Crónica escusada

Vêm a lume notícias sobre a liberdade de pensamento e expressão como já não se ouviam há muito. A substância é preocupante. Tanto, que muitos de nós empenhamos a própria liberdade, durante décadas, para que em Abril, por fim, todos dela pudéssemos usufruir. Ponto Final.
O Necas, meu alter ego quando me convém, pediu escusa, quer dizer, a seu pedido deixou de emitir qualquer opinião, esclarecimento ou crítica sobre o assunto Marcelo/TVI/Governo. Falarei então sem filtro, que é como quem diz, sem rede.
Em primeiro lugar isto não é sério ou, dito de forma menos drástica, não é, não pode ser a sério. Desde logo porque o governo ou quem por ele não pressionou, a TVI não demitiu e o próprio ri-se sem queixa ou mágoa.
Então a que assistimos realmente? Que fenómeno é este que mobiliza e inquieta os portugueses de todos os quadrantes políticos?
A verdade é que o tema é caro para quem cultiva valores democráticos e este episódio provoca recordações amargas a muita gente boa. A mediatização de primeiras páginas, por seu turno, deixa transparecer que se trata de coisa inaudita, não se tratasse de quem se trata.
Porém, infelizmente, é tema corriqueiro, mas anónimo.
O direito ao contraditório é uma invenção político - jurídica e uma enorme camioneta de areia despejada sobre os nossos olhos. Vivemos numa sociedade de classes sociais com interesses antagónicos e isso é tudo.
Em segundo lugar, o imbróglio não passa duma farsa em segunda mão.
É que nesta sublime democracia de que falam os principais figurões é preciso acrescentar que os cidadãos não votam. Tudo é preparado de modo a parecer real, tipo menu surpresa, onde o cozinheiro mistura os temperos conforme o gosto (dele), dando ao prato o aspecto suculento q.b. e depois enfeita com salsa ou outra erva que possa adaptar-se melhor às circunstâncias.
Se o chefe queima a língua ao provar a receita, o mais provável é largar o prato na pia do esgoto e gritar: próximo!

João de Sousa Teixeira
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