Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº81    Novembro 2004

Dossier

JOSÉ LUÍS RAMALHO TEM CERTEZAS E APOIO

Beja terá pólos de excelência

O Politécnico de Beja vai ter um conjunto de pólos de excelência onde será desenvolvida investigação nas áreas de energia e de aeronáutica, o que potenciará o aproveitamento de investimentos como o Alqueva ou o aeroporto, além de formar quadros nessas áreas, além de responder com investigação e formação noutras áreas em que estejam a ser perspectivados investimentos.

Esta é, pelo menos, uma das linhas de força do plano de desenvolvimento da instituição, que acaba de ser apoiado com cerca de 12 milhões de euros, onde se inclui a construção das novas instalações da Superior de Tecnologia, a renovação da Agrária em termos de equipamento e ainda uma nova residência de estudantes, a juntar à recente ampliação da Superior de Educação. Obras que mudam as responsabilidades de uma instituição que neste momento tem cerca de 3600 alunos.

O apoio concedido pelo Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior deixa agradado o presidente do Politécnico, José Luis Ramalho, que fala agora com mais certezas e convicções do futuro da instituição. De caminho, fala também da reformulação das formações no Ensino Superior, mostrando-se agradado com a lógica do 3+2, ou seja, de um primeiro ciclo, de licenciatura, com a duração de três anos, e um segundo ciclo, de dois anos, equivalente ao mestrado.

O garantir do novo edifício da Escola Superior de Tecnologia e Gestão é um marco na história do Politécnico?

Efectivamente. A Estig tornou-se um desafio, pois cresceu rapidamente e tornou-se a maior do Instituto, mas cedo nos apercebemos que não podíamos criar novos cursos, dada a inexistência de condições físicas. A prova é que, ao nível dos laboratórios específicos, tivemos de tomar a opção dolorosa de, entre não os ter, ou de os instalar em espaços menos dignos, optámos pela segunda hipótese. Depois conseguimos o terreno para a escola, mas a situação financeira do Estado não tem permitido avançar com a obra. Apesar disso, e contra algumas vozes internas que referiam a não necessidade da escola, uma vez que o número de alunos estava a diminuir, reagimos e reafirmámos a importância da obra. Uma posição tomada porque assumimos a bandeira do Interior, porque não cruzamos os braços perante as dificuldades.

O processo para garantir as verbas foi muito complicado...

Fomos falar com a senhora ministra, fomos à Assembleia falar com os partidos, jogámos mãos a tudo. Infelizmente, o nosso distrito tem apenas três deputados, pelo que temos de ser nós a mobilizar, a pressionar. Conseguimos assim o contrato-programa para uma escola original, de projecto único, que assenta num pórtico de mais de 50 metros, com anfiteatros por cima.

O Politécnico contou com o apoio efectivo das outras forças vivas do Distrito?

Sim. Foi muito agradável. Quando disse que não concebia que a escola não fosse considerada em Piddac, mantive a posição mesmo depois de ser publicada a proposta do documento. Aí apercebi-me que a própria comunicação social do Distrito assumiu que a construção da escola não era uma questão do Politécnico, mas uma questão regional, em torno da qual as pessoas se deviam unir. O Interior também tem direito a exigir coisas de qualidade e se há falta de alunos, essa falta ocorre em toda a parte. Ou então que se assumisse politicamente que só voltamos a ter ensino superior apenas no Litoral.

De que forma é que o contrato-programa se vai reflectir na Superior Agrária?

Conseguimos cerca de três milhões de euros para a escola, os quais se destinam a renovar equipamentos como as roulotes, o tractor, além de serem criadas infra-estruturas para regadio e para a agricultura biológica. Queremos criar espaços de intervenção, espaços de diálogo com a comunidade. Para isso, temos que investir. Em Portugal fala-se muito da qualidade, de ideias muito bonitas no campo teórico. Mas depois não criamos condições práticas para que as ideias se realizem. Agora, com os apoios, o desafio para a Superior Agrária e para os seus dirigentes, uma vez que a comunidade lhes vai fazer exigências, uma vez que há condições para aumentar a oferta em termos de investigação, de prática, do saber-fazer.

O Politécnico alargou a Escola Superior de Educação e vai também construir uma nova residência...

