Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº86    Abril 2005

Dossier

JOÃO PEDRO BARROS QUER CENTRO DE INVESTIGAÇÃO

Ensino Politécnico é fundamental

“O País precisa do Ensino Politécnico como de pão para a boca, pois está farto de doutores e precisa de gente com capacidade para trabalhar. Ora, a formação que o Politécnico ministra é compatível com o que o sector empresarial vai reivindicando dos nossos jovens licenciados”. A certeza é do presidente do Politécnico de Viseu, João Pedro de Barros, o qual considera que a qualidade da formação politécnica deve ser mais valorizada e aproveitada.

Pela parte que lhe cabe, tem um conjunto de projectos e de obras em curso que quer concretizar no sentido de cimentar o Ensino Politécnico, não só na área da formação inicial, mas também na ligação às empresas e sobretudo na investigação científica aplicada. “O Instituto tem três áreas bem definidas: a da formação inicial, a da interface entre a formação e o desenvolvimento empresarial, que estão em pleno, bem como a da investigação que importa desenvolver”.

Ao nível da formação inicial, o Politécnico tem ouvido os alunos do Secundário. “Temos criado áreas científicas com base em inquéritos que temos feito aos alunos”. Ouve também as empresas, no sentido de “fazer o levantamento de necessidades a que importa responder”, pelo que decorre daí uma primeira ligação às empresas, que se cimenta com a investigação, a qual já funciona, mas vai ser mais desenvolvida.

O presidente do Politécnico e a sua vice-presidente deslocam-se nos próximos dias a Herlangen, na Alemanha, para ver como funciona a investigação, tendo já feito visitas semelhantes à Dinamarca, pois “a investigação é hoje cada vez mais importante, o que nos leva a querer instalar aqui um centro de estudos avançados, com investigação, para podermos cumprir em todas as áreas fundamentais do Ensino Superior”.

Este centro de investigação estará também associado a pós-graduações. Em Viseu existem mestrados ao abrigo de acordos com várias universidades de Portugal e Espanha. Com a nova lei da autonomia, o Politécnico poderá realizar aqueles cursos autonomamente. Algo que João Pedro de Barros considera fundamental para reclamar o estatuto de Universidade Politécnica.

“Conheço bem a situação de outros países da Europa, onde existem universidades politécnicas. Por que razão é que há-de haver um espírito retrógrado em Portugal que impeça a sua criação? Podem co-existir as universidades clássicas, técnicas e politécnicas”, adianta.

Espera por isso que o Governo vá por esse caminho, sobretudo quando já disse que durante quatro anos não serão criadas mais instituições, mas sim a qualidade das existentes. “É por aqui que queremos ir. Para que, quando for possível passar a universidade politécnica, estejamos já a cumprir todos os mandamentos para assumirmos essa designação”.

Até lá, espera que o Ensino Politécnico não continue a ser “discriminado, em relação a todos os aspectos”. E tem uma esperança: “Como o Primeiro-ministro, José Sócrates, concluiu o curso no Politécnico de Coimbra, espero que reconheça o valor dos politécnicos. Nem ele nem o seu ministro da ciência poderão dizer mal dos politécnicos, pois sendo o ministro um produto universitário, tem um Primeiro-ministro que é um produto do Politécnico”
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DIAS ABERTOS

Estratégia funciona

Mais de quatro mil alunos que frequentam o Ensino Secundário na região de Viseu visitaram este ano o Politécnico durante os Dias Abertos, uma iniciativa que aconteceu pela primeira vez no ano passado, mas que trouxe resultados, o que levou os responsáveis da instituição a repetirem a actividade.

“Olhando ao que sucedeu no ano passado, os resultados, em termos de captação de alunos, foram muito bons. Tomando como exemplo a Escola Alves Martins, dos 325 alunos que completaram o 12º Ano, cerca de 250 matricularam-se no Politécnico, uma atitude que foi genérica em relação às outras escolas da cidade. Das 1380 vagas que tínhamos, cerca de 700 foram ocupadas por alunos de escolas da região”.

