Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº87    Maio 2005

Cultura

GENTE & LIVROS

Santiago Gamboa

«Embalado por estes sonhos, Nelson adormecia nos comboios, ou no seu gabinete, até que a realidade o acordava e via que os seus romances, dos quais mandara imprimir mil cópias, estavam - a maior parte deles - envoltos em plástico na despensa lá de casa, pois cada vez que passava por alguma das três livrarias hispânicas de Austin - que as tinham recebido em consignação - para ver se tinha de repor cópias, lhe diziam sempre a mesma coisa: «Não doutorzinho, ainda tenho aqui as dez que me deixou». Só uma vez, na livraria Cristóbal Colón, o livreiro o recebeu com uma boa notícia: «Esta manhã vendemos um Cuzco Blues, doutor. Vieram perguntar por ele». Nelson saiu com o espírito reconfortado, mas ao chegar a casa, nessa tarde, o sonho desvaneceu-se, porque a mulher o recebeu com estas palavras: «Onde diabo meteste os teus livros? Calcula que quis oferecer um à tia Gertrudis e como não os encontrei tive de ir comprá-lo, mas o que me querias contar?» «Nada», respondeu Nelson, «nada»».

In Os Impostores

Santiago Gamboa nasceu em 1965 em Bogotá, Colômbia. Filho de professores universitários, estudou Literatura na Universidade Javeriana de Bogotá e começa a escrever aos 18 anos. Parte para Espanha aos 19 anos, na mala leva uma história de 65 páginas e três ou quatro relatos, sem nunca revelar a ninguém que escreve. Se por um lado sonha ser escritor, por outro, afigurava-se-lhe um destino trágico. Tentar viver de um talento, envolve um risco de fracasso que condicionaria depois qualquer outra escolha. 

Licencia-se em Filologia Hispânica na Universidade Complutense de Madrid e após a temporada espanhola ruma para França. Entre os anos de 1990 e 1997 reside em Paris, onde faz um doutoramento sobre Literatura Cubana na Universidade de Sorbonne. Para sobreviver em Paris, onde o custo de vida era bem mais elevado que em Madrid, dá aulas de Espanhol. Trabalha para a France Press, na altura que iniciava a Guerra do Golfo e, decorridos sete meses muda para a Radio França Internacional. 

Viaja até à Bósnia durante a Guerra das Balcãs, e em 1993 passa a ser correspondente do jornal El Tiempo, de Bogotá, despertando a sua paixão pelo jornalismo escrito.

A par da carreira jornalística decorria o seu trabalho como “construtor de livros”. Ao seu primeiro romance Páginas de Vuelta (1995), seguir-se-iam, Perder é Uma Questão de Método (1997); A Vida Feliz de Um Jovem Chamado Esteban (2000); Outubro em Pequim (2001); os Impostores (2002).

Apaixonado por uma habitante da cidade eterna, esse foi o motivo que o levou a partir mais uma vez. O escritor ainda reside em Roma. 

Os Impostores. Suárez Salcedo é um jornalista Colombiano, trabalha numa rádio parisiense e desde jovem deseja escrever; Gilbert Klauss, é um recatado filólogo alemão que ama os livros e não gosta de viajar; Otálara Chouchén é peruano, professor Universitário no Texas e escritor fracassado que pretende contudo ser famoso. Por razões muito diferentes, eles vão viajar para Pequim: Salcedo a pretexto de uma reportagem sobre a vida dos cristãos na China, Klauss no rasto de um escritor que admira e Chouchén atrás da biografia do avô chinês que não conheceu. Em Pequim, a vida deles cruza-se. Era uma vez... três impostores, representando um papel que não é o deles, na demanda de um estranho manuscrito, por detrás de uma seita secreta.