A nova residência é um projecto iniciado no ano passado, mas sofreu algum atraso, dado que é financiada por verbas comunitárias, mas ainda só recebeu verbas da comparticipação nacional. Porém, a senhora ministra disse-me que a situação está desbloqueada. Se a obra ficar concluída em Junho ou Julho, já fico satisfeito. A obra da ESE deveu-se ao aumento do número de alunos. Realizámo-la com as verbas das propinas, mais 150 mil euros que nos foram atribuídos em Piddac, de forma a garantirmos a comparticipação nacional. Ali funcionam também cursos de artes e poderá até ser o embrião de uma escola nova.

Mas está na perspectiva do Politécnico criar uma Escola de Artes?

Não. É preciso termos consciência da nossa realidade. Estamos numa zona de fraca densidade populacional. Além disso, qualquer escola que venha a ser criada aqui terá que ser sempre à custa de alunos que vou tirar de outra. Se criar uma Escola de Artes, tiro alunos à ESE. Agora é evidente que, a médio prazo, com a Superior de Educação bem consolidada, com outros cursos, será possível criar a Escola de Artes, até porque uma escola deste tipo deve ter poucos alunos. Do mesmo modo, poderia criar uma Escola de Gestão ou uma Escola de Turismo. Não digo que não se faça, mas neste momento não está no nosso horizonte.

No plano de desenvolvimento foram referidas áreas em que o Politécnico terá de investir, nomeadamente na aeronáutica e na energia. De que forma é que tal vai ser feito?

Estamos a trabalhar com o Ministério, com a Fundação da Ciência e da Tecnologia, no âmbito das regiões do conhecimento. Nesse âmbito, temos um plano, que ainda está a ser discutido, o qual visa criar um consórcio tendo em vista o estabelecimento em Beja de alguns centros de investigação, em parcerias com outras instituições de Ensino Superior portuguesas e estrangeiras. No caso da aeronáutica, esperamos trazer especialistas estrangeiros ou portugueses a residir no estrangeiro e que podem vir aqui desenvolver investigação na área, aproveitando a existência do aeroporto de Beja.

De que forma é que o projecto das regiões do conhecimento se poderá reflectir na região?

A ideia é que a médio prazo seja possível saber quais são as áreas de investimento desejáveis, aquelas em que há investigação desenvolvida, a qual poderá ser disponibilizada para possíveis investimentos, mas também ter quadros formados que possam ajudar a consolidar esses investimentos. Daí a articulação que tem de existir entre o Instituto e toda a estrutura que vai coordenar as regiões do conhecimento.

Essa estratégia não implicará uma melhor organização da rede de Ensino Superior em Portugal?

Sempre defendi que a rede de Ensino Superior é indispensável para a sobrevivência das instituições. Já no tempo do professor Pedro Lynce fui dos primeiros a encerrar cursos. Desloquei-me à Universidade de Évora, referi os cursos que ia encerrar e pedi para me informarem do que pensavam fazer. Da Universidade não me disseram absolutamente nada, fizeram o que quiseram e foram abrir cursos que existiam em Beja. Não houve coragem política para dizer que essa situação era de evitar. Ora, isto não é rede.

Mas a relação com a Universidade do Algarve é melhor...

Temos uma excelente relação com a Universidade do Algarve, com respeito mútuo entre direcções, docentes e unidades orgânicas. Temos por isso uma rede acordada com o sul do País. Infelizmente, a norte de Beja, isso é impossível. A prova é que temos vários tipos de mestrados com a Universidade do Algarve, que funcionam nas duas instituições, e com vários docentes a leccionar nas duas instituições. Apesar disto, não sou ingénuo e sei que quem faz estes acordos são as pessoas, não são as instituições. Logo, aquilo que é excelente com o professor Pimpão, não quero dizer que o possa ser com outra pessoa.

Os quatro cursos novos que o Politécnico de Beja abriu este ano são novidades nacionais. Há outras em perspectiva?

Sim, para o ano aparecerão mais. É nisso que temos de apostar. O problema em Portugal é que, quando surge um curso que tem muita procura, todas as instituições o querem abrir, independentemente de terem, ou não, as condições para o fazer. Isso não pode ser. Importa dizer que cada vez mais, temos uma procura regional. Logo, se na região tenho o Porto de Sines, o Aeroporto e o Alqueva, tenho de criar cursos específicos nestas áreas. Tal não implica que venham alunos de outras regiões e que regressem às suas origens após o curso, mas o curso é direccionado para a região. É aqui que precisamos de mão-de-obra qualificada para responder a investimentos.

