Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº90    Agosto 2005

Editorial


Não se aprende para sempre

Temos vindo a analisar a necessidade de se proceder a uma profunda revisão da formação de professores, para que o esforço aplicado na sua profissionalização tenha claras contrapartidas na melhoria dos resultados escolares dos alunos.

Neste contexto temos valorizado o prolongamento da formação para dentro das escolas em que os docentes trabalham, recuperando-as como centros de saber, como centros de aprendizagem em situação, como comunidades educativas em que as famílias, os jovens e o educadores assumam a sua quota parte de formação ao longo da vida.

Por tudo isso, e também porque entendida como uma continuação da formação inicial, a formação permanente deverá fundamentar-se na necessidade e exigência da alteração de atitudes, mentalidades e competências profissionais e pessoais, para um melhor desempenho da prática lectiva, tendo como horizonte a consequente melhoria da aprendizagem e desenvolvimento integral dos alunos.

Daí que normativos legais, infelizmente nunca regulamentados em Portugal, considerem sobretudo o primeiro ano de carreira – o ano da indução – como um primeiro ano de exercício profissional autónomo que deveria ser acompanhado pelas instituições formadoras, ou por formadores das próprias escolas em que trabalham os “novos” professores. Pelo que podemos considerar que a não existência de um sistema de “follow-up” destes formandos se traduz, desde logo, num “desperdício de formação”, com inerentes custos pessoais, profissionais e financeiros para os docentes envolvidos, e para a própria Administração Pública.

Poderemos então afirmar que a formação permanente dos professores deveria evoluir no sentido de abandonar uma visão que pretendia “ensinar” um docente que teria atingido estágios de “incompetência” e “ignorância” profissionais, para se centrar na perspectiva de encarar o professor como um elemento de um contexto escolar, pessoal e interpessoal, valorizando a sua personalidade, as suas crenças, valores e expectativas, como variáveis influenciadoras do seu, crescimento pessoal e profissional. Poderíamos, então, e em consequência, considerar três tendências na organização e desenvolvimento de “programas” de formação permanente dos docentes: 1 – Formação centrada na escola. 2 – Continuidade entre a formação inicial e a formação contínua. 3 – Participação dos professores na organização, planificação, implementação e avaliação dos projectos formativos.

É nosso entender, que compete aos formadores, sobretudo quando investigam e analisam os resultados das pesquisas e da literatura, aceitar o desafio de buscar entre a divergência de campos conceptuais quais as linhas conducentes a uma formação que se deseja gratificante, consolidada, permanentemente inquiridora e positivamente reflectida na melhoria da aprendizagem dos alunos e da organização da escola.

O que não podemos admitir mais é que a escola e os educadores se esgotem em estatísticas que ajudem a uma erosão da sua imagem que possa levar décadas a recuperar.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


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