Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VIII    Nº86    Abril 2005

Cultura

OLGA PRATS, DE REGRESSO A CASTELO BRANCO

A música é uma botija de oxigênio

“Somos todos solistas, porque na música de câmara não há acompanhadores”. É desta forma que a pianista Olga Prats, afastando qualquer tipo de protagonismo pessoal, apresenta o seu quinteto, formado pelo violinista Aníbal Lima, pela violetista Anabela Chaves, pelo violoncelista Miguel Rocha e pelo contrabaixista Adriano Aguiar. Os cinco músicos estiveram em concerto a 18 de Abril no auditório da Escola Superior de Artes Aplicadas, no Cine-Teatro Avenida, numa iniciativa promovida pela autarquia e pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco onde foram interpretadas obras de Albrechtsberger, Beethoven e Hummel.

Oportunidade para recordar os quase 53 anos de carreira da pedagoga lisboeta, que arrancou aos treze no Teatro de São Luiz com a interpretação de “Cantares de Cá”, obra da compositora portuguesa Francine Benoit. Cinco anos depois, em 1957, a jovem pianista Olga Prats dava o seu primeiro recital em Castelo Branco, não sem algumas atribulações a interromper o “Adeus” de Beethoven. “Era um piano muito antigo, e a meio do primeiro andamento da sonata caiu-lhe o pedal. Tivemos de o arranjar enquanto as pessoas esperavam”, confessa com alguma graça. O regresso à região foi-se fazendo ao longo das décadas, ora a solo, ora acompanhada por Ana Bela Chaves ou pelo Opus Ensemble. Olga Prats participou ainda nos cursos de verão promovidos na cidade, trazendo consigo músicos e compositores como Oliveira e Silva, António Saiote, Jorge Peixinho e Luísa Vasconcelos. “Castelo Branco foi sempre uma cidade muito especial para mim pelos concertos que aqui dei e pelos amigos que cá tinha”, recorda com alguma nostalgia. 

Em pouco tempo, Olga Prats tem um percurso fulgurante: aos cinco anos inicia a sua formação com a mãe, professora de piano, e aos seis com o pedagogo João Maria Abreu e Moita. Pouco depois, aos onze, concluía o primeiro exame de terceiro ano, comprovando a sua maturidade musical. “Nunca fui capaz de brincar com o piano. É um instrumento muito sério”. Faz então vários cursos de câmara na Alemanha e mais tarde no Estoril, ao lado de Ludwig Streicher, Paul Tortelier e Keran Georgian. No país ou no estrangeiro, a solo ou acompanhada por orquestras, toca Bach, Schumann, Brahms, Stravinsky ou mesmo Astor Piazzolla, tendo sido a primeira intérprete em Portugal de solos para piano criados pelo pai do tango.

É no dueto com Ana Bela Chaves que Olga Prats abraça em profundidade a música de câmara e, mais tarde, também com o contrabaixista Alejandro Erlich Oliva, que forma o Opus Ensemble, estrutura que divulgaria trabalhos dedicados de compositores portugueses como Fernando Lopes Graça, Alexandre Rey-Colaço, António Pinho Vargas ou Vitorino de Almeida. “Há alguns anos fizemos um disco com obras de compositores vivos e todos assistiram à estreia: o Eurico Carrapatoso, o Sérgio Azevedo, a Clotilde Rosa, o Laurent Filipe. Era vê-los a viver as obras”, enfatiza a pianista. Em Agosto, assinalando os seus 25 anos de existência e a entrada de um novo oboísta no grupo, o Opus Ensemble irá realizar a primeira audição mundial de uma obra de Eurico Carrapatoso. “O Alejandro Oliva diz que ‘somos a caixa de ressonância da música portuguesa pelo mundo’, porque no nosso reportório temos sempre obras portuguesas escritas para nós”, acrescenta.

Com o passar dos anos, Olga Prats confirma o privilegiar do reportório contemporâneo de músicos nacionais. “Fui à Áustria tocar compositores portugueses, e quando estive na Alemanha dei-os sempre a conhecer. Em Santiago de Compostela, com a Alícia de la Rocha (considerada a melhor pianista espanhola) toquei os velhos fandangos portugueses de Lopes Graça”. E nomes como Constança Capdeville não influenciaram apenas o seu percurso musical. “Trabalhar com gente inovadora proporcionou-me outra visão do piano como instrumento para espectáculo. Quando tocamos no palco, temos as pessoas todas a olhar. E o ver influencia muito o ouvir.” 

Aos 66 anos, e com a reforma no horizonte, a pianista não quer abrandar. Olga Prats está a preparar o primeiro disco com fados de Alexandre Rey-Colaço, bem como um livro com todos os seus programas. “Gostava de continuar a dar a conhecer reportórios, que é o que temos obrigação de fazer no nosso país. Os professores deveriam fomentar nos alunos o interesse pelas obras de compositores portugueses”, refere. Mas no seu entender, os problemas não se resumem ao ensino da música. “Espero que o novo secretário de Estado da Cultura dê mais importância à obra editada, para que quando nos pedem obras de compositores portugueses não continuemos a ter de dar fotocópias”.

