Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº75    Maio 2004

Opinião

Batoteiros

Cada vez mais me convenço que um dia todo o currículo que se preze conterá se se esteve preso, detido preventivamente ou arguido de qualquer processo. De facto, desde portageiros a deputados, de dirigentes desportivos a agentes de autoridade, de médicos a autarcas, de figuras públicas a sei lá que mais é um quase diário corrupio de interrogatórios, suspeitas e acusações, para gáudio dos média que se pelam por este maná de informação e mal da tão falada nacional-depressão.

Em Abril não falei de Abril. Falo em Maio porque em Abril de setenta e quatro houve uma Revolução que não coube em um só dia ou num só mês. E falo em Abril para colocar uma questão muito simples: será que trinta anos depois da libertação do povo português se evoluiu para um país de criminosos e corruptos? Ou será que se perdeu completamente o norte e nada ou muito pouco do que vivemos hoje tem a ver com a Revolução de Abril?

Não creio na superior clarividência ou abundância de meios de investigação dos actuais agentes judiciais em comparação com as gerações anteriores, como não se entenderia um extremoso surto de preocupação social da maioria de serviço, relativamente às que a antecederam. Isto é, sigo o conselho segundo o qual nem tudo o que parece é, e que Deus me conserve esta ideia.

Não há dúvida que nos dias de hoje o cidadão comum está particularmente receptivo ao escândalo, à chocalhice, ao descobrir de argueiros nos olhos dos vizinhos. Esse estado contigente da sociedade portuguesa dá origem à assimilação destes fenómenos como forma de catarse dos seus próprios males, da sua vida cada vez mais sofrida e da sua desilusão face à esperança de dias melhores. E é aqui que pode encontrar-se melhor explicação para as novelas acima enunciadas. Com efeito, a evolução da sociedade para modelos contrários aos interesses e anseios das populações, as constantes usurpações de direitos das camadas trabalhadoras, os caminhos seguidos contrários às legitimas aspirações da maioria, é a receita ideal. E esta receita tem décadas. Sabemo-lo por todos os governos que chegam por culpa dos anteriores. Por isso se degrada a sociedade e os seus valores, por isso parece não fazer sentido celebrar Abril.

Este Portugal que hoje temos não é uma fatalidade. É antes o produto dos faz de conta, que não se sabe bem onde estavam no 25 de Abril, alguns a contas com a justiça mas não todos.

Fechando o círculo, que é como quem diz, voltando à vaca fria, sempre direi que tenho as minhas dúvidas sobre os actuais e mediáticos combates ao crime e aos criminosos mais ou menos seráficos. Digo-o para manter a massa cinzenta em estado de alerta, não se vá dar o caso de tudo não passar de uma cortina de fumo para males maiores e de que ainda não há notícia.

Quem não tiver dúvidas ponha as mãos no ar.

João de Sousa Teixeira

 

 

 

MEDICINA DAS LETRAS

Fantástico Gelsenkirchen

Está crónica irá sair após o acontecimento... de qualquer maneira fica o registo, o sentimento e a esperança.

Prometi a mim mesmo um dia falar de futebol. As alegrias e as tristezas dos adeptos que acabam por se extravasar para a vida real. No fim de semana passado foi ver os Benfiquistas a comemorar a conquista da Taça de Portugal, o que em meu entender foi merecida. Agora serão os Portistas na esperança de conquista da Liga dos Campeões Europeus. Em Junho serão os portugueses a tentar rejubilar com um bom Campeonato Europeu de Futebol. Ou seja, futebol para dar e vender, futebol que até dá para esquecer que o país está em crise, o desemprego a aumentar, o endividamento das famílias cada vez maior, a guerra no Iraque, etc., etc.

O Clubismo neste país é uma coisa assustadora. São aos milhares os bebés que no dia em que nascem se tornam sócios dos clubes de futebol.

Continua a dizer-se que se pode mudar de tudo menos de clube de futebol. Muda-se de partido, muda-se de mulher, muda-se de casa, muda-se de apetência sexual mas o clube deverá ser sempre o mesmo.

É evidente que a mudança faz parte do desenvolvimento e da vida. Costuma-se dizer que só os burros é que não mudam. Eu mudei, mas foi de clube! e mantive-me fiel a tudo o resto na vida. Até aos meus 19 anos, fui um Benfiquista convicto, hoje Portista vibrante.

Esta mudança não se deve às vitórias do FCP. Ela ocorreu porque no antigo estádio das Antas estava uma placa que não era mais do que o nome do meu tio, engenheiro, professor catedrático e o projectista do estádio Eng. Miguel Resende.

É nesta condição que me irei deslocar à Alemanha para ver a final ao vivo. Espero de lá trazer o caneco, mas se não o trouxer não darei por mal empregue o tempo e o dinheiro gastos nesta aventura. Temos que ter a consciência de que é cada vez mais difícil um clube português chegar tão longe nesta competição, como chegou o Porto. O número de bons clubes europeus agora é enorme e as 2 ou 3 melhores equipas de cada país estão nesta competição. São oportunidades talvez únicas na vida e que devem ser aproveitadas, quando se pode
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Miguel Resende
Miguel Resende é médico
e assina esta coluna mensalmente

 


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