Página coordenada por
Eugénia Sousa

 

 

 

NOVIDADES

Livros

CAMPO DAS LETRAS. Ver: Amor de David Grossman. Momik, o protagonista do livro, tem nove anos e é o único filho de uma família de sobreviventes do Holocausto. Ele cresceu à sombra desses relatos, decidido a conhecer a natureza da Besta Nazi. Com as histórias do seu tio-avô e dos meninos de Corações de Oiro, Momik deixa-se “contagiar pela humanidade”, presente mesmo nos episódios mais terríveis da História.

Todas as grandes obras literárias, modernas ou não, começaram com uma grande frase, quer se fale do D. Quixote de Cervantes, dos Miseráveis de Hugo, do Cem Anos de Solidão de García Márquez, ou do Ver: Amor de Grossman. E entre a primeira e a última frase, havia o mundo inteiro. 

 

DIFEL. A Misteriosa Chama da Rainha Loana de Humberto Eco. Yambo, livreiro italiano, sofre um AVC aos 59 anos e perde a memória. Não a memória que o seu médico chama de «semântica», pois consegue recitar poesia, lembra-se de factos e personagens históricas, ele não consegue é recordar a sua própria história, o seu nome, a família, a infância. Yambo passa uma temporada na antiga casa de família e numa peregrinação diária ao sótão (o inconsciente da casa) mergulha nas suas antigas recordações. No meio de discos, livros e jornais, entre personagens de ficção - Mickey, Flash Gordon, Conde de Monte Cristo, Cyrano de Bérgerac e Sandokan, - entre personagens reais - Mussolini, a Resistência antifascista e o primeiro amor, - vai-se avivando a misteriosa chama da rainha Loana. Um romance Inesquecível. 

 

PERGAMINHO. Os Pais e as Mães de Aldo Naouri. A evolução das sociedade veio mudar totalmente a dinâmica da família. Se actualmente as doenças infantis se encontram controladas ou até erradicadas do mundo ocidental, os problemas a nível de comportamento e de desenvolvimento afectivo agravaram-se. Não se podendo isentar de culpa os pais, que num receio de demonstração de autoridade receiam frustar e traumatizar as crianças, a questão impõem-se: na família cuja estrutura se encontra em transformação constante, qual deve ser o papel desempenhado pelos pais? 

 

GRADIVA. Uma Casa no Fim do Mundo de Michael Cunningham. Jonathan e Bobby são amigos. Jonathan é um jovem solitário e inseguro com uma infância algo estranha; Bobby é sombrio e solitário marcado pela morte do irmão mais velho. Após a adolescência numa desolada cidade de interior, a amizade transforma-se em Nova Iorque. A eles junta-se Clare, uma mulher mais velha e «Veterana das guerras eróticas da cidade». Juntos formam um triângulo sentimental frágil que procura construir um novo tipo de amizade, de amor, de família. Mas haverá lugar no mundo para a felicidade nesta relação? Um romance belo e algo trágico que permanece para além da última página. 

 

AMBAR. Um Milhão de Beijinhos de Elsa Lé. Maria é uma menina que vive num mundo doce e colorido, onde há lugar para o sonho e o amor. Mas um dia algo de muito triste acontece no seu mundo e ao coração dos adultos. E Maria terá de arranjar uma solução fantástica, para que a ternura regresse ao coração de alguém que ela muito ama, o pai. Elsa Lé escreveu e ilustrou um livro muito especial.

A autora nasceu em Ovar e licenciou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Lecciona no Porto e já participou em várias exposições individuais e colectivas, encontrando-se o seu trabalho exposto no Museu da Fundação Engenheiro António de Almeida. 

 

DOM QUIXOTE. Xeque-Mate de Sérgio Rocha. 252 maneiras de ganhar um jogo de xadrez. Após a publicação de Xadrez Mágico, em que o autor nos ensinou a jogar xadrez, surge agora Xeque-Mate, com o qual nos ensinará a ganhar. O livro tem como finalidade o domínio das várias técnicas do xeque-mate, através da resolução dos problemas propostos. É só seguir as instruções e a partida está ganha. Sérgio Rocha é Membro da Selecção Nacional de Xadrez e Mestre Internacional de Xadrez. 

