GENTE & LIVROS
Chico Buarque
«Cheguei a uma prateleira repleta de grossos volumes, corri os olhos pelos títulos húngaros em seus dorsos e tive a visão de uma biblioteca deveras desorganizada, caótica. Depois observei melhor, e as capas estavam todas alinhadas, as letras é que pareciam fora de ordem. Por isso me chamou a atenção o livro mais modesto, mas com um título legível: Hungarian in 100 Lessons. (...)
Então percebi a moça alta com uma mochila nas costas que olhava o livro em minhas mãos e abanava a cabeça.
(...) E quando ela afirmou que a língua magiar não se aprende nos livros, fiquei pasmo, porque a sentença me soou perfeitamente inteligível».
In Budapeste
O compositor, intérprete, poeta e escritor Francisco Buarque de Hollanda nasceu a 19 de Junho de 1944, no Rio de Janeiro. O pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda e a mãe, a pianista amadora Maria Amélia, levam o pequeno Chico - de dois anos de idade - para São Paulo. Na Rua Haddock Lobo decorre a sua infância .Ouvia muito rádio e tinha um álbum de recortes com fotografias de cantores. Aos 15 anos escuta Chega de Saudade de João Gilberto e adopta de imediato essa música, como inspiração para a vida.
Estuda no colégio de Santa Cruz, destaca-se nas aulas, mas principalmente no futebol, nas crónicas que escrevia para o jornal da escola, nas “batucadas”.
Após concluir o liceu, entra na Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que só frequenta até ao 3º ano. O abandono é motivado devido à turma, pois a “turma” gostava mesmo era de samba e cachaça.
Chico Buarque concorre em 1966 ao II Festival de Música Popular Brasileira (MPB) com a marcha, A Banda, interpretada pela cantora Nara Leão. A canção vence o certame e música e músico ficam conhecidos em todo o Brasil. Tempos volvidos seria identificado igualmente por temas como Roda Viva, Sabiá, Carolina, Benvinda, Bom Tempo. A inspiração de Chico Buarque tornar-se-ia fundamental para tudo o que é feito musicalmente no Brasil até aos dias de hoje.
O dia 31 de Março de 1964 marcava o inicio da ditadura militar no Brasil e a censura levava à prisão dos músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em 1969 Chico Buarque parte com a companheira, Marieta Severo, para um exílio em Itália onde permanecem quase um ano. De volta ao Brasil, algumas das suas peças de teatro e composições têm problemas com a censura, o que levou Chico Buarque a criar o pseudónimo de Julinho de Adelaide para assinar algumas das suas músicas como Acorda Amor e Jorge Maravilha.
Escreve para teatro Roda Viva (1968); Calabar (1973); Gota d‘Água (1975), em parceria com Paulo Pontes; e a Ópera do Malandro (1978), que inspirada numa obra de Brecht é a sua peça mais famosa. É também autor da novela Fazenda Modelo (1974); a pensar no público infantil, lança o disco Saltimbancos (1979) e o livro Chapeuzinho Amarelo (1979).
Com o fim da ditadura, em 1985, Chico Buarque podia com mais liberdade, fazer o que sempre fez melhor, criar. Paralelamente à sua bem amada música lança-se numa incursão, bem sucedida, na escrita de romances: Estorvo (1991) é traduzido para 10 línguas; Benjamim (1995), publicado em sete idiomas; e Budapeste (2004), considerado o seu melhor romance.
Budapeste. José Costa é um ghost writer, escreve por encomenda, e, sem assinar, toda a espécie de textos. Quando visita Budapeste fica de imediato ligado à cidade, e, aprender a falar húngaro torna-se uma obsessão. O escritor estará disposto a trocar de país, de família, de língua e até de nome para o aprender uma língua tão
exigente?
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