
Escola que aprende
Com a qualidade a que nos habituou o professor António Trigueiros, a Associação Nacional de Professores organizou, em Castelo Branco, durante este mês, mais uma edição das suas já históricas Jornadas Pedagógicas.
O evento, que noutro local merece notícia mais detalhada, reuniu um conjunto de investigadores, portugueses e espanhóis que, a pretexto de discutirem o papel das tecnologias da comunicação e da informação na escola, chamaram ao debate um conjunto pertinente de temas e problemas que envolvem, na actualidade, a educação em Portugal.
Foi um espaço propiciador de uma reflexão de excelência, muitas vezes espontânea, quase sempre partilhada, onde as quase três centenas de participantes talvez tenham podido assistir a momentos irrepetíveis e marcantes da sua auto-formação e do seu percurso pessoal e profissional.
Embora se saiba que existem demasiadas investigações sobre a incorporação da tecnologia no processo de ensino e de aprendizagem que apontam para resultados muito moderados, se comparados com o esforço de investimento na sua implementação. Embora se repita que há muitas pesquisas que continuam a revelar a existência de boas e de más experiências educativas, com e sem o recurso à tecnologia, todos os especialistas reconhecem que, quando está em causa o uso e manipulação das tecnologias digitais, nenhum aluno deve ser deixado para trás, já que a globalização e a sociedade da informação são irreversíveis e, logo, a ponte para voltar para trás há muito que foi destruída.
Existe, porém, um grande desafio que se coloca à escola, às famílias e aos educadores: o de saber integrar as tecnologias digitais num ambiente educativo, não permitindo que sejam usadas como instrumentos de contra-cultura. Para que essas tecnologias digitais promovam as mudanças esperadas no processo educativo, devem ser usadas não como simples máquinas para ensinar ou aprender, mas como ferramentas pedagógicas que criem um ambiente interactivo que proporcione ao aprendiz, face a múltiplas situações problema, investigar, levantar hipóteses, testá-las e redefinir as suas ideias iniciais, construindo, assim, o seu próprio conhecimento.
Infelizmente, há um imenso abismo entre o conhecimento tecnológico que possuem os professores e a sua relação e implicação com a prática pedagógica. Para muitos a tecnologia é a simples utilização da máquina. Por sua vez, muitos alunos dominam de forma mais eficaz as tecnologias da comunicação do que a generalidade dos professores.
Revela-se então necessário diminuir esse fosso digital. Isto é, antes de ensinar a aprender com as tecnologias, urge que o educador aprenda a utilizar e a ensinar com essas tecnologias. A incorporação dos instrumentos de processamento digital na educação exige, pois, a aprendizagem de um novo conjunto de competências no uso pedagógico dessa tecnologia.
É que o uso acéfalo da máquina pode transformar-nos em globalmente estúpidos e em globalmente iletrados. E é bom que o debate se prolongue nas nossas escolas se não queremos que todo este investimento em capital tecnológico se transforme no maior mito do século XXI, por défice de investimento no capital humano.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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