Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº94    Dezembro 2005

Cultura

GENTE & LIVROS

Arthur Philips

«Durante alguns minutos, conversámos sobre a disenteria do explorador, a minha descoberta do Fragmento C, as minhas perspectivas de encontrar o túmulo de Atum-hadu, as suas perspectivas de sucesso no Vale. Trocámos impressões sobre Oxford, a minha infância em Kent, a minha carreira militar e Atum-hadu. O Gardiner teceu comentários bastante selectos acerca das suas traduções em rima», sublinhou o Carter, abanando a cabeça ao referir-se ao filólogo desonesto e medíocre que tinha considerado Desejo e Engano no Antigo Egipto um livro embaraçoso para os leigos e penoso para os especialistas».

«Divertido, não foi? Isso faz-me lembrar… Tenho de fazer-lhe a pergunta, Howard, o que pensa daqueles que nesta fase ainda têm dúvidas de que Atum-hadu»...


In O Egiptólogo

Arthur Phillips nasceu em Minneapolis, Estados Unidos. Termina o curso superior na Universidade de Harvard e começa a escrever o seu primeiro romance em 1990.

Com a queda do regime comunista, a Europa Central vivia dias de boémia, a recrear o espírito dos anos 20 de Paris, o que leva Arthur Phillips a partir para a Hungria. Vive em Budapeste de 1990 a 1992 exercendo várias profissões, entre as quais músico de Jazz, empresário e assistente executivo.

De regresso aos Estados Unidos estuda música no Berklee, em Boston, gradua-se ao fim de um ano e meio, e passa à música profissionalmente. Pouco depois casa e a necessidade monetária leva-o a participar no concurso televisivo Jeopardy. Seis meses depois Arthur Phillips já tinha ganho cinco sessões do concurso e conseguido bastante dinheiro.

Retoma a escrita do romance Prague em 1997. O livro leva-lhe quatro anos a finalizar e seis meses para encontrar um editor. Best seller na América, Prague (2002) foi considerado notable book of the year pelo New York Times e ainda eleito como melhor primeiro romance do ano, pelo jornal Los Angels. Sobre o processo de escrita do seu segundo romance O Egiptólogo (2004) o escritor afirma: « é uma expedição arqueológica. Pensas que descreveste a câmara principal, mas descobres outra porta e julgas que conduz a um quarto maior, e então contra todas as expectativas, percebes que é somente a peça de uma estrutura maior que não esperavas encontrar».


O Egiptólogo. No mesmo ano em que Howard Carter dava a conhecer ao mundo a maior descoberta da história da arqueologia, o túmulo de Tutankhamon, o obsessivo egiptólogo, Ralph Trilipush, escavava as areias do deserto em busca do túmulo do fantástico rei Atum-hadu; e o detective privado australiano, Harold Ferrell investiga no Egipto a morte dos militares Paul Caldell e Hugo Marlowe.

Página coordenada por
Eugénia Sousa

 

 

 

LIVROS

Novidades para o Natal

BICO DE PENA. Um Quarto que não é Seu de Alicia Giménez Bartlett. Virginia Woolf escreveu Um Quarto que Seja Seu e aí defende que as condições precisas para as mulheres poderem alcançar a liberdade social e intelectual, numa sociedade dominada pelos homens, passam por um rendimento e um espaço próprios. Entre a reconstrução biográfica e a ficção, Alicia Giménez, conta a história de Nelly Boxall, a criada e cozinheira de Virginia Woolf, e de uma convivência nem sempre fácil entre a escritora e a mulher que não tinha um quarto que fosse só seu. 

COTOVIA. A Odisseia de Homero adaptada para Jovens por Frederico Lourenço e desenhos originais de Richard de Luchi. Depois da Bíblia, a Odisseia é o maior sucesso editorial de todos os tempos, e em conjunto com a Ilíada, também de Homero, marca o inicio da história da literatura europeia. Ulisses, Telémaco, Penélope, Calipso, Circe, Áquiles são só alguns dos muitos personagens que integram uma história imortal que os mais jovens não podem deixar de conhecer. 

DIFEL. Adrian Mole e as Armas de Destruição Maciça. Depois do Diário Secreto aos 13 anos, da Crise da Adolescência, das Confissões, dos Anos Amargos e da Idade do Capuccino, «o nosso herói» tem agora 34 anos, um emprego como livreiro, e vive angustiado com preocupações de toda a ordem: as armas de destruição maciça, as dívidas que se acumulam, e como se livrar dos patos da vizinhança, dos ratos que habitam a sua casa “nova” e da namorada manipuladora - para poder assumir a paixão pela irmã dela. Mais uma inglesa a marcar a nossa vida: primeiro Enid Blyton com as Aventuras dos Cinco, a seguir Sue Towsend com Adrian Mole.

