
A culpa é dos outros?
Sistemática e inexoravelmente os mais variados estudos sobre a situação da educação em Portugal permitem uma triste conclusão: na escola portuguesa temos os mesmos ou até mais meios que muitos países da União Europeia, porém os resultados colocam-nos, invariavelmente, na cauda das diferentes estatísticas educacionais.
A culpa é sempre dos outros. Mas é-o sem dúvida também do actual sistema de formação de professores e do facto de estes, após a entrada na profissão, não serem supervisionados ou monitorizados por ninguém! Ou seja, ninguém sabe ao certo (os alunos, esses sim, sabem…) o que se passa dentro de uma sala de aula. E, assim, convenhamos que por mais fiáveis que sejam os exames ou as provas globais se torna impossível proceder a uma avaliação objectiva do sistema educativo. E, sem essa avaliação, não há reforma ou “mexidinha” no sistema que não seja suspeita de se basear num “eu acho que”, em vez de ser sustentada em resultados da investigação.
Aliás o recente relatório PISA é contundente quanto a essa matéria: Portugal é, de entre os países da OCDE, o que tem menos responsáveis de escolas a declararem que monitorizam as aulas dos professores que nelas leccionam. No nosso país, apenas 5% dos alunos dessa amostra frequentam estabelecimentos de ensino em que tal acontece, enquanto que na OCDE, essa percentagem é, em média, de 61%. Ficou também provado existir uma correlação positiva entre o sucesso escolar dos alunos e a supervisão das aulas.
Este relatório prova, ainda, que tanto a qualidade das infra-estruturas físicas, como dos recursos educacionais das escolas, avaliados pelos seus responsáveis, têm, em Portugal, um valor médio igual ao da OCDE.
Enquanto os professores e as suas organizações profissionais e sindicais olharem com suspeita sistemática para todo e qualquer processo de avaliação do desempenho dos educadores, dos professores e das escolas; enquanto os docentes portugueses continuarem a defender que a sala de aula é um espaço inexpugnável e interdito a quaisquer outros que não sejam os seus alunos (sobretudo os mais “normalizados”); enquanto se entender que a assistência às aulas por profissionais acreditados e certificados constitui uma violação dum pseudo direito profissional; enquanto as escolas de formação continuarem a lançar para o mercado docentes formados num quase total divórcio com a realidade prática dos nossos estabelecimentos de ensino; enquanto a formação permanente se centrar nuns cursozitos, repetidos anos após anos, perante uma plateia de pacatos docentes sentados e alunizados temporariamente; enquanto tudo isto acontecer, dizíamos, as estatísticas vão continuar a provar o que já provam: que somos incapazes de colocar os razoáveis meios de que dispomos ao serviço de uma formação de qualidade, que melhore a qualificação dos portugueses.
E é bom que recordemos que a generalidade dos países que seguiram modelos de desenvolvimento e de crescimento produtivo só o conseguiram por uma de duas vias: ou através dum claro investimento na educação; ou por via da manutenção das populações na ignorância, com baixos salários, sem direitos de cidadania e sob a alçada de estados ditatoriais.
Na Europa democrática do século XXI é pena que países da primeira via apresentem resultados escolares próprios do segundo modelo aqui descrito. De quem é a culpa? É bom que não seja de ninguém....

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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