Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº85    Março 2005

Editorial


Contextos de aprendizagem

Somos de opinião que as Jornadas Pedagógicas promovidas anualmente em Castelo Branco pela Associação Nacional de Professores constituem um marco importante na agenda educativa do país. Neste mês de Março, cerca de três centenas de participantes discutiram, ao longo de dois dias, os contextos de aprendizagem para uma sociedade do conhecimento.

Lembramos, a propósito dessa temática, que na década de 90 do século passado foram divulgadas duas obras que se constituíram referências obrigatórias na história da educação: referimo-nos à edição, em1995, do “Livro Branco sobre Educação e Formação: Ensinar e Aprender para a Sociedade do Conhecimento”; e à publicação, em 1997, do “Livro Verde para a Sociedade da Informação”.

A partir de então, a designação de sociedade do conhecimento ganhou foro de cidadania. E em que consiste esta sociedade do conhecimento? Genericamente refere-se à sociedade pós-industrial, à sociedade da informação, ou à sociedade da aprendizagem permanente. É a sociedade em que termos como “aprendizagem permanente”, “informação” e “conhecimento” ganham notoriedade. É a sociedade em que a escola continua a ter um papel decisivo na formação inicial do indivíduo, no quadro de uma escola informada, mas em que a formação ao longo da vida exige que a escola não seja a única responsável pela formação do indivíduo já adulto e ou profissional. É a sociedade em que as TIC na escola deveriam ajudar a “aprender a aprender”, em vez de serem utilizadas para reforçarem a sistemática e mecânica transmissão de conhecimentos. Em que as TIC deveriam tornar os nossos alunos mais reflexivos e críticos, desenvolvendo as suas capacidades de metacognição.

Todavia, passada quase uma década sobre a publicação daquelas obras, vejamos que evolução ocorreu na escola portuguesa para que os cidadãos alcancem a sociedade do conhecimento. Ou seja, em que condições se reflecte hoje sobre os contextos de aprendizagem nas escolas portuguesas.

Seguramente, estamos perante um dos períodos de mais baixa auto-estima dos professores portugueses: já que um recente estudo promovido pela Universidade de Aveiro revela que as remunerações, o reconhecimento social e a relação com os alunos fazem com que 1 em cada 3 professores sofram de stress profissional e de desencanto perante a realidade educativa. Isto é: sofrem daquilo que os técnicos designam por baixo “Índice de Capacidade para o Trabalho” (ICT).

A tal não deve ser alheio o facto de nos últimos anos termos assistido a um incompreensível desinvestimento na educação, com um claro retrocesso das políticas de investimento, desenvolvimento e promoção da escola pública. Em que se regrediu? Infelizmente, em demasiados domínios.

Conviria, pois, sublinhar que estes novos contextos dinâmicos de aprendizagem só se podem gerar e alcançar em escolas que promova uma forte liderança; uma grande estabilidade do corpo docente; uma profunda coesão entre todos os professores, os alunos os funcionários e os pais; uma definição de claros e alcançáveis objectivos estratégicos; e, finalmente, um envolvimento profissional dos docentes na vida da escola que ultrapasse a mediania do estatuto da função pública. 

Que contextos devem então procurar os professores para propiciarem aos seus alunos aprendizagens significativas e gratificantes, designadamente com o recurso às TIC? 

A receita é sobejamente conhecida. Permitam-me, mesmo assim, que nesta era de voragem tecnológica, relembre que esses contextos de aprendizagem só podem surgir numa escola que busque permanentemente a “Qualidade Total”. E o que é uma escola de “Qualidade Total”? Recupero, para estas páginas, 36 indicadores perdidos entre páginas, práticas e memórias.

É uma escola que desperta: A curiosidade; O interesse pela pesquisa; O desejo de saber mais; O desejo de aprender sempre. É uma escola que: Ensina, porque aprende; Que forma, porque informa; Que inova, porque permuta; Que utiliza a diferença como alavanca de desenvolvimento. É uma escola que forma alunos: Visionários, porque sabem criar cenários futuros; Empreendedores, porque são pró-activos, criativos e assumem o risco da mudança; Responsáveis, porque respondem às adversidades com carácter e sentido de valores. É uma escola que se baseia: No respeito; Na tolerância; Na cooperação; Na equidade; Na solidariedade. É uma escola que promove: A autonomia; A interacção; A compreensão intercultural; A diferenciação positiva; A acção orientada por um projecto. É uma escola com futuro: Porque avança a diferentes velocidades; Porque avança sem provocar rupturas; Porque avança com sentido e direcção certa; Porque avança, mesmo quando não a deixam avançar. É uma escola que se alicerça: Na credibilidade; Na independência institucional; Na abertura à participação externa; Na integração de novas abordagens; Na acção coerente com os objectivos do sistema educativo. É uma escola que sabe aprender porque: Valoriza os seus líderes; Optimiza a sua cultura organizacional; Sedimenta nos docentes o sentido de pertença a um grupo profissional socialmente relevante; Estimula o respeito pela diversidade; Exclui a exclusão; Inclui a inclusão.

Esta é a escola que desejamos, mas que dificilmente conseguiremos alcançar se não soubermos pôr de lado alguns facilitismos. Se não percebermos que a criação destes contextos de aprendizagem requerem muito suor e, por vezes, até abundantes lágrimas.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


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