Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº84    Fevereiro 2005

Editorial


Um dia, o País...

O sétimo aniversário do Ensino Magazine comemora-se numa conjuntura em que existem fortes razões para renovar a crença no renascer da esperança; uma conjuntura que nos leva a voltar a acreditar na possibilidade de solucionar os reconhecidos problemas da educação em Portugal, problemas que nos arrastam, vergonhosamente, para a cauda das estatísticas da União Europeia.

Nos últimos anos assistimos a um incompreensível desinvestimento na educação, com um claro retrocesso das políticas de desenvolvimento e promoção da escola pública. Em que se regrediu? Em demasiados domínios: na expansão e financiamento da rede do pré-escolar; no percurso de autonomia das escolas básicas e secundárias; na generalização do ensino especial e nos apoios educativos; na descentralização administrativa; na revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo; no processo de colocação dos professores; no financiamento do ensino superior e da investigação científica; no entendimento da autonomia dos politécnicos e das universidades…

Se tal não bastasse, a opinião pública tem sido bombardeada com um conjunto de dados, oriundos de insuspeitos organismos nacionais e internacionais, dados esses que envergonham Portugal e envergonham os portugueses: todos os anos há trinta mil alunos que abandonam a escola sem completar a escolaridade obrigatória; quarenta mil alunos “chumbam” nos primeiros quatro anos de escolaridade; um em cada quatro jovens, entre os 18 e os 24 anos, abandonaram a escola sem concluírem a escolaridade obrigatória; dois em cada três portugueses só alcançaram as aprendizagens básicas; a taxa de abandono precoce é de 45,2%, face aos 19,4% dos restantes países da União Europeia; no ensino superior 43% dos alunos têm insucesso académico; Portugal tem metade (20%) da taxa de escolarização da Espanha (40%) e menos de um terço (65%) da média europeia…

Apesar de tudo isto, Portugal dá-se ao luxo de poder revelar um dado interessantíssimo: é o único país da Europa que paga subsídios aos professores para ficarem em casa, ou que lhes paga o vencimento para se manterem nas escolas com horário zero, ou seja, para não fazerem nada! Nesta matéria ocupamos um lugar cimeiro: estamos no topo das estatísticas de desperdício de formação! Temos, neste momento, a mais baixa rácio professor/aluno da história do ensino em Portugal. Porém, contrariando todas as expectativas dos teóricos da educação, isso não contribuiu, em nada, para a promoção do sucesso escolar dos nossos alunos!

Todos nós sabemos que, infelizmente, o problema tem décadas e é tema recorrente de debates, congressos, estudos e artigos de opinião. Porém, o contínuo alternar de ciclos de investimento e de desinvestimento na educação, a ausência de uma estratégia concertada que coloque a promoção da escola como uma das mais urgentes prioridades nacionais, não tem contribuído para uma atempada busca de soluções e para um esforço de aproximação aos níveis médios dos restantes países da UE.

É nossa profunda convicção de que o Ensino Magazine tem sido uma voz lúcida, esclarecida e resistente na defesa da qualidade da escola. Tem constituído um veículo único para a difusão dos sucessos da educação junto dos professores, dos alunos e das famílias, contribuindo para informar e formar, mas também para melhorar a auto-estima dos educadores. Começámos em Castelo Branco. Sete anos depois chegamos a sete distritos. Este ano, o nosso jornal será distribuído em mais um: Aveiro. Na certeza de que um dia, o País nos lerá.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


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