Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº88    Junho 2005

Editorial


Andam a formar para quê?

Os dilemas com que se confrontam a educação e a escola portuguesas convergem em torno de quatro preocupações, para as quais os responsáveis pelo actual sistema de formação de professores (designadamente as ESEs e os CIFOPs) terão que encontrar respostas concretas: 1- Os professores frequentam cada vez mais acções de formação, enquanto que tal facto não se traduz numa melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos; 2- As escolas são dotadas de cada vez melhores meios materiais, técnicos e pedagógicos, enquanto que tal facto não se traduz numa melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos; 3- Os professores têm cada vez menos formandos por turma, enquanto que tal facto não se traduz numa melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos; 4- As tecnologias da informação e da comunicação (TICs), a sociedade global e do conhecimento, permitem que os professores tenham, num segundo e ao alcance de uma mão, a informação teórica e científica disponível em todo o mundo, enquanto que tal facto não se traduz numa melhoria dos resultados de aprendizagem dos seus alunos.

Todo o dirigente responsável conhece uma regra básica da gestão: o insucesso do produto compromete irremediavelmente o sucesso do processo. Ou seja, a qualidade da formação só pode ser medida pela qualidade da aprendizagem e pelos resultados escolares dos alunos que a ela foram sujeitos. Logo, remetemos para todas as instituições de formação de professores, bem como para todas as estruturas sindicais e associativas com responsabilidades de formação, a pergunta inevitável: andam a formar para quê?

Os meios que foram colocados à disposição destas instituições, o investimento aplicado na qualificação dos seus professores e formadores, os apoios financeiros comunitários recebidos na última década, tudo isto, dizíamos, anuncia uma desproporção preocupante: medida a diferença entre o custo e a eficácia encontramo-nos perante um enorme e injustificável desperdício de meios e de instrumentos colocados ao serviço dessa formação.

Por tudo isto, o repensar da formação inicial e da formação permanente dos nossos professores e educadores deverá ser assumida, não só como um objectivo urgente e inadiável a incluir nos planos de actividades de todas as instituições e organismos responsáveis por essa formação, mas também deverá ser reconhecida como uma tarefa de indiscutível interesse nacional.

A análise e a reestruturação dos processos e procedimentos de formação não podem, sob risco de colapsar, ser apenas assumidas, de forma mais ou menos endogâmica e corporativa, pelos “agentes” dessa formação. Pelo contrário: revela-se indispensável que se impliquem os “clientes” da formação. Isto é: os alunos, as famílias, os empregadores e os líderes sociais e de opinião.

O desafio não pode ser adiado, nem por um só dia. A implementação do Processo de Bolonha, a livre circulação de diplomas e, logo, de diplomados, as regras de mercado da economia globalizante poderão determinar um efeito irremediável e irreversível: o extermínio dos mais fracos, dos mais negligentes e dos mais incautos.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


Visualização 800x600 - Internet Explorer 5.0 ou superior

©2002 RVJ Editores, Lda.  -  webmaster@rvj.pt