Espaço único Europeu
A Conferência de Ministros responsáveis pelo Ensino Superior, realizada em Berlim, decidiu antecipar, para 2005, o prazo para a constituição do espaço único europeu.
Trata-se de um desafio que não deve ser esquecido por um só dia. À área europeia do Ensino Superior irá corresponder uma área de investigação europeia – European Research Area – que constituirá a base da Europa do Conhecimento. Do Velho Continente deverá emergir uma nova economia com base nesse conhecimento, na investigação multi-partilhada, no uso comum dos potenciais científicos, no permanente estímulo à competição e, logo, na certeira intenção de estancar a fuga dos melhores quadros científicos para outras regiões que mais cedo aprenderam a valorizar o capital humano enquanto recurso número um do desenvolvimento.
Portugal não pode ficar indiferente a esta realidade porque sabe que, historicamente, tem desperdiçado o melhor da sua “massa cinzenta” e do seu capital de conhecimento crítico, pelo que sido um contribuinte líquido de quadros intelectuais que trabalham e produzem o seu melhor saber nos países mais desenvolvidos do mundo. Para exemplo basta-nos a recordação de Jorge de Sena que, acolhido pelas mais prestigiadas universidades americanas, nunca pode exercer a docência na Faculdade de Letras de Lisboa porque… era engenheiro de formação.
Porém, é neste espaço global que nos enquadramos. Por isso, a nossas escolas básicas e secundárias têm que caminhar com segurança, ancoradas no movimento de renovação curricular que nos aproxima da normalização indispensável à movimentação de professores e de estudantes na área europeia de ensino, com o tácito reconhecimento das suas qualificações académicas. E as nossas instituições escolares de ensino superior, têm que impulsionar o apoio a projectos de investigação, enquanto prioridade das políticas científicas e pedagógicas desenvolvidas pelos seus diferentes órgãos de gestão, no intuito de se vencer o atraso, reforçar a ligação ao tecido produtivo e expandir a produção científica, o desenvolvimento tecnológico e a inovação.
A produção científica e a colaboração em redes de pesquisa internacionais podem e devem ser marcos de referência que nos diferenciem nestes tempos de pressões competitivas sem precedentes, porque reúnem os melhores indicadores que apontam as tendências de desenvolvimento e os resultados de cada cultura organizacional.
Consolidar a nossa identidade, mas também a nossa diversidade, deve constituir um compromisso assumido através da colaboração de investigadores portugueses com os seus parceiros dos restantes vinte e cinco países da renovada Comunidade Europeia.
É esta capacidade intelectual colectiva, esta capacidade de criar continuamente, esta intencionalidade de permanente intercâmbio entre conhecimentos tácitos e conhecimentos obtidos, entre capital humano e capacidade organizacional, entre informação gerada e informação conseguida, que gostaríamos de ver revigoradas nas nossas instituições escolares. Instituições que se revissem nas pessoas, na sua produção intelectual, nos seus conhecimentos e nas suas experiências mais gratificantes.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
|