Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº84    Fevereiro 2005

Opinião

A arma secreta

Ao dia que permita ao homem ser todos os homens.

Paul Éluard


Num curto período de tempo, meio mundo foi ou vai a votos, Portugal incluído - o único sem a mercê do alto patrocínio do putativo polícia do mundo - e que dizer desta arma secreta da democracia?

Pois que se não nos entendemos, votamos; se não concordamos, votamos; se há outros interesses ou se o interesse, afinal, é outro, votamos e assim por diante, mesmo que depois continuemos a não nos entender, a não concordar ou a ter interesses noutros interesses. Está votado, está votado. O voto foi consciente, independente e secreto, por isso a nossa consciência fica tranquila com o voto na urna e a alma entregue ao criador, jamais o contrário.

Bush tomou posse e o povo americano perdeu oportunidade pela segunda vez de obter na eleição o que parecia ser a opinião mais activa nos EU. Estou a ser brando. Esta até me saiu para os lados do caldo de galinha.

Na Ucrânia quem sabe se ganhou quem ganhou ou se, tendo ganho o ganhador, que ganhos trouxe esta vitória àqueles que a reclamam, sendo certo que não houve troca de bês por vês, já que ambos eram V(itor). É claro que um Vítor bom e um Vítor mau. Ganhou o bom para nós, que não conhecemos nem um nem outro... 

O Iraque claramente perdeu, melhor: trocou vidas humanas por boletins de voto e a isso chamam vitória da democracia. Os dirigentes americanos e ingleses, que por lá tiveram compatriotas e fiscalizarem as assembleias de voto, assumiram a vitória e voltarão para casa para prepararem as eleições no Irão , logo que o petróleo, perdão, a estabilidade estiver assegurada.

Mas por Alá! A Palestina, meu Deus, que ou quem ganhou na palestina oprimida, espoliada, encarcerada e faminta? Este povo precisa de terra, não de conversa; de pão, não de eleições. Precisa sobretudo, do apoio de toda a humanidade, face à opressão israelense.

Em Portugal, porém, somos de outra fibra, de maior quilate. E não é qualquer Carnaval que nos tira do sério. Nós não votamos simplesmente: optamos, alternamos, escolhemos quem nos parece e nos quer bem.

Em Portugal, não há cá nhó-nhós. É por convicção, ainda embevecidos com os resultados do último europeu e orgulhosos pela resistência às intempéries das últimas bandeiras nacionais feitas em série.

Em Portugal não há chapeladas, caciques, votos por... por... agora não me lembro...

Em Portugal há um portugal de folclore e lantejolas para os eleitores mais exigentes...

Em Portugal, já nós sabemos: que outro resultado poderá sair destas eleições senão um interminável empate.

João de Sousa Teixeira

 


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