava, envolvendo-me sobretudo em renhidos jogos de futebol que eram interrompidos quando passava um automóvel. Ás vezes, porém, faltava aos jogos e passeava sozinho, pelas ruas à volta, onde não conhecia ninguém. Ou então ficava em casa a imaginar coisas. Nessas alturas, a rua inquietava-me, com os seus vários ruídos e a ofegante respiração de tudo. Preferia encher cadernos pautados com poemas e inter-mináveis histórias. Já então necessitava de inventar poema e histórias.
(...)».
As primeiras publicações de Álvaro de Magalhães foram no campo da poesia e datam dos anos oitenta, chegando mesmo a ser editor nessa área. «(...) Ainda hoje, a poesia é a matriz de quase tudo o que escrevo, seja o que for, e está sempre presente, não como resíduo mas enquanto essência.” - O Segredo da Orelha Verde.
A obra de Álvaro Magalhães conta com mais de quarenta títulos entre contos, poesia, narrativas juvenis e textos dramáticos. Histórias com muitas Letras (1982), foi o livro de estreia na literatura infantil.
Hipopótimos – Uma História de Amor, venceu o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens em 2002 e foi um dos livros escolhidos para integrar o projecto BARFIE (Books and Reading for Intercultural Education), visando a construção de uma biblioteca europeia composta por obras, que concorram para a promoção da educação
intercultural.
Os livros Histórias com muitas Letras; O Menino Chamado Menino; Isto é que Foi Ser!; Histórias Pequenas de Bichos Pequenos; O Homem que Não Queria Sonhar; e Outras Histórias, foram premiados pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo Ministério da Cultura em cinco anos consecutivos, entre 1981 e 1985.
O Limpa-Palavras e Outros Poemas (2000) foi nomeado para o Honour List do Prémio Hans Christian Andersen (2001) e para a lista de Honra do
IBBY (Internacional Board on Books for Young People) em 2002 .
Álvaro Magalhães é também autor da série juvenil de aventuras, o Triângulo Jota, e participou na delegação portuguesa, no salão do Livro de Genebra de 2001, em que Portugal participou como convidado de honra.
Página coordenada por
Eugénia Sousa
LIVROS
Novidades para o Natal
DOM QUIXOTE. O Labirinto Perdido, de Kate Mosse. Decorria o ano de 1209, em Carcassone, quando Aläis recebe do pai um livro com o segredo do verdadeiro Graal. Em 2005, a arqueóloga Alice Tanner descobre uma sepultura com símbolos desconhecidos, que
protege dois esqueletos. Aquele achado vai desencadear uma série de acontecimentos que Alice não controla e que a ligam a um segredo cátaro muito antigo. Aläis e Alice são duas mulheres afastadas pelo tempo, mas unidas por um grande mistério.
PRESENÇA. A Vida Nova, de Orhan
Pamuk. Osman, jovem universitário de Istambul, encontra-se estranhamente envolvido na leitura de um livro, que está a mudar a sua vida. Apaixona-se por Janan, a bela jovem que o livro revela, abandona tudo para partir numa viagem em busca da misteriosa mulher, e desvendar os segredos que o livro encerra. Orhan Pamuk é Prémio Nobel da
Literatura em 2006.
CAVALO DE FERRO. Long John Silver, de Björn Larsson. Esta é a história do maior pirata que o mundo conheceu, escrita pelo seu próprio punho. «A verdadeira história da minha vida de Liberdade e Aventura enquanto
Cavaleiro da Fortuna e inimigo da Humanidade». Com coragem, astúcia,
determinação, inteligência, indulgência e brutalidade se fez uma lenda de nome Long John Silver.
ASA. A Neta do Senhor Linh, de Philippe Claudel. Numa manhã de Inverno, “um velho” desembarca numa terra “demasiado estrangeira”. Ali não conhece ninguém, nem conhece a língua.«O velho chama-se senhor Linh. É o único a saber que se chama assim pois todos os que o sabiam morreram à sua volta.». Foge da guerra que lhe destruiu a família e a aldeia, mas leva com ele o único afecto que o liga à vida, a neta. A Neta do Senhor Linh é um livro comovente, despojado e puro.
EUROPA-AMÉRICA. A Rã que Não Sabia que Tinha Sido Cozida e Outras Lições de Vida, de Olivier Clerc. São sete histórias do mundo inteiro, com outras tantas lições de vida. A partir de fábulas
universais, o autor fala de aspectos muito sérios que passam pela consciência, evolução, relações pessoais, saúde e bem-estar.
