Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº75    Maio 2004

Cultura

GENTE & LIVROS

William Faulkner

«Só o conhecimento, não os lamentos, pode recordar mil ruas selvagens e solitárias. Fogem dessa noite em que ele está caído por terra e ouve os passos derradeiros, (...) depois se deixa ficar deitado de costas, em silêncio, com os olhos abertos enquanto no alto o candeeiro suspenso arde com uma chama constante e dolorosa, como se todos em casa tivessem morrido. Não sabia há quanto tanto estava ali deitado. Não pensava em nada, não sofria. Talvez tivesse consciência de que algures dentro dele os dois fios cortados da vontade e da sensação estavam caídos, sem se tocarem, à espera de se tocarem, de se entrelaçarem de novo para ele se poder mexer.»

In Luz em Agosto


William Faulkner, escritor norte-americano nasceu em 1897, em New Albany, Mississippi, numa família tradicionalmente sulista. O bisavô, o coronel Faulkner, também foi escritor e autor do romance The White Rose of Memphis, um best-seller da altura.

A primeira aventura literária de Faulkner é com a poesia. O livro de poemas The Marble Faun (1924) marca a sua estreia no ofício da escrita.

Decorria o ano de 1925 e William Faulkner parte para New Orleans. Ingressa no círculo literário, em que milita o escritor Sherwood Anderson, e trabalha como jornalista na revista literária The Double Dealer, que publica os primeiros textos de Hart Crane, Ernest Hemingway, Robert Penn Warren e Edmund Wilson. São publicados os seus primeiros romances, Paga de Soldado(1926) e Mosquitoes (1927), sem alcançarem notoriedade ou visibilidade. 

Em 1929, Faulkner regressa com a mulher a Oxford, fixando-se definitivamente por lá. Desempenha alguns trabalhos que nada tem a ver com a escrita - a situação financeira do casal apresenta-se difícil - mas nunca a abandona e o reconhecimento literário chega com O Som e a Fúria (1929). Nos anos seguintes seguem-se os outros romances que haveriam de consolidar a sua carreira: Na Minha Morte (1930); Santuário (1931); Luz em Agosto (1932); Absalão! Absalão!(1936). 

A consagração máxima, o Nobel, acontecia em 1949. Posteriormente A Fable (1954) e os Ratoneiros (1962) ganhavam o Prémio Pulitzer. Mas os Prémios não acalmam uma existência pautada pela depressão e o alcoolismo. E a tranquilidade, William Faulkner só conseguiu com a morte em 1962.

Luz em Agosto. Numa região imaginária do Sul da América vários personagens respiram debaixo da luz crua e implacável de Agosto. Joe Christmas, - que todos acreditam ter sangue negro,- marginalizado por uma sociedade doente de fanatismo religioso e preconceito racista; Joanna Burden, a última descendente de uma família abolicionista; a ingénua e apaixonada Lena Groove, que percorre uma longa distância, - do Alabama ao Tennessee, - em busca do pai da criança que trás no ventre; o falsário Lucas Burch, que foge da família, o honesto Byron Bunch que deseja uma. Homens e mulheres em conflito com o mundo, que procuram, por vezes sem encontrar, a redenção do amor.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Livros

GESTÃO. A Problemática dos Institutos Politécnicos à Luz das Novas Teorias de Gestão, de Agostinho Inácio Bucha, acaba de ser editado na colecção Análise da Acção Educativa das Edições Cosmos. O livro aborda questões relacionadas com a gestão dos politécnicos, numa perspectiva de mudança da economia portuguesa. Criados com o propósito de aproximar o ensino ao mundo, os Institutos Politécnicos desempenham um papel na sociedade portuguesa cuja importância merece ser conhecida, compreendida e estudada. Fazemos coro com o coordenador e autor do prefácio, Luís Barbosa, «Por via do que se disse, trata-se pois de obra cuja leitura vivamente recomendamos».

EUROPA-AMÉRICA. Da colecção Biblioteca Universitária da Europa-América faz parte o excelente ensaio, Músicas da Consciência de Luís Carmelo. Músicas da Consciência, Entre as Neurociências e as Ciências do Sentido, conta com o prefácio de António Damásio que diz : «Carmelo é a raridade no panorama das recentes contribuições sobre este tema. É possível lê-lo com curiosidade, no melhor sentido do termo, mas com uma curiosidade que é acompanhada, a cada momento, pelo facto de se descobrir que ele projecta uma profunda consideração sobre os temas que discute, e que, para além disso desenvolveu uma longa e aturada pesquisa na procura de material, capaz de lhe iluminar as questões que problematiza».

PIAGET. A Construção do Imaginário de Philippe Malrieu. O que explica a imaginação criadora? Poderá a psicologia dar uma explicação racional para esta questão? «O estudo diferenciado dos sonhos, dos mitos, da composição pictórica ou poética, tenta descobrir as estruturas que lhe são comuns; o imaginário surge como o estabelecimento de correspondências entre domínios distinto, como a descoberta de uma analogia a partir da identificação de um sujeito com o eu, graças a um processo de projecção». Um livro cujo interesse o coloca na categoria de absolutamente imperdível.

 

 

 

EDUCAÇÃO ÁS TIRAS

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 


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