Cada vez mais acompanhada quando toca, a professora e coordenadora de música de câmara na Escola Superior de Música de Lisboa garante não ter abandonado o piano a solo, justificando a opção por sentir a necessidade de divulgar o reportório menos tocado. “Como convivi com o Lopes Graça durante 33 anos, tenho a obrigação de não deixar que a música dele seja esquecida”, acrescenta, lembrando os quatro álbuns que gravou com obras suas. E por isso mesmo, mais de três décadas depois, continua a acompanhar o Coro Lopes Graça, interpretando as canções heróicas que exaltam aqueles que lutavam contra o regime salazarista. “Voltei a fazê-lo com o mesmo maestro que trabalhou com o Lopes Graça. É um grande esforço que faço em sua homenagem”. E sem hesitar um segundo, a pianista garante que permanecerá em palco enquanto isso lhe der prazer e não tiver medo de enfrentar o público. “Há músicos que tocaram quase até ao último suspiro. Eu vou continuar enquanto puder, porque a música é para mim a botija de oxigénio”.

Jorge Manuel Costa
(texto)
João Paulo Martins (foto)

 

 

 

800 ANOS DE IDANHA-A-NOVA

Actividades até 2006

No âmbito das Comemorações dos 800 Anos da Vila de Idanha-a-Nova, que decorrem de 23 de Janeiro de 2005 a 23 de Janeiro de 2006, vão sucedendo-se várias manifestações artísticas e culturais.

De entre estas, destacamos, entre outras, as cinco Jornadas cuja temática versará “Idanha, a Identidade e o Território” e que contarão com a reflexão de vários especialistas convidados e a organização das mesmas pertence à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e ao Centro de Formação de Associação de Escolas da Raia Centro.

O Coordenador Científico das Jornadas, Manuel Rijo, refere: «Os temas a abordar, nas Jornadas passarão: pela História, indo-se às origens da Idanha como Vila, contextualizando-se a sua doação aos Templários; pela sua memória construída, escrita e oral; pela sua caracterização como território de fronteira no espaço nacional, mas também nos domínios cultural, político e económico; pelo exercício do poder local, desde a criação medieval dos Municípios até à actualidade; pela reflexão sobre as razões do seu relativo isolamento económico, sobretudo nos dois últimos séculos; pela reflexão sobre as alternativas de desenvolvimento que se colocam.»

Nas primeiras Jornadas realizadas, no Centro Cultural Raiano, no dia 15 de Abril, intituladas “Património em Idanha: a memória de um passado”, que alcançaram assinalável êxito, contaram com comunicações, seguidas de debate, de: Manuel Ferreira Patrício, Cláudio Torres, Henrique Coutinho Gouveia, Joaquim Pais de Brito e Joaquim Oliveira Caetano. 

As segundas, intituladas “Do Município à Autarquia: facetas de um percurso” terão lugar, no dia 3 de Junho, no mesmo local, e contam com comunicações de: José Tengarrinha, Maria Helena Coelho, Pedro Barbosa, Mafalda Soares da Cunha, Vital Moreira e Fernando Ruivo, este último a confirmar.

As primeiras Jornadas encerraram com um agradável Serão Poético dos Poetas do Concelho e as segundas com Poetas Populares do Concelho.

No Mês de Maio, será o Mês das Artes, Idanha-a-Nova, após convite formulado antecipadamente aos artistas, será visitada por reconhecidos pintores, escritores, poetas, escultores, cineastas e fotógrafos que irão deambular pelo Concelho e criar algo que depois será exposto no Centro Cultural Raiano.

A Autarquia irá lançar um programa inovador de mecenato cultural: “Programa Anual de Residência para Artistas”, para o que promoverá um concurso internacional aberto a todos os artistas para os acolher, durante duas ou três semanas, em apartamentos da mesma.

As comemorações do Dia Nacional dos Castelos, promovidas pela Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, em 7 de Outubro, ocorrerão no Município.

 

 

 

PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL

Mundial de acordeão em Castelo Branco

A Copa Mundial de Acordeão vai disputar-se em Castelo Branco, no próximo mês de Outubro, sendo a primeira vez que decorre no nosso país. O Conservatório Regional de Castelo Branco é a entidade responsável por trazer o evento até à capital de distrito, onde estarão presentes os melhores intérpretes mundiais. Castelo Branco, que através da Escola Superior de Artes Aplicadas, possui o único curso superior em acordeão, reforça a sua posição liderante nesta área, podendo mesmo contar com a presença de Carisa Marcelino, estudante na Esart, na competição.

Aquela iniciativa, que assinala também os 70 anos da Confederação Internacional de Acordeonistas, “já há algum tempo que vinha a ser perseguida pelo Conservatório Regional de Castelo Branco. E o facto de haver muitos alunos na cidade e desta possuir o único curso superior de acordeão do país, terá sido importante na escolha”, explica Carlos Semedo, um dos impulsionadores da realização da prova, enquanto esclarece que na organização do evento tanto a Câmara de Castelo Branco, como a Esart já manifestaram o “seu apoio”.

