Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº92    Outubro 2005

Editorial


Meios e resultados

Temos desenvolvido nas páginas deste jornal uma reflexão, que gostaríamos de ver partilhada, sobre a formação de professores em Portugal, tendo em conta a actual crise que afecta as instituições que nas últimas décadas se têm envolvido nessa tarefa. Porque a temática nos parece candente, ainda este mês tivemos oportunidade de proferir uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, no III Fórum de Educação, promovido pela Associação Nacional de Professores e que foi participado por inúmeros responsáveis das ESEs e dos CIFOPs.

De onde vêm as actuais perplexidades sobre as instituições formadoras de professores e educadores?

Entendemos que podemos ancorar essas dúvidas em seis indicadores circunstanciais: 1º - O reconhecimento do envelhecimento do modelo de formação, todo ele concebido nos anos 80 do século passado. 2º - O envelhecimento dos formadores e o seu progressivo distanciamento das práticas e das escolas. 3º - O recorrente insucesso dos alunos em áreas fundamentais para o seu desenvolvimento e para a melhoria da capacidade técnica e competitiva do país. 4º - A incapacidade da Escola em vencer as elevadas taxas de iliteracia e de abandono. 5º - O desajuste da rede nacional de ensino superior às necessidades do país. 6º - As imposições advindas da revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo e do Acordo de Bolonha, que podem pressupor a criação de um modelo de formação profissional dos docentes assente apenas num segundo ciclo de estudos. 7º - O facto de os cursos de formação de professores e educadores serem procurados por candidatos com notas baixas, o que constitui um mau presságio quanto à possibilidade de esses alunos se metamorfosearem em bons professores. 8º - A vergonhosa situação que obriga a que os professores não tenham emprego, num país em que não falta trabalho para qualquer educador.

Vamos um pouco mais longe: após a entrada na profissão os docentes não são monitorizados ou supervisionados por ninguém. De facto, para além dos alunos, ninguém sabe ao certo o que se passa dentro da sala de aula. O que temos são relatos em diferido e algumas memórias de vida. 

Enquanto os professores e as suas organizações sindicais olharem com suspeita sistemática para todo e qualquer processo de avaliação do desempenho dos educadores, dos professores e das escolas; enquanto os docentes portugueses continuarem a defender que a sala de aula é um espaço inexpugnável e interdito a quaisquer outros que não sejam os seus alunos; enquanto se entender que a assistência às aulas por profissionais acreditados e certificados constitui uma violação dum pseudo direito profissional; enquanto a formação permanente se centrar nuns cursozitos, repetidos anos após anos; enquanto tudo isto acontecer, dizíamos, as estatísticas vão continuar a provar o que já provam: que somos incapazes de colocar os razoáveis meios de que dispomos ao serviço de uma formação de qualidade, que melhore a qualificação dos portugueses. 

Os meios que foram colocados à disposição da formação, os apoios financeiros comunitários recebidos na última década, tudo isto anuncia uma desproporção preocupante: medida a diferença entre o custo e a eficácia encontramo-nos perante um enorme e injustificável desperdício. Ou seja, existe uma desproporção entre o investimento e os resultados. Por tudo isto, o repensar da formação dos professores e educadores deverá ser assumida como uma tarefa de indiscutível interesse nacional.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


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