Neste momento já há empresários interessados em investir em Beja?

O 11 de Setembro mudou a situação, mas estava tudo acordado, primeiro com dinamarqueses e depois com americanos, que consistia em criar um curso específico para uma empresa que vinha aqui estabelecer-se. Ora, o Ensino Superior tem de responder a estas questões regionais. Não era um curso para funcionar eternamente, mas talvez durante quatro, cinco ou seis anos.

O Politécnico tem prevista a realização de mais cursos de especialização tecnológica?

As propostas estão no Ministério e poderão ser aprovadas ainda este ano. Acontece que na área da agricultura não existem esses cursos e nós propusémo-los. Vamos tentar que avancem ainda no segundo semestre.

No Dia do Politécnico de Beja foi apresentada como mais viável uma solução de dois ciclos de Ensino Superior, um de três anos e outro de dois. Agrada-lhe esta solução?

A mensagem não é fácil de passar, mas ficou provado que é fácil ter uma formação de banda larga em três anos, chame-se o ciclo de bacharelato ou de licenciatura. Penso que a solução do 3+2 é evidente e a do 4+1 está posta de parte. A oposição vai existir, mas as pessoas têm de pensar que não serão necessários quatro ou cinco anos para formar um engenheiro.

Esta alteração vai obrigar a um trabalho árduo por parte das instituições...

Vai dar um trabalho considerável. Os professores vão ter de se convencer que não vão ter as cargas horárias que tinham nos planos curriculares. É necessário criar os primeiros ciclos e os segundos, sendo certo que o Ensino Superior em Portugal não vai ser o mesmo depois da introdução de Bolonha.

Os politécnicos estarão mais preparados para Bolonha?

Nesta perspectiva da integração na vida activa, os politécnicos estão mais preparados. Pelo menos têm a obrigação de o estarem, o que prova que o futuro passa por apostarmos cada vez mais na nossa especificidade, o que nem sempre foi feito.

 

 

 

CÂMARA DE BEJA E GOVERNO CIVIL EM SINTONIA

Poder local ao lado do Politécnico

“A Câmara esteve na génese do aparecimento do Politécnico em Beja, tendo cedido gratuitamente os terrenos. Acompanhámos depois a sua evolução e temos dito sempre que a existência desta instituição é fundamental para o desenvolvimento da região e para a sua promoção”. A opinião é do presidente da Câmara de Beja, José Correia Marques, segundo o qual é pena que só agora os governos comecem a ter mais atenção ao Politécnico.

Em sua opinião, Beja é uma pequena cidade do Interior, a qual “não dá votos”, pelo que “os vários governantes que têm passado pelo País não têm olhado suficientemente a sério para o Politécnico de Beja”, uma situação que “parece começar a mudar”, com o financiamento do plano de desenvolvimento da instituição, onde se destaca o novo edifício da Estig.

Entende por isso que começam a estar reunidas as condições para que a região possa ser desenvolvida. Além dos novos cursos, “como o de Protecção Civil, que é fundamental para a região”, e da abertura a novas áreas, como a de Aeronáutica”, que considera muito importante, a instituição será agora “um pólo dinamizador, não só de conhecimento e inovação, mas também de fixação de pessoas na região”.

Uma fixação que poderá ser potenciada com investimentos como o Alqueva, o aeroporto de Beja e o porto de Sines, que não está tão afastado como se pensa. “Esses são factores anunciados como pólos de desenvolvimento. Sines está mais distante, mas é no Alentejo. O Alqueva e o aeroporto pressupõem novos investimentos, mas também uma política integrada entre si e nas áreas do lazer, turismo, agricultura, abastecimento de água e conhecimento”.

Esses investimentos, “a par do Politécnico, serão os grandes vectores do desenvolvimento da região”, estando a instituição de Ensino Superior no centro do processo, pois, “é dela que saem o conhecimento, a tecnologia, a inovação”. A juntar a estes factores estão as acessibilidades, como o IP8 (previsto para 2007) e do IP2 (com novas variantes a Beja), os quais terão quatro faixas de rodagem a ligar a cidade à auto-estrada.