O presidente do Politécnico considera por isso que “muitos deles poderão ter sido sensibilizados pelos Dias Abertos”. Algo fundamental, sobretudo numa altura em que há mais vagas que candidatos, o que é importante para a instituição. Mas aquele responsável destaca ainda a importância que tem para as famílias o facto dos seus filhos ficarem a estudar perto de casa.

“Um aluno que saia daqui para estudar noutro sítio, acaba por onerar muito o orçamento familiar. Depois, um aluno desenraizado da família, é por via de regra um alunos que entra numa fase da vida, às vezes até com algum desregramento, pois deixa de ter, de um dia para o outro, a tutela de quem tem a primeira obrigação de educar, que são os pais”.

 

 

 

ALEJANDRO FERRER, SECRETÁRIO GERAL DA EDUCAÇÃO ESPANHOLA

À procura da qualificação

O Secretário Geral de Educação de Espanha, Alejandro Ferrer, considera que um dos problemas que afectam o sector educativo no país vizinho é o facto de “existirem muitos jovens que abandonaram o ensino obrigatório sem obterem o respectivo diploma de ensino secundário. Durante muito tempo, uma grande parte desses jovens estavam fora da escola, mas desde há 10 anos que os alunos, até aos 16 anos, estão escolarizados. Ainda assim, há cerca de 20 por cento desses estudantes que não terminam os cursos obrigatórios”, explica.

Em entrevista ao Ensino Magazine, realizada à margem do Congresso de Ciências da Educação, o secretário Geral da Educação em Espanha, explica “que o Governo acaba de aprovar o Decreto Lei para combater essa situação. Nele incluímos um conjunto de questões relacionadas com o modo como os problemas podem ser detectados e como preveni-los. Isto porque não é só o ensino secundário que nos preocupa, mas também como se podem resolver os problemas que começam no ensino primário, pois muitas vezes são esses que se arrastam e no final resultam num fracasso para os alunos”.

Alejandro Ferrer recorda que ao nível da educação para adultos foi feito um grande esforço em Espanha. “Nós partimos de uma situação muito parecida com a portuguesa, pois temos uma população envelhecida com níveis baixos de qualificação. Somos dos países da OCDE com menor nível geral educativo da população, o qual está afecto a pessoas com mais de 55 anos”. Daí que o Secretário Geral da Educação de Espanha frise “o grande esforço que foi feito para implementar a aprendizagem ao longo da vida. Facto que permite, em primeiro lugar, que as pessoas possam adquirir a sua educação, e em segundo para que possam validar a experiência adquirida em termos profissionais”.

A aposta na formação ao longo da vida e da possibilidade de dar aos profissionais qualificação é vista como importante por Alejandro Ferrer. “Esta aposta é fundamental, pois temos ainda uma elevada percentagem da população, entre os 20 e os 24 anos, que depois dos estudos obrigatórios não prosseguiu a sua escolaridade. Neste momento, estamos a conseguir que muitos desses jovens voltem a estudar, mas ainda temos um longo caminho a percorrer nesta matéria”.

ESTRANGEIRAS. O ensino de uma língua estrangeira no ensino primário, que agora se está a tentar implementar em Portugal, já é uma realidade em Espanha. O secretário Geral da Educação espanhola, lembra que “esse ensino já se verifica a partir da terceira classe. No entanto, é nosso objectivo que esse ensino comece logo no primeiro ano ou até nos últimos anos do pré-escolar”.

SUPERIOR. Com a Declaração de Bolonha à beira de ser implementada, o Secretário geral da Educação em Espanha, lembra que o processo está a decorrer normalmente. “Neste momento estamos a elaborar os catálogos de títulos adaptados aos graus de Bolonha. No nosso país, a situação é muito diferente da adoptada naquele documento, mas neste momento já foram aprovados os decretos que definem como devem ser implementados esses graus, e ainda antes do Verão será apresentado um catálogo dos títulos que se vão oferecer ao nível da oferta inicial, para que no próximo ano se definem as directrizes dos programas curriculares, de modo a que em 2007 os cursos já funcionem com essas novas regras”. Aquele responsável lembra ainda que ao nível das pós-graduações também está a ser feito um trabalho adaptativo. 