PIAGET. Hominescência de Michel Serres. Se a hominização caracteriza a etapa inicial da humanidade como a descoberta do fogo e dos primeiros utensílios, o autor criou o neologismo Hominiscência para definir o devir do homem: como a adolescência fala da passagem da infância à idade adulta ou a luminiscência define o momento em que um corpo obscuro se ilumina. Um «cântico» de esperança do filósofo Michel Serres que é também autor de Ramos e O Incandescente. 

CAMPO DAS LETRAS. Salvador Allende - O crime da Casa Branca de Patricia Verdugo. A autora muitas vezes galardoada com prémios na área do jornalismo, com vários livros publicados sobre a defesa dos direitos humanos nesta obra dá-nos respostas sobre quem foi Allende «Ano após ano, no decurso deste século, novas gerações irão perguntar quem foi este chileno que se imortalizou em nome da coerência com os seus ideais, da lealdade com o seu povo e da esperança na construção de uma sociedade mais justa e solidária».

AMBAR. Feliz Natal Penélope de Anne Gutman e Georg Hallensleben. Este é um livro animado para as crianças que os adultos vão gostar. Dentro dele tudo está repleto de vida: as lâmpadas dos pinheiros do jardim iluminam-se e a ursinha Pénelope tem de decorar a casa para o Natal, abrir os presentes e construir os brinquedos. Ela vai precisar de ti é quase Natal e só com o teu toque tudo acontece como por magia.

GRADIVA. O Codex 632 de José Rodrigues dos Santos. Uma mensagem misteriosa foi deixada por um velho historiador antes de morrer, no Rio de Janeiro.Tomás Noronha, professor Universitário de História e perito em criptanálise é destacado para a descodificar. Mas o mistério que mensagem guarda lança-o na pista do segredo mais profundo dos Descobrimentos.

ÂNCORA. Encontrei o Principezinho - Carta a Saint-Exupéry de Jorge Cabral dos Santos. Quando o autor procurava o seu amigo Tiago, perdido há já alguns dias na Serra da Arrábida, encontra o Principezinho e resolve escrever uma carta a Saint-Exupéry - que havia pedido se um dia alguém encontrasse o principezinho, lhe desse notícias. Livro de e como o Natal, magníficas histórias de Amor. 

EUROPA-AMÉRICA. Bento XVI e o Plano de Deus. Quando os cristãos esperavam um papa sul-americano ou africano, um homem vindo do sul onde se concentram agora as multidões cristãs a escolha recai sobre um europeu, o alemão Joseph Ratzinger. Para colocar a ideologia individualista na senda da Verdade Bento XVI assume o comando de mil milhões de católicos para que possam redescobrir a beleza da vida cristã, o seu sentido e a plenitude.

D. QUIXOTE. Guiness World Records 2006. Sabia que Do They Know It‘s Christmas? atingiu o topo da tabela de singles no Natal, em três ocasiões distintas 1984,1989 e 2004; o anúncio do perfume da Chanel nº5, protagonizado pela actriz Nicole Kidman é a publicidade mais cara de sempre; e que o galã Sooty, um porquinho-da- Índia da Nova Gales do Sul se tornou conhecido em 2001 por ter recebido o maior número de postais no dia de São Valentim, mais de 206. Descubra estas e muito mais curiosidades.

LIVROS DO BRASIL. O Romance do Kremlin de Vladimir Fédorovski. A História do Kremlin está repleta de assassínios, orgias, conspirações e dramas políticos. O triunfo e a queda dos czares, a sua loucura e tragédias; a crueldade lendária de Ivan o Terrível; o génio do mal de Estaline; a personalidade enigmática de Lenine; e os desígnios dos lideres mais recentes como Khruschev e Vladimir Putin. Na língua russa Kreml significa fortaleza e será nessa fortaleza que iremos entrar pelo talento de Fédorovski.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Os amores de carmem

