
Vamos reformar a
formação?
Acreditamos não estar muito longe da realidade percepcionada nas escolas se afirmarmos que uma das maiores vulgatas, já quase transformada em lugar comum, e que se apoderou do discurso informal de professores e de formadores, é aquela que se sintetiza no “faz o que eu digo; não faças como eu faço”. Razão para não se poder dissociar a formação teórica da formação prática dos docentes, dando a esta o relevo, importância e necessária adequação, fugindo ao facilitismo do receituário, indagando os resultados da investigação e perspectivando as exigências da sociedade e da escola do século
XXI.
Daí que a orientação e a avaliação da prática pedagógica dos professores realizada por outros docentes (formadores ou colegas) mais experientes, ou especializados, tenha que se constituir como uma das componentes mais importantes de todos os sistemas de preparação para a docência e que conviria relembrar neste início de ano lectivo.
A orientação pedagógica tem mantido entre os professores alguma carga negativa. A tal situação não é alheio o facto de, ao longo de décadas, a supervisão/orientação pedagógica ter vindo a assumir diferentes "atitudes no terreno" baseadas em princípios orientadores diversos e mesmo divergentes, consoante os paradigmas de formação que conjunturalmente servia, e de que o sistema educativo também se foi servindo.
Neste enquadramento, começaremos por recusar a "aplicação" (mais ou menos normativa; mais ou menos consentida) de um "tipo único" (ou exclusivo) de orientação pedagógica extensível a todo o sistema nacional de formação de professores, até porque as práticas de formação estão dependentes de inúmeras variáveis que fogem aos interesses conjunturais das políticas e dos políticos da educação.
Logo, o “formador da prática”, terá que conhecer perfeitamente o quadro em que irá desenvolver a sua actividade para que possa enfrentá-la com a dose de realismo e pragmatismo que se lhe impõe.
Perante este enquadramento, recusamo-nos também a entender a orientação pedagógica como um procedimento meramente administrativo, condicionador e sancionador. Pelo que conviria, então, encaminharmo-nos para o desenvolvimento de uma perspectiva de supervisão pedagógica que sirva o sistema educativo e, sobretudo, o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes. Que sirva a busca da melhoria das aprendizagens dos alunos que devem sentir como não desperdiçado o tempo que passam na escola. Ou seja, uma aproximação às práticas de estratégias reflexivas de formação apoiadas por formadores experimentados, ou através de apoio profissional mútuo de colegas.
Identificamo-nos, pois, com um conceito de formação enquanto "ajuda e crescimento", isto é, com um estilo que não descure o desenvolvimento pessoal através da reflexão na e sobre a acção. Enquadramo-nos em tal conceito, já porque, nessa perspectiva, consegue penetrar no espaço e no tempo "reais" da vida profissional do professor; já porque proporciona um contexto de relações inter-pessoais (entre formadores e formandos, ou entre formandos que procuram a reflexão e retroacção formativa dessa reflexão) que consideramos, indiscutivelmente, estimulante para todos os intervenientes desse processo. Assim seja possível levar este conhecimento teórico à pratica formativa que agora se reinicia, num ano em que a formação inicial e permanente dos docentes vai estar no centro dos debates de política educativa.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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