GOVERNO. O Governador Civil do Distrito de Beja considera que o Instituto Politécnico de Beja é o grande motor de desenvolvimento da Região. Em declarações ao Ensino Magazine, aquele responsável começa por referir que “o IPB tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento da Região. Eu próprio posso testemunhar isso, pois fui docente numa das escolas, sou empresário, pelo que o Politécnico terá, cada vez mais, um papel mais presente pois vai consolidando outras necessidades que até agora têm sido urgentes, como o seu corpo docente e as estruturas físicas”.

Para João Paulo Ronôa, chegou a altura do IPB dar o passo seguinte. “Em conjunto com o presidente do Politécnico temos desenvolvido esforços nesse sentido, e para breve vão surgir algumas novidades que vão permitir a que o Politécnico se venha a afirmar como um centro de excelência dinamizador de toda a região”. Algo, que no entender do Governador Civil de Beja, é “uma exigência que se coloca a toda a comunidade científica, para que apoie o tecido empresarial e desenvolva outras iniciativas. É impensável numa região onde, no IPB, estão concentrados cerca de 300 docentes – com o que isto significa de capacidade de desenvolvimento -, e este se confinem a ensinar os 3800 alunos”.

 

 

 

GRAÇA CARVALHO COM BOAS NOTÍCIAS

12 milhões para o IPBeja

A ministra da Ciência e do Ensino Superior acaba de assinar um contrato de desenvolvimento institucional com o Politécnico de Beja, ao abrigo do qual a instituição recebe uma verba da ordem dos 12 milhões e 300 mil euros, que irá aplicar em diversos fins, sendo os mais importantes a construção da Escola de Tecnologia e Gestão, as parcerias com outras instituições para o desenvolvimento de áreas de aeronáutica, energia e ciências agrárias, bem como a formação ao longo da vida, os cursos de especialização e serviços a prestar ao tecido empresarial da região.

O contrato foi assinado no passado dia 5, no Dia do Politécnico, após o que a ministra o considerou fundamental porque permite desenvolver áreas do conhecimento que se relacionam directamente com o Alqueva, o Aeroporto de Beja e o Porto de Sines, pelo que contribuirá para que Beja “seja uma das regiões baseada no conhecimento, para atingir um desenvolvimento de excelência”.

Graça Carvalho falou mesmo no Plano de Inovação do Alto Alentejo, desenvolvido à semelhança do que foi realizado na região da Andaluzia (Espanha) e considerou que “o Politécnico de Beja desempenhará um papel importante, em parceria com as outras forças vivas”.

Para tal, afirma que há um conjunto de desafios a cumprir, sendo um deles o da internacionalização. “Por que razão não podemos ter aqui cursos que possam atrair alunos de toda a bacia do Mediterrâneo?”, perguntou a governante. De caminho, apontou como desafios a organização de cursos de especialização tecnológica, a integração de projectos e o desenvolvimento de parcerias e a melhoria da acção social escolar, o que já está a acontecer em Beja, pois estão em curso as obras da segunda residência de estudantes, com 133 camas, que custará dois milhões de euros.

BOLONHA. Em relação às implicações de Bolonha, a ministra refere que o Decreto-Lei para aplicação do sistema de créditos europeu está pronto e vai a Conselho de Ministros, referindo que os politécnicos terão um papel importante em termos do primeiro ciclo do Superior, uma vez que “a maior parte dos jovens deve ter o 1º Ciclo do Superior voltado para o mundo do trabalho”. Adiantou ainda a mobilidade que o espírito de Bolonha potencia, falando numa mobilidade de alunos e professores entre Litoral e Interior, entre universidades e politécnicos.

Maria da Graça Carvalho apontou ainda como grandes medidas do Ministério a adequação da oferta formativa às necessidades do país, atraindo os alunos para as ciências, artes, saúde e tecnologias, a realização de cursos de especialização tecnológica, a reconversão de licenciados, que se iniciou já e foi “muito bem sucedida”, mas que continuará com outras medidas, que visam a inserção de mestres e doutores em empresas, o incentivo à realização de mestrados e doutoramentos em ambiente empresarial e incentivo aos jovens que criem pequenas e médias empresas, sobretudo no Interior.

A ministra abordou ainda o Plano Ciência e Inovação, que assenta em quatro vectores, como o aumento do investimento público, aumento do investimento privado, aumentar o número de investigadores portugueses para 5000 até 2006, além de criar condições para que esses investigadores possam desempenhar a sua actividade nos sectores público e privado
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