 

ÂNCORA. O Livro dos Provérbios de Salvador Parente. São nada menos que 41 697 provérbios, um número impressionante, que o autor - formado em teologia professor e pároco - conseguiu reunir neste testemunho exemplar da cultura popular portuguesa. «E há ditados para todos os gostos e para todas as situações: « Para cada ocasião, tenha um provérbio sempre à mão». O génio verbal do povo, de todos os povos, mesmo quando se lhes conhece a paternidade ou simplesmente o berço - o génio do povo, dizia eu, criou ao longo dos tempos, ao lado de axiomas e antíteses monumentais em sabedoria e sensatez, frases de coitio e excelências de ironia (...)» - Salvador Parente.

 

EUROPA-AMÉRICA. Na sua colecção Grandes Biografias, a Europa-América publicou Lincoln de Richard J. Carwardine. Defensor aguerrido da unidade nacional, da abolição da escravatura e da liberdade da nação, Abraham Lincoln reuniu várias razões para ser considerado um dos mais emblemáticos presidentes norte-americanos. Esta biografia permite saber muito mais sobre Lincoln, como político em ascensão, e como presidente da grande nação. A sua habilidade política e os seus propósitos morais, a dependência da opinião pública e da maquinaria do partido.

 

EUROPA-AMÉRICA. O Pianista Nómada de Marc Vella. Marc Vella é um pianista e compositor fracês premiado, famoso por uma missão extraordinária: há vinte anos decidiu abandonar o espaço dos conservatórios e salas de concerto para ir pelo mundo oferecer a sua música aos que não tinham acesso a ela.«França, Europa, África, Saara. Bairros de lata da Índia e do Paquistão, ele toca onde quer que não exista o hábito de ver um homem de smoking e muito menos um piano de cauda». Marc Vella diz que tudo é possível, basta ousar e amar. Nada melhor que a música para levar o amor a toda a parte.

 

 

 

FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA

Primavera mais musical

A direcção artística do Festival Internacional de Música de Castelo Branco, Primavera Musical, considera que a iniciativa alcançou os seus objectivos. “O público correspondeu às nossas expectativas, pois as salas que escolhemos para os concertos, acabaram por se revelar adequadas. Por outro lado, em termos artísticos, foi um festival muito interessante, pois teve uma grande diversidade, os próprios artistas mostraram-se satisfeitos com a reacção do público”. É deste modo que Carlos Semedo começa por fazer o balanço do festival.

Uma das apostas da 11ª edição do Primavera Musical passou por concentrar o espectáculo em apenas duas semanas. Uma atitude que pretendia levar mais público aos espectáculos. Algo que, no entender de Carlos Semedo, “foi em parte alcançado. Conseguimos formar uma «onda» que fez com algumas pessoas fossem a todos os espectáculos. Sentimos também que a procura da diversidade dos públicos não terá sido de todo conseguida. Ou seja, há um misto de encanto, porque houve uma adesão interessante por parte de gente jovem, e desencanto, devido à pouca diversificação do público. Um evento com esta natureza deveria merecer uma outra atenção por parte da classe docente, por exemplo. mas o balanço é positivo”.

Carlos Semedo considera que uma cidade como Castelo Branco ainda “não tem hábitos culturais que permitam que dois ou três eventos sobrevivam no mesmo dia”. Por isso, e como já o tinha manifestado durante a apresentação do Festival, sublinha a importância da realização de um trabalho conjunto entre as instituições por forma a descobrir quais os públicos quais os eventos, de forma a evitar sobreposições e o sobrecarregar de semanas, quando depois há alturas do ano em que não há iniciativas. Isto só pode ser resolvido através do diálogo entre todos os agentes”.

 

 

 

EDUCAÇÃO ÁS TIRAS

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 


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