Espanha parece também optar por um primeiro ciclo de formação inicial que variará entre os três e os quatro anos. No entanto, Alejandro Ferrer prefere falar em créditos, o que significa que os cursos iniciais variarão entre os 180 e os 240 créditos. “Em princípio não vai haver uma duração única”. Todo este processo já vinha sendo preparado há algum tempo, mas “a implementação de tudo isto vai ser muito exigente, pois o esquema de graus espanhol é muito diferente do de Bolonha”, explica.

Mesmo sem Bolonha, o mercado do ensino superior espanhol continua a ser muito apetecível pelos estudantes portugueses, sobretudo ao nível das licenciaturas em medicina e das pós-graduações, como doutoramentos. “Cada vez mais vamos ter um grande incremento da mobilidade dos estudantes, quer através do Programa Erasmus, quer por opção dos estudantes em frequentarem os seus cursos noutros países. Essa é uma situação que cada vez se vai verificar mais, e ao nível da União Europeia vamos caminhar para uma zona comum de ensino”.

Alejandro Ferrer salienta também a colaboração que existe entre as instituições portuguesas e espanholas. “Essa colaboração teve um grande desenvolvimento. Nos últimos 10 anos isso verificou-se, por exemplo em projectos de investigação, alguns financiados pela União Europeia. Isso é muito positivo e penso que se deveria desenvolver mais”. No entender daquele membro do governo espanhol, “Espanha e Portugal viveram juntos todos estes anos, mas por vezes estiveram de costas voltadas. Desde que entrámos na União Europeia, há 20 anos atrás, que as coisas mudaram, o que é notório no mundo académico”.

 

 

POUCAS VAGAS POR PREENCHER E ...

Escola de artes é urgente

O Politécnico de Viseu tem neste momento um conjunto de escolas com todas as condições em termos de formação e de instalações, mas nos contactos com a comunidade do Secundário é notório que muitos alunos preferem cursos na área das Artes, o que não existe ainda na instituição, embora a Escola de Artes tenha sido solicitada nos anos 90.

“A Escola de Artes estava para nascer aqui e foi nascer em Castelo Branco, mas hoje continua a ser necessária ao País e à região. A prova é que a própria Universidade de Coimbra quer criar agora uma Faculdade de Artes”, refere João Pedro de Barros que, para começar a responder ao anseios dos alunos do Secundário, pretende instalar o Centro de Apoio à Formação das Artes (Cafac), numa área do Campus onde neste momento decorrem obras que deverão estar concluídas dentro de cinco meses.

Apesar de pretender desenvolver a área das Artes, tal não deverá implicar a limitação noutras áreas, hoje menos procuradas, como a formação de professores ou as áreas tecnológicas. “O Politécnico ficou com as vagas quase todas preenchidas, o que só não aconteceu na totalidade, porque alguns cursos tinham vagas a mais. Diria que as escolas de Educação, de Tecnologia, de Tecnologia e Gestão de Lamego, bem como o pólo de Lamego (da Superior de Educação) ficaram quase preenchidas”.

Já na Agrária, o presidente do Politécnico não esconde que há dois anos as entradas foram poucas, mas este ano, com a Enfermagem Veterinária, tudo mudou. Além disso, com a reformulação da oferta proposta, espera que o número de alunos aumente, apostando sobretudo no curso de Engenharia das Madeiras. “A designação pode não ser muito apelativa, pois pode dar a impressão que é um curso de carpinteiros, mas é um curso que forma os engenheiros que tratam a madeira desde a parte biológica até ao produto final”.

Na Escola Superior de Saúde, cuja transformação é recente, as vagas são todas ocupadas em Enfermagem, o mesmo devendo acontecer noutras áreas a ministrar nos próximos anos. Em princípio os novos cursos, embora ainda deva ser feita uma negociação com o Conselho Científico, deverão ser os de Anatmopatologia e de Fisioterapia, sendo este último “o mais procurado na região de Viseu”.