DIFEL. As Meninas do Papá, de Tasmina Perry. No dia de Natal, o corpo de Lorde Oswald Balcon é encontrado na sua propriedade em Sussex. Mas quem matou Lorde Balcon? Entre os muitos inimigos do milionário encontram-se as próprias filhas: Venetia, a bem sucedida designer de interiores; Cate, a editora de uma revista de moda e viagens; Camilla, a advogada com ambições políticas; e a bela modelo e actriz, Serena.
AMBAR. O Voo da Passarola, de Azhar Abidi. «Esta fábula encantadora como que abarca tudo aquilo que vale a pena ter em conta: tolerância e autoridade religiosa, busca do conhecimento e totalitarismo, seriedade e ideias, aventura, amor e divertimento e todo isso com um entusiasmo e um ritmo que não é frequente encontrar em muita da ficção actual. (…)» Thomas Keneally, autor da lista de Schindler.
PIAGET. Diagnóstico em Educação – teorias, modelos e processos, de Luís Sobrado Fernández. A obra propõe reflexões teóricas importantes para o desenvolvimento da Educação e está dirigida em especial aos
profissionais da área (professores, educadores, orientadores, pedagogos, psicopedagogos e psicólogos escolares) e a estudantes das Ciências da Educação.
CAMPO DAS LETRAS. O Meu Primeiro Larousse dos Porquês. Por que é que o céu é azul?; Por que é que há raparigas e rapazes?; Por que é que as flores cheiram bem? Mais de 300 respostas a tantas outras questões que as crianças colocam
diariamente. Com assuntos variados, desenhos divertidos e divisão por temas, o primeiro Larousse é a resposta ideal às grandes perguntas que sempre são feitas pelos mais pequeninos.
TEXTO EDITORES. O Senhor do Seu Nariz e Outras Histórias, de Álvaro Magalhães e ilustrações de Miriam Faria. São seis contos para sonhar e encantar com um menino que é dono de um “super” nariz heróico; o romance de Pedro e Inês que só se encontram uma vez e viveram para sempre desencontrados; a
história do senhor Pascoal que procurou a felicidade em todos os lugares; o invencível Ludovico Sa-avedra, o cortador de pedra; um avô e um neto num mergulho na praia da galé; e quatro ladrões castigados por uma maldição.
GATAFUNHO. Só um Golinho, Rã, com texto e ilustração de Piet Grobler. Está muito calor na selva e todos os animais procuram a água, o elefante, o leopardo, e a rã, que não consegue matar a sede e começa a beber tudo o que encontra. O crocodilo fica sem o rio, as enguias correm o risco de sufocar, o leão,
e o elefante têm sede. É urgente pensar num plano para a rã libertar toda a água que ingeriu.
NOVAGAIA. O Natal Especial da família Neve, de Stella Gurney e ilustrações de Andrea Petrlik. Como será o Natal do papá , da mamã, e do filhote Neve, a simpática família de bonecos de neve?
Eles gostariam que fosse como o da família que vêem através das janelas da casa da quinta. À noite, quando as luzes da casa se apagam, a família neve fica sob a luz prateada da lua e toda a magia do Natal
acontece.
BOCAS DO GALINHEIRO
Do outro lado
Nas últimas bocas, a propósito de Charles Laughton e do seu filme “The Night of The Hunter”. (A Sombra do Caçador), a sua única incursão na realização que, diga-se, não podia ser mais feliz, pois assinou uma das obras primas do cinema, “uma obra estranha, indecifrável e única em todos os sentidos”, no dizer de Claude Beyle, prometemos voltar aos filmes realizados por actores. Promessa que vamos cumprir.
Falar actores que se colocaram do outro lado da câmara não é tarefa fácil, apesar de ser das mais fáceis. Complicado? Não. Porque os exemplos são tantos e tão bons que, já adivinharam, a dificuldade está na escolha. Assim, nada melhor que começar pelo princípio.
E, impreterivelmente, no princípio temos que ir aos dois grandes mestres do burlesco: Charles Chaplin e Buster Keaton. Dois cineastas que marcaram gerações e que dos dois lados da câmara nos deliciaram com as suas personagens inesquecíveis: o Charlot de Chaplin e o Pamplinas de Keaton, cada um à sua maneira, eram tão diferentes que poderíamos pensar que estavam a trabalhar géneros diferentes. Não. Ambos se aproveitam da subversão de situações do quotidiano, mais directo Chaplin, mais fleumático Keaton. Com uma filmografia mais longa, de Charlot lembramos “O Garoto de Charlot”, “Charlot Dentista”, “O Vagabundo”, “Charlot Ladrão” e muitos, muitos mais, de uma lista tão extensa que não caberia nestas linhas. Quanto a Keaton, apesar de menos profícuo, não foi menos importante. “Pamplinas
Maquinista”, no original “The General”, a locomotiva, um dos filmes mais marcantes do mudo, “Pamplinas e os Polícias”, ou “As Sete Ocasiões de Pamplinas” são momentos inesquecíveis e que tocam
qualquer amante da sétima arte, pelo ritmo e pela riqueza das situações retratadas. Foram mestres.