São numerosas as versões da ópera Carmen no cinema. A personagem criada por Prosper Mérimée em meados do século XIX, um romancista francês que desde a juventude foi atraído pelo romantismo e que escreveu esta obra seduzido talvez pelo universo social, religioso e rural de Espanha, e em 1875, adaptada à música de Bizet pelos libretistas Henri Meilhac e Ludovic Halévy, inspirou realizadores a criarem as suas Carmen tais como Urban Gad, “Der Tod in Sevilla” (1913), com Asta Nielsen, Charles Chaplin, em 1916, com uma Carmen burlesca, Edna Purviance, Cecil B. DeMille, em 1917, com Geraldine Farrar, Ernst Lubitch, em 1918, com Pola Negri, “The Loves of Carmen” (1927), de Raoul Walsh, com Dolores Del Rio, “The Loves of Carmen” (1948), de Charles Vidor, com Rita Hayworth e as recentes versões de 1983 de Carlos Saura, com Laura Del Sol, de Francesco Rosi, uma adaptação fiel da ópera, com Julia Migenes-Johnson e de Jean-Luc Godard, com Maruschka Detmers. Em 1938 outra versão de Carmen ficou famosa, a de Florian Rey, realizada na Alemanha com Imperio Argentina, mais fiel à novela de Mérimée que ao libreto de Meilhac e Helévy. Porém, a mais poderosa adaptação ao cinema é sem sombra de dúvida “Carmen Jones”, de Otto Preminger.

O filme, realizado em 1954, deve-se essencialmente a Oscar Hammerstein II, que na altura transformou a obra numa opereta produzida para a Broadway por Billy Rose, e a Preminger realizador e produtor que a transposta para a época contemporânea, num meio de negros norte-americanos com argumento de Harry Kleiner. Carmen é agora uma operária de uma fábrica de pára-quedas, D. José é Joe, um cabo, Escamilho, o Toureiro, é agora transformado na figura impressionante do boxeur Husky Miller, a arena é um ringue de boxe e Micaella, a apaixonada de D. José, é Cindy Lou, apaixonada por Joe. Também nesta versão, Carmen Jones está mais perto da personagem de Merimée. Uma transposição admiravelmente conseguida. No plano musical, partindo de uma ópera cuja música, de inspiração espanhola, parecia não caber neste novo cenário, Preminger é bem sucedido quando mistura a “intocável” partitura de Bizet, com os ritmos característicos da música afro-americana. Com a economia de meios que lhe é peculiar, introduz o Jazz com uma naturalidade absoluta, onde vemos a experiente e conhecida cantora Pearl Bailey no papel de Frankie, cantando ela própria acompanhada pelo excelente baterista Max Roach, Richie Powell e Curtis Counce, em breves aparições. No plano dramático, o realizador sustenta do princípio ao fim uma alta tensão, à beira de explodir a qualquer momento. O próprio afirmaria que “Carmen Jones é um dos raros filmes que realizei a conquistar a unanimidade da crítica e do público”. Com efeito a acusação de infidelidade à obra de Bizet avançada por alguns puristas não colheu, apesar de os herdeiros de Bizet terem conseguido que o filme fosse proibido em França até 1981!

Dorothy Dandridge, dançarina, cantora e actriz, “apropria-se” da voz admirável de Marilyn Horn, numa dobragem perfeita, resultando numa Carmen fascinante, plena de sensualidade e de erotismo, que, no seu estilo rigoroso e discreto, com longos planos de sequência, Preminger, tirando partido do cinemascope filma, utilizando de uma forma magistral e realista o espaço e o cenário. Se as cenas do combate de boxe são de antologia, as do refeitório são fenomenais. Da entrada de Carmen à luta e por fim à prisão, com ela toda a deslizar pelo Harry Belafonte abaixo, prenúncio da sedução que se seguirá no jipe e culminada na paragem, antes da fuga, com a cena da maçã, suprema tentação, originando a prisão de Joe Depois aquele beijo e o travelling sobre o horoscópio, primeira abordagem do fatalismo de Dorothy Dandridge, prenúncio da tragédia final, magnificamente exibida ainda na ária das cartas.

Ao vemos Carmen Jones meio século depois da sua realização, é notável a sua actualidade. O tempo só lhe terá feito bem, adquirindo uma nova força e energia próprias. Pelas interpretações, com realce, claro, para Dorothy Dandridge, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz, criando a Carmen mais sensual que se imaginou, que, centro de toda a intriga, não perdeu o seu valor simbólico. 

Um daqueles filmes que, como o nosso Porto, nos aquece a alma e connosco ficará para sempre. Magistral!

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças

 

 

 

Educação às tiras

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 


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