CARRO-MACA
REVOLUCIONÁRIO
Aveiro marca pontos

A Universidade de Aveiro está a produzir cinco novos veículos Mercúrio RGS, o carro-maca desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade, que foi apresentado no Estádio Municipal de Aveiro, no passado dia 20 de Novembro, antes do encontro Beira-Mar/Sporting, e já deixou muitos clubes da Superliga interessados no invento.
Este veículo ecológico, desenvolvido pelo “Mec Team” (um grupo de 10 alunos do 4º e 5º anos de Engenharia Mecânica da UA), destina-se ao transporte de jogadores lesionados nos relvados. O “Mercúrio RGS” já tinha participado num jogo de preparação da época 2004/2005, no amigável Penafiel-Sporting, mas a sua grande estreia deu-se agora num jogo da Super Liga.
O Mercúrio RGS foi totalmente produzido em Portugal. Tem um controlador que pode ser programado consoante as necessidades, o que quer dizer que a sua autonomia pode ser aumentada. Em formato standard, o veículo está preparado para circular cerca de 80km sem necessitar de recarregar as baterias.
“Neste momento estamos a preparar a produção em série. Ao fim de dois meses (preparação da linha de montagem) teremos capacidade para entregar um carro por semana”, avançou Ricardo Beja, coordenador do projecto, adiantando, ainda, que três clubes da 1ª liga já se mostraram interessados, tendo um deles sido já campeão nacional. “Nesta primeira etapa estamos a preparar a produção de cinco veículos”.

NOVO LIVRO DE ERNESTO
CANDEIAS MARTINS
Padre Américo, o
pedagogo social
Abordar o papel do ambiente na educação e formação dos rapazes que entraram na Casa do Gaiato antes e depois da morte de Padre Américo, é o objectivo do mais recente livro de Ernesto Candeias Martins, docente da Superior de Educação de Castelo Branco. Sob o título “O Projecto Educativo do Padre Américo: o Ambiente na Educação do Rapaz, o livro integra a colecção Temas e Debates, e foi apresentado no Palácio dos Arcebispos, em Santo Antão do Tojal, na presença do Presidente da República, Jorge
Sampaio.
Este é o segundo de três livros que o autor se propôs escrever sobre a Obra da Rua levada a cabo pelo Padre Américo, depois de um primeiro, editado pela Alma Azul, onde traçava o percurso do eclesiástico. Já o terceiro volume, que fará a avaliação de 65 anos de existência das casas do gaiato, será apresentado num congresso a realizar em meados de 2005, em Portugal, que abordará a educação social na Europa.
De acordo com o autor, este segundo livro analisa “o projecto educativo de que foi mentor o Padre Américo, concretizado com a criação das cinco casas do gaiato no Continente, mais duas em Angola e uma em Moçambique”. Avança assim uma abordagem aos aspectos educativo-pedagógicos, de educação dos rapazes, a que o autor junta “a vertente mais social do património dos pobres e a assistência a pessoas abandonadas, caso de jovens e de pessoas com deficiência”.
Mas o livro vai mais longe, uma vez que procura reconstruir o pensamento do mentor das casas do gaiato, o que faz numa perspectiva historico-filosófica. Um trabalho que não é fácil, por se tratar de uma figura “muito intuitiva, que fez obra”. Ainda assim, Ernesto Candeias Martins refere que “como todo o saber tem por trás uma construção teórica”, avançou com a tarefa, através de um estudo desenvolvido nas casas do gaiato.
AMBIENTE. No livro é abordado o modelo desenvolvido para a educação e reeducação dos gaiatos, o qual, “para a época, era inovador, uma vez que se distinguia de outros existentes na Península Ibérica e na Europa”. Essa inovação residia na criação de espaços com as características das quintas escolas, onde os gaiatos vivem em família, numa lógica de auto-governo. “Nestas casas não há directores. Até mesmo o padre é como um pai numa família numerosa, assumindo a dimensão espiritual e moral”.
O segundo aspecto inovador reside no “elemento terapêutico do ambiente”, uma vez que as quintas se situavam fora das cidades, em zonas rurais, pelo que “o ambiente natural (contacto com a natureza), o ambiente social e cultural é fundamental para a educação e formação”. Na perspectiva do autor “os rapazes com uma certa desviação social e comportamentos agressivos” têm a possibilidade de entrar nas casas, de observar e conviver, de modo a decidir se fica, ou não. “Ainda hoje é assim. O rapaz é que decide se fica, se aceita as regras”.
Já a missão de formar os rapazes para a vida adulta é apontada como a terceira característica de inovação. “Há escola oficiais do primeiro ciclo em cada Casa do Gaiato, o que ajuda a cumprir o primeiro requisito do modelo do Padre Américo: os jovens não podiam ser analfabetos”. Aliás, os que mostrassem capacidade e interesse, prosseguiam estudos, sempre sem deixarem de cumprir as suas tarefas comunitárias, da alimentação à lavagem de roupa ou limpezas.
Se não tem apetência para os estudos, “pode valer para aprender um ofício, pelo que nas casas existem várias oficinas, como é bom exemplo a tipografia”, onde hoje ainda é impresso O Gaiato e de onde saem profissionais para empresas gráficas. Além disso, todos os gaiatos têm a possibilidade de saírem da casa com a carta de condução de ligeiros e pesados. “Pergunto se isto não é investir no futuro de um cidadão capaz de poder exercer a sua capacidade de inserção na sociedade”.
LIBERDADE. Aos três aspectos inovadores, Ernesto Candeias Martins junta a liberdade e a responsabilidade, considerando que fica assim explanado todo o projecto educativo. A liberdade de acção resulta da organização, pois “as portas estão abertas, inclusive onde dormem. Eles movem-se pela casa como se fosse na sua própria casa, o que ajuda a desenvolver um sentido de pertença, um vínculo”.
Já a responsabilidade “é assumida de forma disciplinar, pois os gaiatos acatam as decisões do chefe, mas se o chefe não decide bem, não será reeleito, uma vez que são eles que o elegem”. Esta responsabilidade é ainda partilhada, uma vez que as tarefas da casa são realizadas por todos, sejam os que as realizam mais depressa ou mais devagar. “Todos as cumprem”.