 

 

 

FERNANDO SEBASTIÃO QUER MAIS INSTALAÇÕES

Uma escola com procura

Embora o número de candidatos aos cursos de engenharia e gestão esteja a diminuir em termos nacionais, a Escola Superior de Tecnologia de Viseu ainda tem uma procura superior à oferta, o que o seu director, Fernando Sebastião, justifica com a qualidade e diversidade da formação, a grande empregabilidade dos formados e as boas instalações da escola.

“Temos mantido o número de alunos, que actualmente ronda os 3100 e que até tem vindo a crescer”, adianta. Isto embora o número de cursos não cresça há alguns anos. “A escola não cria cursos por criar. Os que tem são fundamentais para a região, os seus formados têm sido procurados pelo mercado de trabalho e começa a ser difícil criar mais cursos, uma vez que temos quase todos os cursos na área das engenharias, exceptuando os tradicionais, além dos da área da gestão”.

Esta política tem dados bons frutos visíveis em matéria de empregabilidade, que é “muito elevada de há vários anos a esta parte”. Estes resultados não resultam apenas da formação ministrada, mas também da política que presidiu à fundação da escola. “Hoje fala-se muito no facto das instituições de ensino superior serem orientadas para apoio às empresas, ao desenvolvimento e inovação. Nós estivemos sempre ligados ao tecido empresarial, mesmo antes de ser criado qualquer órgão da escola”.

De acordo com aquele responsável, os cursos foram criados após ter sido ouvido o Conselho Consultivo, entidade que inclui elementos da comunidade, empresas e instituições públicas. “Quando se diz que agora a nova missão da universidade é esta, para nós não é nova. Sempre foi assim. Essa era a missão do Politécnico e agora, se é a da universidade, é porque as universidades estão a aproximar-se dos politécnicos”.

A aproximação, porém, também ocorre a outros níveis, pelo que a EST tem protocolos com várias universidades, ao abrigo dos quais desenvolve cursos de mestrado, nomeadamente na área da gestão da saúde, de materiais lenho-celulósicos e da gestão, tendo este ano sido iniciado um novo curso nesta última área.

Já a outro nível, o da ligação com o Secundário, a EST está a desenvolver cursos de especialização tecnológica ao abrigo de cerca de uma dezena de protocolos com escolas profissionais da região. Neste momento estão a funcionar os cursos com o apoio científico da escola, sendo que num caso, há aulas que são ministradas nos laboratórios da Superior de Tecnologia.

Os laboratórios são aliás uma imagem de marca de uma escola bem equipada e com boas instalações, mas onde “há sempre algo que é necessário”. Fernando Sebastião fala sobretudo na necessidade de mais espaço. “Precisávamos de mais gabinetes para docentes e de algumas salas de aula, pois a nossa gestão está optimizada, mas em caso de trocas de sala não é fácil. Além disso, precisávamos de mais laboratórios, pois os que temos são ocupados em full-time e a verdade é que temos muitos docentes a fazer investigação, pelo que deveríamos ter laboratórios para esse efeito”.

Com efeito, a escola tem cerca de 200 docentes, dos quais 17 são doutorados, 53 estão em doutoramento, 103 são mestres e 51 a fazer mestrados. “Isto significa que, tirando os que já terminaram o doutoramento, praticamente todo o corpo docente está em formação”. Algo que incrementará a ligação à comunidade, à qual a escola tem prestado vários serviços, desde formação, a estudos e projectos, casos de colaboração com o Programa Polis, Planalto Beirão, entre outros. Uma colaboração que também tem passado pelos formados pela escola, que não perdem os laços, seja em jornadas, conferências, mestrados ou até em convívios de antigos alunos.

Finalmente, a nível interno, a EST está marcada pela “melhoria da qualidade da formação que é ministrada”, pelo que tem apostado numa avaliação anual dos cursos, o que tem permitido proceder a alterações, sem ser necessário quer elas venham a ser sugeridas pela avaliação externa. “Desde 1995 que fazemos auto-avaliação anual a todos os cursos. O trabalho é feito por comissões rotativas, o que tem a vantagem de serem as pessoas do curso a perceberem o que é preciso alterar”.

 

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