PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Sampaio quer mais
ciência
O Presidente da República, Jorge Sampaio, apelou para a “urgência na articulação” entre os vários agentes na área da ciência, para que o país possa recuperar o “profundo atraso” que herdou neste domínio.
“Ou isto se junta tudo em Portugal ou não conseguimos galgar o profundo atraso em que a democracia nos encontrou quando se implantou”, disse, num encontro da Ciência Portuguesa, que decorreu no Parque das Nações, em Lisboa.
Apesar do “salto prodigioso” dado por Portugal em matéria de ciência “na última década”, Sampaio salientou a necessidade de “articular as chaves do sistema”.
“Perdemos imenso tempo a olhar para as nossas sombras, o que é terrível. Temos de olhar para a luz, para o que os outros fizeram e nós também podemos fazer”, acrescentou.
No entender do Chefe de Estado, o país “não pode ter uma percentagem tão pequena de empresas” a investir em novas tecnologias ou em investigação, e não acolher em número suficiente cientistas ou doutorados.
Aludindo diversas vezes na sua intervenção de improviso a realidades que testemunhou ao longo da sua presidência aberta sobre envelhecimento, que terminou no início desta semana, Jorge Sampaio realçou a importância de o país “não desarmar” na “prioridade” conferida à ciência.
“O grande desafio é continuar o salto prodigioso desta década e sustentar esse salto”, considerou. Confessando-se “profundamente convertido”, mas “mais ignorante do que deveria” em matéria de ciência, o Chefe de Estado afirmou - em tom de balanço da passagem por Belém - que procurou nos últimos 10 anos “estar com a ciência”.
Na sessão, em que participou também o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, Jorge Sampaio confidenciou até que, quando comunicou ao pai, aos 15 anos, a sua opção pelas letras, o progenitor, “um homem de ciências”, o interpelou: “Vê lá se consegues ao menos perceber alguma coisa de energia nuclear, senão não percebes nada”.
Antes, Mariano Gago destacou os progressos registados nesta área na última década, caracterizando os últimos 10 anos como aqueles em que a ciência nacional “se enraizou e internacionalizou” e em que “ganhou escala”.
Jean-Pierre Contzen, presidente do Comité Internacional de Avaliação dos Laboratórios de Estado portugueses, definiu o sistema de ciência em Portugal como “muito paroquial, rígido e segmentado”, advogando a necessidade de “mais flexibilidade” e uma “maior articulação entre os vários actores”.
A “assistência aos países em vias de desenvolvimento”, nomeadamente os de expressão oficial portuguesa, ou a ciência relacionada com o mar são áreas em que, em sua opinião, Portugal deveria apostar, a par de outros projectos em que o país está envolvido.
O investigador fez ainda uma confidência ao Chefe de Estado:
“No dia em que ganhou as eleições eu estava com a minha mulher num hotel da Avenida da Liberdade e não consegui dormir toda a noite. Hoje em dia, quando não conseguimos dormir por causa dos netos, chamamos-lhe uma ‘noite à
Sampaio’”.
“Essa expressão tem várias leituras extremamente estimulantes”, retorquiu Sampaio.
No final da cerimónia, o Presidente da República condecorou com a Ordem do Infante Dom Henrique Jean-Pierre Contzen e Joan Solomon, presidente do Comité Internacional de Acompanhamento do Ciência Viva.
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