UMA CARTA DE ESPANHA
Come to Daddy
Falar de Chris Cunningham é comunicar com som e imagem que se conjugam em tom harmónico. O tom que une e separa as duas realidades. Ou melhor, o tom que unifica o irreal e materializa-o numa nova existência visualmente palpável. Um pouco complicado para começar. No entanto diga-se que não há imagem que não percorra cada batida sonora. Ou então, cada som acompanha cada imagem, cada corte. Como queiramos. São ambas premissas verdadeiras e validas. Estamos perante a mais perfeita simbiose sensorial entre os verbos “ouvir” e “ver”. “o som é o que dispara a minha imaginação. Passei toda a minha infância acercado das colunas com os olhos fechados ouvindo música e a imaginar. Assim, tenho uma biblioteca mental de conexões entre imagens e sons”. Apenas uma expressão que dá valor e reafirma que um bom guionista pensa com imagens e sons.
Os sons são muitas vezes aterrorizadores, as temáticas também e, as imagens idem; Ou será o espelho da sociedade que criamos e agora nos ensina e modela? Mas, essa sociedade cosmopolita que nos instrui é conhecedora das suas virtudes mas também dos seus defeitos. Ademais, disseca-nos o pensamento e jamais projectaria, em alguns casos, na tal caixa que virou o mundo, as verdades que este jovem britânico descobriu na sociedade. Uma espécie de véu que nos impossibilita ver a realidade tal como ela é mas apenas como queríamos que fosse. Na verdade ela é crua e dura. – Já o sabemos. Temos é que assumi-la. Mas, vendo por outro molde, como o próprio Chris afirma: “muitas pessoas pensam que os meus trabalhos são terroríficos. Pessoalmente penso que são hilariantes. Terroríficos, para mim, são, por exemplo, os vídeos das Spice Girles”. De facto, existem outras formas de apreciar o corpo humano que não seja através desses clipes exibicionistas, plastificados e embutidos (cada vez menos é certo). Uma salsicharia. Chris Cunningham ama a anatomia. Ama a forma humana e, exibe-a como ninguém. Talvez por isso tenha começado pela pintura e pela escultura, depois introduziu-lhe som e deu-lhe o movimento: - e germinava uma nova de forma de defecar arte com imagens em movimento. Não contente adicionou-lhe a tecnologia como em All is Full of Love, Bjork 1999 que plasma o sentimento do amor mesmo que seja através de andróides robóticos.
Quem não se recorda do clip publicitário da Sony Playstation e da forma como modelou o corpo feminino num ser tanto irreal como materialmente visível? E, colocou-o em frente às câmaras. Entre outros trabalhos mais divulgados refiram-se Only You de Portishead e Frozen de Madonna.
O espectador para sentir esta nova forma de ver terá que “reconsiderar os seus sistemas de percepção e os estereótipos de beleza” como afirmou Xavier Panera
Cuevas.
Não é de estranhar que Chris Cunningham apenas com 19 anos já liderasse a equipa de efeitos especiais de Alian III de David Fincher. Criou também maquetas de andróides com o lendário Stanley Kubrick para o projecto Inteligência Artificial que viria a ser rodado mais tarde por Steven
Spielberg.
Dedica-se agora à direcção de vídeo clipes. Alucinado, impulsivo, fora do comum - as suas obras já receberam prémios e alguém o compreende porque o que vê na tela é um emaranhado de emoções sem estruturas nem regras. Essa é a regra. Essa é a sua mente. Será concerteza um cineasta do futuro. Continuará no passado obscuro apenas para quem não ouviu falar dele; e lá permanecerá nessa idade remota.

Sérgio Pereira
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