PAU DE GIZ
Uma questão de zeros

As histórias ligadas à escola são muitas. Divididas entre as escolas situadas na Serra do Caramulo e a Universidade de Aveiro, muitas me ficaram na memória. Mas é dos tempos de escola que mais recordo, pelo que não resisto a contar duas situações ocorridas quando ainda estudava no ensino básico.
PRIMEIRA. A turma do 7.º E reunia os alunos dos povos dispersos pela Serra. Eram alunos interessados e que até atingiam bons resultados. Como convém, também tinha alguns alunos que gostavam muito de ir para a escola, ou melhor para a Vila, onde ficava a escola. Sempre que podiam lá davam uma escapadela até ao salão de jogos, ao café ou simplesmente dilatavam o intervalo naquela interminável partida de futebol. O delírio era quando algum professor faltava, um “furo” era o melhor acontecimento do dia.
O pior era no dia dos testes, tudo se complicava, porque o tempo não dava para tudo e o estudo tinha ficado para segundo plano.
No dia da correcção do teste de matemática, um desses colegas teve quase positiva e esforçava-se para encontrar alguma falha na correcção do professor, para ver se evitava o quase certo “sermão” do pai, quando chegasse a casa com a prova para assinar.
Sr. professor, aqui podia contar alguma coisa!…
Então porquê? O resultado deveria ser 10000 e tu escreveste 100!
Pois é, mas só faltam dois zeros!…
SEGUNDA. Naquele dia o professor de Ciências pretendia sensibilizar os alunos para a importância de uma alimentação correcta, estava próximo o Dia Mundial da Alimentação.
Fomos convidados a reflectir sobre o tema durante algumas aulas. Éramos alunos do 9.º ano, todos oriundos de vários povos dispersos pela Serra. Conhecíamos bem os alimentos e como se cultivavam, não tanto como deveriam ser consumidos correctamente.
Das actividades desenvolvidas, análise de textos, desdobráveis e um filme de vídeo, pouco recordo. Mas a última de todas, um inquérito final, que era suposto ser anónimo, foi a que me ficou na memória, não pelo conteúdo, mas pelo cabeçalho!
Depois de preenchidos, os inquéritos deveriam ser analisados e deveria ser preenchida uma grelha síntese.
Um dos inquéritos foi alvo de toda a atenção e motivou a risada geral. Lá estava a idade, e no espaço sexo: ______________, alguém escreveu, nunca
fiz!.
Luís Costa
QUATRO RODAS
O nosso primeiro Dakar

Pela oportunidade, não poderia deixar de escolher como tema para hoje, um grande evento planetário que desde 1979 tem conseguido invadir as televisões de todo o mundo no início de cada ano. Numa altura em que o futebol está de férias, e os eventos desportivos se resumem às corridas de S. Silvestre ou aos tradicionais saltos de ski em Garmisch Partenkirchen, nada melhor, que esta situação de quase ausência de acontecimentos desportivos, para fazer entrar em força nas nossas casas, a mais dura competição de sempre para desportos motorizados, refiro-me claro ao “Dakar”.
Este acontecimento tem vindo a conquistar ao longo dos anos audiências que fazem dele o palco privilegiado para as marcas efectuarem o seu marketing directo.
Este ano, um golpe de mestre por parte de João Lagos, trouxe para Portugal o início deste evento. Não foi a primeira tentativa que se fez para trazer o evento para o nosso País, pois já em 1998 se falou na hipótese de juntar à Expo a partida do Dakar.
Foi uma grande conquista que, logo após o Natal, vai por Portugal a beneficiar de tempo de antena em horário nobre, nos principais canais mundiais. Esta organização não deixa nada ao acaso e embala muito bem o produto, esforçando-se por encontrar motivos de interesse para os telespectadores dos vários cantos do mundo. Vejamos: nas motos temos assistido a uma batalha Europa/Ásia onde inicialmente a BMW e Cagiva lutaram com a Honda e Yamaha. Hoje assiste-se ao domínio da KTM com a Yamaha a espreitar a oportunidade. Tudo isto com bom um lote de motards europeus a lutar pela vitória, junto com dois norte-americanos um brasileiro e um chileno que assim asseguram o interesse das audiências americanas.
Nos automóveis, esta luta entre Europa e Ásia, é ainda mais vincada, com forte armada, a VW a tentar destronar a Mitsubishi que desde o início do século não deixou de vencer. Numa segunda linha teremos a BMW a Nissan e os protótipos Schlesser a tentar aproveitar uma oportunidade para o podium. Quantos aos pilotos o domínio tem dos europeus e japoneses, mas se olharmos para os vinte primeiros, aí temos também, um norte-americano dois sul-africanos, e um piloto do Qatar todos em condições de vencer. Uma análise mais cuidada da lista não pode deixar de reparar na estrela das ovais americanas, Robby Gordon, vários campeões de ralis como Carlos Sainz, e de uma forma discreta várias equipes chinesas, que daqui a uns anos estarão certamente a lutar pelos lugares de topo, talvez com um produto próprio.
Finalmente os camiões onde pontuam as marcas e pilotos do leste europeu.
Temos pois o cocktail perfeito para assegurar as melhores audiências em todos os lugares importantes do planeta. Assim não há dúvidas que será mais uma grande oportunidade para promover o nosso País, os nossos produtos e serviços. Penso no entanto que é despropositado o patrocínio do Euromilhões. Devíamos ter apostado num produto que pudesse ser exportado, como o vinho, o turismo, ou a própria TAP. Ao que sei o Euromilhões não exporta nada.
Falemos no entanto dos portugueses que aderiram como nunca a esta aventura. Contei na lista de inscritos, dezoito equipas auto, sete em motos e uma em camião. Notável sem dúvida.
Também notável tem sido a carreira do mais bem sucedido piloto português, Carlos Sousa que tem conseguido ao longo dos últimos anos um extraordinário conjunto de resultados. O facto de ser de um país com fraco mercado tem prejudicado a sua presença em verdadeiras equipas de ponta, mas mesmo assim os resultados falam por si.
Lembro-me ainda da sua estreia há precisamente dez anos. O seu primeiro Dakar foi também o meu primeiro Dakar. Tive então o prazer de privar com o Carlos minutos antes da partida em Granada. Nessa altura conduzia um carro da categoria T1 (a mais fraca), cheio de dúvidas sobre o que lhe iria acontecer, falando-me do esforço que teve de efectuar para conseguir o “budget” necessário. Mostrava no entanto, alguma inquietação e uma ânsia enorme para iniciar esta aventura que esteve na origem de uma carreira de sucessos. Graças à câmara do João Carrega, e para meu orgulho pessoal, foi possível perpetuar esse momento em que abracei o Carlos pouco antes de entrar no carro e calçar as luvas.
No décimo aniversário do Carlos no Dakar aqui ficam os meus votos de felicidades para a edição de 2006, votos que estendo a todos os portugueses que se preparam para participar nessa grande aventura.
Resta-nos a todos encher os trilhos do Alentejo e Algarve para lhes dar a força que vão necessitar nas jornadas africanas. Sorte para todos...
Paulo Almeida
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