Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº94    Dezembro 2005

Dossier

POLITÉCNICO DA GUARDA

Trabalho conjunto é preciso

O presidente do Politécnico da Guarda, Jorge Mendes, considera que as instituições de Ensino Superior da região devem poder trabalhar em conjunto, organizando licenciaturas e mestrados, sobretudo tendo em conta as alterações decorrentes de Bolonha. Essa será a forma de aproveitar melhor os recursos físicos e humanos de cada instituição, ao mesmo tempo que se garante a continuidade das diferentes instituições existentes.

Numa entrevista concedida ao Ensino Magazine, aquele responsável dá mesmo o exemplo de uma universidade alemã, junto à fronteira com a Polónia e a República Checa, que “organiza mestrados e doutoramentos em conjunto com uma universidade de cada um daqueles países, sendo os diplomas assinados pelos reitores das diferentes universidades”.

Ora, se tal acontece em termos internacionais, considera que ainda mais se justifica numa lógica regional, ainda mais numa altura em que se discute a constituição de uma verdadeira rede de ensino superior, com as áreas de formação a serem organizadas no espaço, podendo cada região ficar especializada em determinada área.

“Aqui há uma necessidade urgente da Tutela legislar no sentido das instituições de Ensino Superior se poderem associar, no sentido de apresentarem uma oferta formativa. Se eu hoje quiser apresentar uma proposta de segundo Ciclo de formação, em conjunto, por exemplo, com o Politécnico de Castelo Branco, não o posso fazer do ponto de vista legal”, afirma.

Esta questão, afirma, deve ser revista, permitindo colaborações em todas as ofertas formativas, pois o trabalho realizado até agora, baseado nos acordos bilaterais “não tem resultado”, pois “as instituições têm de apresentar cursos para sobreviverem, para terem alunos e porque há interesses políticos”. Como exemplo aponta o facto deste ano Castelo Branco ter aberto um curso de Gestão Hoteleira quando a Guarda tem um curso igual em Seia, enquanto que a Guarda abriu o de Recursos Humanos, que já existia em Idanha. “Este trabalho de rede, só por si, não vai a lado nenhum”.

DIÁLOGO. A solução passará essencialmente pelo diálogo regional entre as instituições, debatendo a melhor forma de se estruturar a rede, pois, no espaço de cinco a sete anos, “as instituições têm de começar a pensar na possibilidade de acontecerem fusões e não vamos fazer tabu disto”. Mas para já, a ideia passa pela organização da rede, ainda mais numa altura em que avançará o segundo ciclo de formação.

“Se cada instituição começar a organizar o segundo ciclo de formação sem dialogar com as outras instituições, corre-se o risco de se repetirem cursos na região, ao mesmo tempo que outros poderão não existir. Ora é perfeitamente possível dar um curso relativo ao segundo ciclo, que possa ser ministrado pelos politécnicos de Castelo Branco e Guarda, em conjunto com a Universidade da Beira Interior, com recursos humanos e físicos das três instituições, sem qualquer tipo de problema”.

Jorge Mendes diz que está aberto a essa discussão até porque, “tendo em conta o panorama, as instituições mais pequenas do Interior não têm possibilidades de sobreviver, por si só, se não forem por aí, por um trabalho concertado”. Esta necessidade levanta a questão do relacionamento com outras instituições, o qual é bom com Castelo Branco e poderia ser melhor com a Universidade da Beira Interior.

“As nossas relações com as outras instituições são cordiais, normais, embora neste momento seja mais fácil desenvolver um trabalho conjunto com o Politécnico de Castelo Branco, como aliás já acontecia antes. Com toda a sinceridade, relativamente à UBI, não quero culpar ninguém, mas neste momento esse trabalho não tem acontecido. Para se dialogar é preciso pensar no que cedemos, no que damos e não estar num diálogo com a perspectiva de pensar que vantagens se podem tirar desse diálogo. Este tem sido o problema da UBI”.

OBRAS. As declarações do responsável máximo do Politécnico surgem num ano civil em que a instituição inaugurou quatro obras fundamentais, designadamente a melhoria das instalações da agora Escola Superior de Saúde, as novas instalações da Associação de Estudantes, o pavilhão gimnodesportivo nos Serviços Sociais e os arranjos exteriores da Escola Superior de Turismo e Telecomunicações de Seia.

“A sede da Associação de Estudantes é a melhor do País, com instalações excepcionais, quer para a Associação, quer para os grupos e até para as tunas”, adianta Jorge Mendes, enquanto afirma que a ampliação da Superior de Saúde, que considera “um projecto estruturante”, permitiu alargar a ofertas formativa a um curso de Farmácia, além de uma especialidade em Enfermagem Médico-cirúrgica.

