Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº76    Junho 2004

Editorial


O Lixo & o Desperdício

Nenhum sistema educativo, nenhuma escola, nenhum educador se pode retro-alimentar do fracasso. Conviria, pois, reflectir sobre os modismos, ou os vários “tiques” que as ciências da educação foram promovendo ao longo das últimas três décadas. Ele foram o trabalho de projecto, os centros de interesse, o trabalho de grupo, a planificação por objectivos, a investigação-acção, as práticas reflexivas… Hoje corremos o risco de afirmar que há um novo tique na educação: as TIC.

Os educadores debateram, detalhadamente, o papel educativo da TV na escola e junto das crianças. Após largos anos de expectativas positivas, o desencanto instalou-se e os menos cépticos não têm qualquer receio de afirmar que a televisão é apenas um transmissor de lixo mediático que nos entra pela casa dentro.

As centenas de horas que os nossos jovens despendem em frente de um computador, ora para partilhar jogos, ora para navegar na Net, podem também resultar num lamentável desperdício, se não forem aproveitadas como aprendizagens significativas, desde logo dentro da escola e dirigidas pelos educadores.

Para que isso ocorra é necessário que os nossos professores manipulem as TIC como qualquer outro instrumento de apoio pedagógico e as escolas estejam equipadas para responder a mais este desafio da sociedade da informação e da comunicação.

Porém, muitos dos nossos educadores não têm qualquer formação para dominar estas novas tecnologias e, muitos outros, fizeram aprendizagens auto-didactas. A generalidade dos pais permite o acesso indiscriminado à Net (curiosamente, já não tanto à TV) porque não sabem, nem imaginam o lixo que por lá circula.

Muitas das nossas escolas só têm um computador para todos os alunos. Mas quase exigem que cada aluno tenha em casa um computador para o serviço da escola. Realizam-se testes de informática de “fato e gravata”, em que os alunos são convidados a descrever, por escrito, o que é um “rato” e um monitor. Solicitam-se trabalhos de casa com Net-consulta, sem que se verifique das condições que cada aluno tem para os realizar, apenas porque fica bem a utilização de mais esta modernice pedagógica.

Muitos empresários e gestores da administração pública reconhecem que a introdução descontrolada das TIC levou a uma inicial quebra de produtividade nas empresas e na administração pública, dado que alguns trabalhadores desperdiçavam um significativo número de horas nos MSN, nos CHAT e nos MAIL. A situação só foi superada após a introdução de mecanismos de controlo e supervisão. E o que se passa na escola e em casa? O que aprendem os jovens quando estão a navegar entre o Net-Lixo e o Web- desperdício? Reconhecemos que as TIC encurtam o mundo. Mas se a globalização for apenas este lixo e este desperdício, então aceitamos os argumentos daqueles que preferem a localização.

Não vale a pena continuar a iludir ou a ignorar estas questões. O educador não pode, nem deve, ser castrador e impedir o acesso ao saber rápido e quase infinito, proporcionado pelas novas tecnologias, tal monge Jorge guardião da biblioteca. As TIC e a informação global são os principais argumentos de defesa da aprendizagem permanente e da formação ao longo da vida. As TIC podem, ainda, prolongar e projectar a escola para comunidades virtuais, ligando um sem número de pessoas num pensar colectivo e flexível, melhorando e aumentando o saber individual e universal. Chegará mesmo o dia em que, tal como se lançam empresas em mercados virtuais, será possível que se criem escolas virtuais, com campos digitais e o aprender ao alcance do bolso.

A tribo da escola vai mudar. Será possível que os educadores permaneçam na mesma?.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt


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