A grande divulgação da Copa Mundial de Acordeão começará já em Maio, durante o Festival Primavera Musical, onde os russos Nicolay Sivchuk e Alexei Peresdly (vencedores da prova em edições anteriores) irão participar. “Aproveitaremos a sua presença cá, para promovermos um encontro com esses músicos. No fundo os seus concertos serão uma anteestreia da prova”, diz Carlos Semedo.

Cristina Lima, directora pedagógica do Conservatório de Castelo Branco, encara a realização da Copa Mundial com bastante satisfação. “É uma honra podermos acolher uma actividade de nível mundial, não só para o Conservatório, mas também para a cidade, que tem larga tradição no ensino deste instrumento, possuindo já alguns prémios”. No entender de Cristina Lima “vão estar em Castelo Branco os melhores acordeonistas do mundo”. 

COPA. A Copa realiza-se todos os anos em países diferentes, e a hipótese de Castelo Branco começou a ganhar forma há alguns anos. Paulo Jorge recorda que o desafio partiu de “Carlos Semedo, que aproveitando o facto de eu ser júri, colocou esta hipótese. Fizemos a nossa proposta e eles aceitaram-na”.

Em Castelo Branco vão estar os melhores 100 instrumetistas do mundo. “Certamente que teremos aqui participantes russos, da ex-Juguslávia e de outros países com tradições no acordeão”, diz Paulo Jorge, membro do júri, docente no Conservatório e na Esart e membro da organização. Castelo Branco também deverá estar representado com Carisa Marcelino, estudante da Escola Superior de Artes Aplicadas e ex-aluna do Conservatório, que no dia 17 de Julho, participará numa prova de apuramento. 

CARISA. Carisa Marcelino (na foto) é aluna do segundo ano da Escola Superior de Artes Aplicadas e, provavelmente, será a única candidata albicastrense a participar na Copa Mundial de Acordeão, na categoria sénior. No dia 17 de Julho participa nas provas de apuramento e tudo aponta para a sua admissão. “Na classe sénior o nível de exigência é outro. Por isso, o importante é o trabalho que tenho que fazer até lá”.

Antiga aluna do Conservatório Regional de Castelo Branco, para onde entrou com 10 anos, Carisa Marcelino já participou em edições anteriores na prova, embora na categoria júnior. Mesmo não chegando ao pódio, a jovem estudante obteve um nono lugar, em 2001, na Inglaterra, e um 10º posto, em 2002, na Dinamarca.

Internamente, a jovem de 19 anos, natural de Escalos de Baixo, sagrou-se campeã nacional de acordeão, também na categoria júnior, numa prova disputada em Alcobaça, tendo ainda obtido um segundo lugar no concurso Ibérico, também disputado em Alcobaça.

A sua preparação para a Copa Mundial vai obrigar a muitas horas de trabalho. “Vou ter que treinar cerca de sete a oito horas por dia, o que em tempo de aulas é mais complicado. Mas como nos meses que antecedem o concurso não há aulas, terei mais tempo para fazer um trabalho intensivo”, explica Carisa Marcelino, que tem Paulo Jorge como professor.

 

 

 

CONSERVATÓRIO REGIONAL DE CASTELO BRANCO

30 anos a formar músicos

Tem 30 anos e é uma das escolas de músicas mais credenciadas no País. O Conservatório Regional de Castelo Branco, hoje com 200 alunos (20 dos quais em Idanha-a-Nova), 25 docentes e 14 cursos de instrumento, tem-se distinguido pela inovação e pelos projectos desenvolvidos. No entender de Cristina Lima, directora pedagógica da instituição, “o Conservatório é uma referência, em termos musicais, há muito tempo. As melhores pessoas para aferirem isso não somos nós, mas sim outras, como o Ministério da Educação, as outras escolas de música e todos aqueles que aqui se formaram e que estão espalhados por todo o país”.

A antiga directora do Conservatório, Maria do Carmo Gomes, também é recordada por Cristina Lima como alguém que deu o seu contributo para que a escola albicastrense hoje seja considerada como uma das melhores. Mas o Conservatório soube inovar e acompanhar os desafios da educação. Lançou novos projectos, novos cursos e durante largos anos foi o único pólo cultural da região, no que à música diz respeito. “Aprender música hoje, não é o mesmo que há 30 anos atrás. Nessa altura Castelo Branco era um deserto nesta área, pois apenas existia o Orfeão e a Orquetra Típica. Foi preciso trilhar caminho e desenvolver novos projectos”, explica Cristina Lima.

A directora pedagógica do Conservatório lembra que “a escola foi-se diferenciando de modo a responder aos desafios dos jovens. Criaram-se projectos como o Crescer com a Música, que já leva 11 anos e que tem formado todas as crianças do 1º ciclo, ou o Primavera Musical, um festival que tem lutado com tantos problemas e que é uma referência cultural para a Região. Esperemos que a nossa criatividade nos leve a apresentar mais projectos, de modo a respondermos àquilo que a sociedade precisa”.

 


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