Apesar desse alargamento, o crescimento da escola não deverá ficar por aqui, pois o presidente do Politécnico considera que, “em termos de futuro, era importantíssimo que a Superior de Saúde possa vir a ter instalações no Campus do Instituto”. Considera que “as obras foram importantes”, mas vai dizendo que “a escola ainda tem condições muito precárias”. Até lá, avançam porém novos cursos na área da Saúde, existindo já três propostas que prefere não revelar para já.

FORMAÇÕES. Se tem termos de oferta formativa “uma das apostas para o ano é na área da Saúde”, o Politécnico da Guarda prevê também crescimentos noutras áreas, designadamente ao nível de cursos de especialização tecnológica, pós-graduações, especializações e até mestrados. Já em termos de licenciaturas, tudo passa por um equilíbrio que se tem conseguido mais em algumas áreas do que noutras.

“Na Escola Superior de Educação tem sido conseguido o equilíbrio, através da animação socio-cultural, da Comunicação e do Curso de Desporto”, refere. Já os cursos de formação de professores, resumem-se hoje à Educação de Infância e de 1º Ciclo, pois as variantes só funcionam os quartos anos e o Curso de Música encerrou este ano. Pior está a Superior de Tecnologia e Gestão, sobretudo na área das engenharias.

“É a escola onde há maiores desequilíbrios. Está razoavelmente bem do ponto de vista da gestão, com o Marketing, os Recursos Humanos e a Gestão, áreas que tem alunos, tal como as contabilidades. Mas temos um número diminuto de alunos em termos de tecnologias”, algo que atribui a vários factores, sendo um deles o da imposição do 9,5 nas específicas.

A solução está na alteração das regras de entrada, pois a Matemática deixará de ser a única disciplina específica, mas também na candidatura de novos cursos. “Este ano a aposta na Tecnologia do Design e Equipamento não foi bem sucedida, mas a escola está a trabalhar noutras propostas nas áreas”.

Finalmente, em Seia, a procura “está a responder ainda bastante bem”, pelo que ainda está a ser equacionada a hipótese de apresentação de novos cursos, pois há um que tem de ser mais trabalhado. “As tecnologias de informação e turismo, apresentado este ano, não respondeu bem, mas também foi aprovado muito próximo das candidaturas e é possível que no próximo ano corra melhor”.

BOLONHA. Em matéria de formação inicial, Jorge Mendes considera que o Ministério deveria definir rapidamente o modelo que quer aplicar no que diz respeito à duração do primeiro e segundo ciclo do Ensino Superior. “A oferta do segundo ciclo, equivalente ao mestrado, está condicionada com algo que me parece inacreditável: ainda não saiu legislação relativamente à aplicação do processo de Bolonha”.

Aquele responsável adianta mesmo: “É inaceitável que já tenha saído a alteração à Lei de Bases, mas ainda não foi publicada legislação através da qual as instituições possam saber como apresentam as suas propostas de formações até 31 de Janeiro. Há dossiers fundamentais que não estão a ter o devido encaminhamento por parte da Tutela e pergunto-me se temos um ministro da Ciência e Ensino Superior ou só ministro da Ciência”.

De qualquer modo, garante que as escolas do Instituto estão a trabalhar nas propostas, as quais vão mais no sentido do 3+2. “Do conhecimento que tenho, as propostas vão nesse sentido, do 3+2”. Resta agora saber da aplicabilidade dessas propostas, pois não há indicações superiores nesta matéria.

EMPREENDER. Seja qual for a decisão em termos da duração dos ciclos de formação, o certo é que na Guarda e noutras instituições deverá avançar a introdução de disciplinas relacionadas com o empreendedorismo, área em que o Politécnico também está a trabalhar em termos externos, tendo avançado recentemente como o Politécnico de Castelo Branco no projecto BI Inova, um concurso regional de empreendedorismo.

“Trata-se de um projecto que envolve também as câmaras municipais das duas cidades e as associações empresariais dos distritos. É um excelente exemplo de que não vale a pena trabalhar sozinho. O projecto ficou muito enriquecido com a entrada do Politécnico da Guarda e isso nota-se”.

Por outro lado, o Politécnico cimenta a sua ligação às empresas, a qual Jorge Mendes considera importante e crescente. “Há uma ligação bastante estreita das empresas da região com as escolas de Tecnologia, de Saúde e mesmo com a ESE e com Seia, as quais prestam imensos serviços. Diria que a ligação não é muito visível, mas que existe no terreno”
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POLITÉCNICO DA GUARDA

Os desafios do Politécnico

O Instituto Politécnico da Guarda acaba de assinalar o seu Dia, com uma sessão solene que serviu de arranque do novo ano lectivo, e onde foram entregues Bolsas de Mérito a alunos, de diversos cursos, que tiveram com aproveitamento escolar excepcional, e a atribuição de Certificados de Mérito a docentes e funcionários com mais de 15 anos de serviço efectivo. O Presidente do IPG, Jorge Mendes, acentuou na sua intervenção que a ausência de regulamentação específica está a inviabilizar a aplicação do Processo de Bolonha, alertando para a urgente necessidade de ser colmatada esta lacuna. Para Jorge Mendes, a aplicação do Processo de Bolonha deveria ter início já em 2007/2008, devendo, no máximo, estar concluída no ano lectivo 2009/2010.