Mais recentemente outro cineasta se evidencia por essa quase permanente dupla faceta. Obviamente estamos a falar de Woody Allen. Poucos são os seus filmes em que não entra como actor, sendo que apenas como actor actuou em poucos. Estreou-se em 1965 em “What’s New Pussycat?”, de Clive Donner, aparecendo depois em “Casino Royale”, de John Huston (1967), baseado na novela de Ian Fleming, essa mesma, a de OO7, mas aqui numa paródia ao mito Bond. Realiza o seu primeiro filme em 1969, “Take The Money and Run” (O Inimigo Público nº1), em que acumula como actor, naquilo que será quase sempre a receita dos seus restantes filmes, numa carreira mais que brilhante, salpicada aqui e ali por intervenções como actor, “Play it Again, Sam”, de Herbert Ross, de 1972, “The Front”, de Martin Ritt, 1976, ou “Scens From a Mall”, de Paul Mazurski, de 1991, são alguns.
Ainda no mesmo registo não podemos esquecer John Cassavetes. Actor de grande talento, estreou-se em 1951 em “Fourteen Hours” de Henry Hathaway. Inolvidáveis as suas interpretações em “The Dirty Dozen” (Doze Indomáveis Patifes), 1967, de Robert Aldrich, e que lhe valeu uma nomeação para o Oscar de melhor secundário, e em “Rosemary’s Baby” (A Semente do Diabo), 1968, de Roman Polanski, de entre outros. Como realizador estreia-se em 1961 com “Shadows”, sendo de destacar na sua curta filmografia títulos cruciais no cinema independente americano como “Faces”,1968, “Husbands”, 1970, “A Woman Under Influence”, 1974. “Gloria”, 1980 e “Love Streams”, de 1984. Nalguns entra também como actor, tendo como actriz fetiche a sua mulher Gena
Rowlands.
Actores consagrados como John Wayne também não resistiram ao apelo do outro lado. Com “The Alamo”, de 1960, o eterno cóboi recria um dos momentos heróicos da história americana: a resistência até à morte de um grupo de bravos soldados comandados pelo coronel William Travis, às tropas mexicanas do general Santa Anna. Mais recentemente Robert De Niro (na foto) seguiu-lhe o exemplo e em 1993 realizou “A Bronx Tale”, cujo tema é gangsters, claro, e este ano “The Good Shepherd”, ou a verdadeira história do nascimento da CIA.
Mas na nova geração começam a despontar actores que não querem deixar de tentar a realização. São os casos de Sean Penn que dirigiu “The Indian Runner”, em 1991 e de “Crossing Guard”, em 1995, ou de Tim Robbins que se estreou detrás da câmara em 1992 com “Bob Roberts”, um filme em que fazendo jus à sua faceta de activista político escalpeliza o processo eleitoral para o senado, para em 1995 fazer “Dead Man Walking”, obra que valeu o Oscar de melhor actriz a Susan Sarandon, e ainda a nomeação de Robbins para melhor realizador, para além de premiado nos Globos de Ouro e noutros certames internacionais, o que o consagra como um dos incontornáveis da sua geração.
Fazendo também uso da sua faceta intervencionista, no caso anti-castrista, Andy Garcia, como se sabe nascido em Cuba, realizou em 2005 “The Lost City”, com argumento de Guillermo Cabrera Infante, num regresso à Havana, no final dos anos 50, ou a transição do regime opressivo de Batista para o marxista de Fidel Castro.
Enfim, de outros poderíamos falar. Porém, como começamos por avisar, era difícil. O espaço não é infinito. Poderíamos até falar de realizadores como Alfred Hitchcock, de que ficaram célebres as suas fugazes aparições nos próprios filmes, no que veio a ser bastante imitado, ou Sidney Pollack que como actor aparece em filmes de, entre outros, Woody Allen e Stanley Kubrick. Certo. Dava outro artigo.
Assim sendo, até pró ano e bons filmes!
Luís Dinis da Rosa
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