Outras das questões que mereceu a atenção do Presidente do Politécnico da Guarda – o qual reforçou a importância da aposta na qualidade – foi a do financiamento dos primeiro e segundo ciclos de formação no ensino superior, sustentando que as verbas deverão ser asseguradas pelo Orçamento de Estado, no primeiro caso; na sua opinião o mesmo deverá acontecer relativamente ao segundo ciclo quando seja imprescindível para uma profissão regulada.

AVALIAÇÃO. A questão relativa à avaliação, quer do ensino superior, quer das instituições que o ministram, foi igualmente contemplada na análise que o presidente efectuou. Jorge Mendes apontou a necessidade de o Politécnico se candidatar a uma avaliação externa, europeia, pelo que sustentou a premência da preparação de toda a documentação inerente destinada a habilitar, com o máximo de informação e rigor, a entidade avaliadora.

Contudo, o presidente do IPG considerou igualmente fundamental a avaliação interna, de forma a saber o que “corre bem e o que corre menos bem”. Após aludir à avaliação já feita ao corpo não docente, no quadro da estratégia traçada a nível governamental, Jorge Mendes referiu que “há um corpo que não tem sido avaliado, que é o pessoal docente. É fundamental que se faça uma avaliação do pessoal docente bem como da forma como gerimos os recursos humanos nesta instituição”.

Uma gestão que, na sua perspectiva não deverá ser descentralizada, de modo a permitir uma maior rentabilização “dos recursos existentes”.

ALUNOS. O acesso ao ensino superior – tema onde se referiu à necessidade de ser regulamentada a admissão de alunos estrangeiros – foi outro dos tópicos da intervenção de Jorge Mendes, no decorrer da sessão solene de abertura do ano lectivo 2005/2006. “O Processo de Bolonha vai levar a uma redução do número de alunos e o numerus clausus quase se vai esbater”, alertou Jorge Mendes, para quem assume grande premência a associação com outros estabelecimentos de ensino superior, no plano da apresentação e definição de novos cursos.

Neste contexto, o Presidente do IPG teceu algumas considerações sobre a necessidade de “uma nova lei da autonomia”, que viabilize uma avaliação mais clara, a gestão plurianual dos saldos e a flexibilização das receitas próprias; aquele responsável, fazendo notar que a realidade de hoje é substancialmente diferente da visão subjacente ao período em que foi publicada a legislação sobre a autonomia.

A urgente necessidade da revisão dos Estatutos do Instituto Politécnico da Guarda foi outras das prioridades definidas por Jorge Mendes, que se mostrou indignado pelo facto de não existir ainda o quadro do pessoal não docente. “Os funcionários estão numa situação inacreditável”; também a manutenção, por parte da tutela, dos actuais quadros docentes nas Escolas do IPG mereceu a sua discordância.

EMPENHAMENTO. A concluir a sua intervenção, o Presidente do Politécnico da Guarda apelou à união de esforços e ao contínuo empenhamento de todos. “Os problemas do IPG são demasiado importantes, e nalguns casos graves, para não estarmos unidos”, comentou. “Há problemas que exigem uma grande solidariedade, não é tempo de guerras”, referiu Jorge Mendes.

 

 

 

LUÍS SOARES, PRESIDENTE DO POLITÉCNICO DO PORTO

O percurso do Politécnico

A sessão solene integrou ainda uma Oração de Sapiência, proferida por Luís Soares (Presidente do Instituto Politécnico do Porto), subordinada ao tema “Ensino Politécnico – um percurso”.

Após uma atenta e pormenorizada análise às linhas de evolução do ensino superior politécnico, Luís Soares concluiu que “na vida de cada um, cada momento de reflexão sobre o percurso que foi constituirá uma interrogação sobre o percurso que será. Com as instituições não será diferente. Por isso, este percurso que vos deixo do que foi o ensino politécnico é também a minha interrogação sobre o seu futuro; este futuro dependerá, é certo, da evolução do contexto social, cultural e político”.

O Presidente do Instituto Politécnico do Porto (e ex-Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) afirmou que esse futuro, na sua convicção, “dependerá, acima de tudo, do que cada um de vós, enquanto indivíduo, e como membro da sua sociedade académica, for capaz de pensar, de reflectir e de fazer”
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